Samuel era rico e poderoso. Sam, como era conhecido pelos amigos mais íntimos, era dono de todo quarteirão. Todos no seu bairro e até os mais distantes tinham por ele uma grande admiração.
Sam apesar da aparência jovial era um ancião, super malhado, mas conseguia despertar os suspiros das mocinhas casadoiras. E diante dele, restavam-lhes tremer as pernas e sonhar:
_Ah, se ele me notasse…
Irreverente, Sam não as enxergava. Estava preocupado em acumular mais riquezas e malhar todos os dias. Até que naquele dia, véspera de natal, ao descer da limousine nas proximidades de uma creche algo lhe chamou a atenção. Enquanto os seguranças tentavam afastar os curiosos e jornalistas, uma figurinha quase surreal se destacava. O frio intenso e a neve deixou a cena mais inusitada.
Sam não consegue parar de olhar para aquela menina magrinha, toda coberta de gelo, encolhida e agarrada um cachorro vira-lata, tão branco quanto ela. O grande destaque era um gorro laranja, luvas vermelhas e óculos grandes e ridículos. Sam nem precisou falar uma palavra. Bastou um olhar para a menina, para que os jornalistas se voltassem para a direção do seu olhar. E ela tornou-se o centro das atenções, como “boneca de gelo”.
_Dr. Samuel, não temos culpa se ela veio encostar aqui. Nós havíamos limpado a área.
_Desculpe-nos Exma. iremos tirá-la daqui.
E Samuel com o dedo apontado para a menina coberta de gelo:
_ I want you…
Os seguranças vão atrás da garotinha bombardeá-la de perguntas. Como ela havia furado o bloqueio, se ela não sabia que aquela área estava cercada, o que ela estava fazendo ali na passagem oficial… E agora ela teria que acompanhá-los, pois a Vossa Exma. gostaria de falar com ela…
_Com… com… comigo!? O tremor na voz era de frio.
Frente a frente com o homem mais poderoso do mundo, a menina não se intimida. Tremendo de frio, sempre agarrada com o seu cãozinho… Com os olhos ativos não esperou ser interrogada. Ela é quem interroga na inocência dos seus 12 anos:
_ O que o senhor… quer de mim?
Samuel não conseguiu segurar o riso. Ele querer algo de uma menina? Não restou alternativa a não ser sorrir, sorrir bastante… E resolveu entrar no jogo dela.
_Eu? Não sei ainda… Estou pensando. Será que quero de você esse cachorrinho? Ou os seus óculos… E você, o que quer de mim?
_Nada. Foi o senhor quem me procurou… Pensei que o senhor queira sorrir um pouco… Eu faço as crianças daqui da creche sorrirem e sonharem quando conto historias para elas…Mas hoje com a sua presença fui dispensada…E elas não vão sorrir.
Aquela resposta desconcertou Samuel. Engoliu em seco, contendo a emoção. Nunca encostara em alguém sem que essa pessoa deixasse de lhe pedir um favor. E aquela menina não pediu nada. Ele poderia dar o mundo de fantasia. Realizar todos os sonhos… E ela é quem oferece sonhos?! Intrigado, revida:
_Como nada?! Você está com vergonha da imprensa? Vou dispensá-la… Com um gesto todos os jornalistas se afastaram. Peça o que você quiser. Vamos, peça! Algo que faça você também sonhar, ser feliz. O quê?
_ Posso pedir mesmo?
_Claro, garota. Não te falaram que sou o Tio Sam?
_E se eu pedir duas, “Tio Sam”?
_ Você pode pedir mil, duas mil coisas… que te darei.
E a menina esfregando as mãozinhas de frio, sacudindo o cabelo para tirar o excesso de neve, com o olhar aflito, como se tivesse certeza de que ele recusaria o seu pedido, insiste:
_Tio Sam… Eu posso pedir o que eu quiser, mesmo?!
_Impaciente, Samuel já imaginava que teria que comprar um parque infantil para o bairro daquela menina… E sorri, não era nada… sacode a cabeça num gesto afirmativo e aguarda:
_Eu quero… Eu quero um livro infantil novo e um casaco de lã.
E graças ao “Tio Sam” aquele Natal foi o mais feliz para as crianças daquela creche.
Elisabeth AMORim
Ps: caso o caro leitor queira imitar "Tio Sam"... eis as opções:
http://www.protexto.com.br/livro.php? ( Casaco de lã - livro de contos)
http://www.apededitora.com.br/contato/ ( A boneca de pedra/infantil)
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