quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Papai Noel ferido ( conto)

                                           
 Era sexta-feira, final de semana propício para o  bom velhinho sair com a sua galera e passear com os netos e bisnetos. Afinal, aproxima-se o Natal,  o seu colo e a atenção ficam concorridos.  Eram muitas cartinhas que precisavam de respostas, apressa o passo para chegar a uma agência dos correios e despachar algumas... e depois, curtir com a família.
A fila é muito grande na agência escolhida.  Olha para um lado e para outra em busca de tal “prioridade” para os idosos,  não a encontrou, pois todos estavam na mesma situação. Só resolveria com a contratação de novos empregados para a  agência, mas o Brasil em crise, só se fala em desemprego.  Era Noel e mais uma quantidade de velhinhos querendo  a mesma coisa: cumprissem o atendimento prioritário.
E não demora, começam as reclamações, justamente quando chega a vez do bom velhinho ser atendido:
_ Deixe  eu passar em sua frente? É só um cartãozinho que irei postar para minha filha em São Paulo.
_ Ah, não! O meu filho está no Rio de Janeiro... Precisando desse documento original, preciso  enviá-lo urgente.
_ E eu que estou aqui apenas querendo pagar um boleto, porque  o banco em greve...
_ Na minha frente ninguém passa! Estou desde cedo aqui...  Como pode? Ter que pegar uma fila gigantesca para fazer um depósito!
Até que alguém olha para o tamanho do saco de Papai Noel... E com raiva por conta da morosidade, encontra alguém para descarregar a sua frustração, diz:
_ A culpa é dele!  Como é que deixa para atender pedidos das crianças  só na última hora! Tem o ano todo, só agora ele aparece no final de dezembro... Vou passar na sua frente, vovô!
Pronto. Um humano erra, os demais seguem...
_Eu também, com licença!
_Eu também, Papai Noel, vá para lá!
_ Papai Noel, essa não é a fila dos aposentados! Eu ainda vou trabalhar... 
E Papai Noel sem saber o que fazer, apenas repetia:
_ Feliz Natal! Hô, hô, hô...

E  começa um empurra-empurra. E o bom velhinho foi ao chão.  Cartas pisoteadas, rasgadas, amassadas, brinquedos quebrados, sonhos adiados ...  Desesperado, Papai Noel dizia choroso:

_ Por favor, não pisem  nos sonhos das minhas crianças! É Natal!

*

Os adultos e idosos interessados em realizarem os próprios sonhos, não deram ouvidos aos apelos do  bom velhinho... ele, cada ano mais ferido com a insensibilidade humana tenta fazer o possível para alegrar as crianças.
E se por acaso, a sua cartinha não  teve ainda a resposta, não fique triste , porque o bom velhinho todo ano tenta  realizar  sonhos,  mas sozinho não pode fazer muita coisa...  Acho que ele ainda está na fila, mesmo machucado.
Quer ajudá-lo? 

                                    
                                                                     Elisabeth Amorim



* Imagem pessoal, vi num consultório de ortopedia... virou literatura. Tem mais imagens legais.
Caso  alguém  queira divulgar a empresa de forma criativa, indique o meu nome, transformo tudo em literatura! È Natal, preciso comprar o presente. (risos)




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Literatura de mainha 6 - Afirmação de identidades

 Mais um vídeo para você prestigiar.  Textos básicos; O sapo - Rubem Alves O sapo que não virou príncipe - Elisabeth Amorim