terça-feira, 15 de novembro de 2016

Educação. Quem dá o primeiro passo? (crônica)

                                                             
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        Eu dou o primeiro passo. Segundo, terceiro... Talvez, uma atitude totalmente contrária a esperada, mas não gosto de ensinar  como me ensinaram,  nem consigo repetir os exemplos dados para a classe vizinha.  Sempre gostei de inovar, usar a criatividade e aventurar-me  nas malhas da educação.  Não acredito na educação sem transformação pessoal e alheia. Educação  sem refletir a prática docente, não é educação.
      E nessa minha aventura arrojada já me rendeu alguns aborrecimentos e muitos gastos, pois é difícil mudar estruturas, investir em projetos sem apoio financeiro, querer a diferença!  Hoje, lembrei-me da galinha que encontrou um milho e chamou outros animais para ajudá-la plantar, regar, colher  e nenhum aceitou. E no momento que ela estava saboreando a canjica... muitos apareceram. Fazendo analogia com a educação, quantos alunos são convidados para o plantio? E quantos participam da colheita?
      Semeamos, mas muitas  sementes não ficam no solo por muito tempo. Vento, chuva, pés e  aves ajudam  na dispersão.  Desvios.  Rotas contrárias. No entanto, não desistimos. Eu não desisto de acreditar no potencial do estudante, da mesma forma que  não desisto de acreditar no meu potencial. Tudo é questão de abraços e olhar. Quem abraça quem?  Continuo jogando as sementes, quem dá o primeiro passo?   
        Vejo o quanto é difícil ser (a)normal nessa sociedade com tantas normas politicamente corretas. Nunca atropelei ninguém e tenho certeza de  que aquele discurso “Dê poder ao homem para ver o que acontece com ele”, comigo não funciona. Porque princípios,  caráter e  ética não são discursos modificáveis,  porém, estão incorporados nas práticas diárias das pessoas. 
        É constante o número de e-mails recebidos com anúncios de supostas doações,  ajuda financeira daqui e dali.  Se essas mensagens fossem verdadeiras eu estaria rica economicamente, no entanto, a minha riqueza é espiritual, e confesso, sou feliz.  Quer ajudar a educação?  Divulgue literatura. Quer ajudar a mim?!!! Divulgue a minha pesquisa que transformou em livro  na Alemanha... Isso é dá o primeiro passo.
         No ano passado uma estudante de graduação que não havia feito estágio, me procurou para que eu atribuísse uma nota ao seu “relatório de estágio”.  Fiquei chocada, pois não esperava uma proposta tão indecente. E a minha resposta  foi: “_ Você procurou a pessoa errada, como posso avaliar algo que você não fez?”   Ela pediu desculpas e saiu envergonhada.   Lá adiante, ela encontrou quem fizesse o que eu não fiz. Provavelmente, está com o seu diploma, mas a minha consciência está tranquila.
         Não poderia ser diferente, porque não seria eu se fizesse algo contrário aquilo que defendo e  escrevo. Não seria eu cortando uma fila, com uma desculpa qualquer, enquanto outras pessoas precisam  esperar o tempo delas na fila. Não seria eu  forjando algo  para beneficiar uma pessoa, enquanto outras são prejudicadas.  E isso não tem nada a ver com religião, mas com ética, valores cultivados.
          Dou o primeiro passo para ajudar, transformar, inovar a educação. Estamos com letras, palavras por todos os  lados, mas faço malabarismos para que as leituras aconteçam.  Porque não adianta estarmos ilhados, se não decodificamos o que está a nossa volta.
         Quando vejo a quantidade  de leitores norte-americanos e europeus que diariamente buscam este blog, fico feliz por fazer algo que agrada pessoas que estão do outro lado. Não pensei ir tão longe,  queria ajudar a educação do meu estado, país onde pouco investe na literatura que vive à margem. Os passos continuam sendo dados e as sementes que não ficaram no solo brasileiro, dei sorte, porque os ventos sopraram para bem longe...não foram destruídas pelas aves nem pés humanos. Alemanha, um livro, Estados Unidos e França uma legião de leitores virtuais.  Cada vez mais percebo que tem um anjinho lá no ceú que gosta  do que escrevo  e aprova os meus passos...
                                                      
                                                      Elisabeth Amorim
              
             autora do livro " Desmontagem da literatura em educação básica" disponível no morebooks, amazon...



* pintura de Akiane Kramariki

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