O mundo capitalista criou o homem ansioso, fragmentado, com
múltiplas identidades e em processo contínuo
da procura pelo prazer, lucro, poder... Porém o elemento de prazer nem
sempre traz lucro e às vezes o prazer se
distancia do poder. Em consequência da
busca infinita pela satisfação pessoal, cada vez mais o ser humano vive isolado. Para manter a aparência se cerca de amigos
virtuais que riem das piadas sem graça compartilhando da mesma doença
pós-moderna: tédio.
Entediados os homens buscam prazer nas máquinas. Com a mesma
facilidade que eles se encantam com os jogos dos aparelhos celulares, desencantam.
Eles até riem para seus aparelhos quando estão em ação. E se o riso de antes
era de uma jogada errada ou de uma piada ouvida no corredor sobre determinado
tipo de roupa, cabelo, gosto de música... Hoje isso já não é tão engraçado
quanto ontem. É preciso algo mais e mais chocante para despertar o riso,
acelerar os batimentos cardíacos, fazer tremer as pernas, algo que acabe pelo
menos momentaneamente como o tédio que invade muitas vidas.
Porque entediados os homens já não atacam apenas os
inimigos. Aliás, quem é o inimigo de um homem a não ser ele mesmo? As bombas
atômicas, os vírus nos computadores, as escutas telefônicas, as invasões de
privacidade, as chacinas, emboscadas, as balas perdidas... Os homens estão em
guerrilha contra eles próprios. É comum buscar o prazer em situações mais
bizarras, filmar cenas com torturas,
decapitação humana, extermínio em
massa. Imagens de terror, porém com
aceitação e circulação imediata em diferentes canais de informação.
É preciso que algo seja feito para que as pessoas não
mergulhem no mar de lamentações que elas próprias criaram. Escapem das ondas de derrotismos e surfem em
direção oposta. Dançando, namorando, conversando, participando, fofocando... no
entanto dando a oportunidade para seu colega fazer o mesmo. Porque a alegria do
outro deverá ser contagiada, jamais invejada.
A doença da pós-modernidade é opcional, você poderá transformar a sua vida numa enorme piscina e
mergulhar a sua cabeça para não enxergar o que se passa a sua volta ou vestir a sua
roupa de banho e dá um belo mergulho, ao vir a tona você saberá que tem um
mundo maravilhoso a sua espera, um livro
a ser lido, uma conversa interrompida, um beijo não dado, uma mão em busca da sua... porque o tédio
só você é capaz de espantá-lo
para bem longe de você.
E. Amorim
Junho;2014
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