Certo dia Dona Consciência, uma mulher negra que vivia no seu cantinho e quase ninguém a via, resolveu sair de casa. Bem, não precisava mais ficar se escondendo
com medo de ser atacada por algum capitão-do-mato mal informado, ela era livre, iria gozar a sua liberdade,
com a vasta cabeleira, exibe como um troféu e sai.
Passeando no parque,
fica a admirar duas crianças brincando.
De repente uma bola cai aos seus pés, ao se agachar para pegá-la foi
abordada pelos pais das crianças:
_ Ei, deixe essa bola aí! Essa bola é do meu filho... Você
está querendo roubar a bola dos meus filhos?!
Dona Consciência
abaixa a cabeça, e diz tristemente:
_ Não, senhor! Apenas estava admirando-a antes de devolvê-la.
No entanto, os pais das crianças não quiseram ouvi-la. Quem ouve a consciência? Chamaram
os filhos e carrega-os rapidamente daquele parque, pois para eles o local
estava ficando perigoso e muito mal
frequentado.
Dona Consciência busca na memória o que ela havia feito de
errado. Ela só queria ajudar as crianças
e foi julgada. Enquanto refletia, ouviu um grito de “ pega
ladrão!”... Não pensa duas vezes, apressa o passo para tentar ajudar alguém,
provavelmente, em perigo, dessa vez
seria útil.
Vê uma jovem, num
banco do parque aos prantos. E logo ela se senta ao lado da jovem para tentar
consolar. E percebe que ao colocar a mão
no ombro, a jovem fica mais assustada ainda e começa a gritar mais alto. Até
que surge várias pessoas.
E nesse momento, Dona Consciência não entende porque ela foi imobilizada,
apalpada, rapidamente vasculharam a sua
bolsa, nada encontrou. Tantas pessoas
naquela área, fazendo a mesma coisa que ela, querendo
ajudar, mas apenas ela fora humilhada.
Depois que a
revistaram de forma humilhante e pública, já mais calma, a jovem encontra o objeto
supostamente roubado na própria bolsa. E assim, não havia necessidade de mantê-la imobilizada. Soltaram Dona Consciência, com os
olhos arregalados não conseguia pronunciar nenhuma palavra, ela sabia que
poderia ainda ser pior. Sabia que havia
assinado a sua liberdade, mas esqueceram de dizer isso para as outras pessoas.
Resolveu voltar correndo para casa, para o seu quartinho. Nem bem começa a correr
ouviu ainda alguns gritos familiares:
_ Pega ladrão!
_ Que negona boa!
_Venha me fazer cafuné!
_Cabelo de pixaim!
Não parou, continuou a correr. Lágrimas lavando a face e uma dor imensa no
coração. No seu cantinho, olha para o espelho só consegue enxergar a sombra de
uma consciência negra, mesmo assim não se intimida e questiona:
_ Que Consciência sou?
Todos me discriminam pela minha cor, pelo meu cabelo crespo... Sou julgada e condenada por algo que não fiz. Quantos rótulos recebo
diariamente? Diga-me, por favor, espelho! Que Consciência sou?
E o espelho já cansado de ouvir aquele lamento, resolve
responder:
_ Limpe seu rosto! Ande de cabeça erguida, você é livre!
Essa liberdade está no seu sangue, pela sua luta, reaja. Não aceite a discriminação! Não ouça vozes que te diminua, mas grite mais alto e
mostre a sua força.
Dona Consciência tomou um susto, porque há tempos que ela
fica diante do espelho e nunca havia
tido uma resposta. E mais uma vez, Dona
Consciência tentou argumentar...
_ Como lutar contra a discriminação? Quem sou eu?
E o espelho admirando tamanha beleza, diz:
_Você é Consciência. Negra, linda, livre como o vento...
E Dona Consciência reagiu, combate de frente com sabedoria e inteligência todos os preconceitos e estereótipos atribuídos as pessoas da sua cor. Trabalha muito pois sabe que a tarefa é árdua. Se os negros ganham menos... será lapso da consciência?
E Dona Consciência reagiu, combate de frente com sabedoria e inteligência todos os preconceitos e estereótipos atribuídos as pessoas da sua cor. Trabalha muito pois sabe que a tarefa é árdua. Se os negros ganham menos... será lapso da consciência?
E. Amorim
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