sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Dona Consciência (conto)

*



       Certo dia Dona Consciência, uma mulher negra que  vivia no seu cantinho e quase ninguém a via,   resolveu sair de casa.  Bem, não precisava mais ficar se escondendo com medo de ser atacada por algum capitão-do-mato mal informado,  ela era livre, iria gozar a sua liberdade, com a vasta cabeleira, exibe como um troféu e sai.
Passeando no parque,  fica a admirar duas crianças brincando.  De repente uma bola cai aos seus pés, ao se agachar para pegá-la foi abordada  pelos pais das crianças:
       _ Ei, deixe essa bola aí! Essa bola é do meu filho... Você está querendo roubar a bola dos meus filhos?!
        Dona Consciência  abaixa a cabeça, e diz tristemente:
       _ Não, senhor! Apenas  estava admirando-a antes de  devolvê-la.
       No entanto, os pais das crianças não quiseram ouvi-la. Quem ouve a consciência? Chamaram os filhos e carrega-os rapidamente daquele parque, pois para eles o local estava ficando perigoso  e muito mal frequentado.
        Dona Consciência busca na memória o que ela havia feito de errado.  Ela só queria ajudar as crianças e foi  julgada.  Enquanto refletia, ouviu um grito de “ pega ladrão!”... Não pensa duas vezes,  apressa o passo para tentar ajudar alguém, provavelmente, em perigo,  dessa vez seria útil.
         Vê uma jovem,  num banco do parque aos prantos. E logo ela se senta ao lado da jovem para tentar consolar. E  percebe que ao colocar a mão no ombro, a jovem fica mais assustada ainda e começa a gritar mais alto. Até que surge várias pessoas.  E nesse momento, Dona Consciência não entende porque ela foi imobilizada, apalpada, rapidamente vasculharam a sua bolsa, nada encontrou.  Tantas pessoas naquela  área,  fazendo a mesma coisa que ela, querendo ajudar, mas apenas ela fora humilhada.
       Depois que  a revistaram de forma humilhante e pública,  já mais calma, a jovem encontra o objeto supostamente roubado na própria bolsa. E assim, não havia necessidade de mantê-la imobilizada.  Soltaram    Dona Consciência, com os olhos arregalados não conseguia pronunciar nenhuma palavra, ela sabia que poderia ainda ser pior.  Sabia que havia assinado a sua liberdade, mas esqueceram de dizer isso para as outras pessoas.
       Resolveu voltar correndo para casa,  para o seu quartinho. Nem bem começa a correr ouviu ainda alguns gritos familiares:
       _ Pega  ladrão!
       _ Que negona boa!
        _Venha me fazer cafuné!
         _Cabelo de pixaim!
         Não parou, continuou a correr.  Lágrimas lavando a face e uma dor imensa no coração. No seu cantinho, olha para o espelho só consegue enxergar a sombra de uma consciência negra, mesmo assim não se intimida e questiona:
       _ Que Consciência sou?  Todos me discriminam pela minha cor, pelo meu cabelo crespo...  Sou julgada e condenada  por algo que não fiz. Quantos rótulos recebo diariamente?  Diga-me, por  favor, espelho! Que Consciência sou?
        E o espelho já cansado de ouvir aquele lamento, resolve responder:
       _ Limpe seu rosto! Ande de cabeça erguida, você é livre! Essa liberdade está no seu sangue,  pela  sua luta, reaja. Não aceite a discriminação! Não ouça  vozes que te diminua, mas grite mais alto e mostre a sua força.
         Dona Consciência tomou um susto, porque há tempos que ela fica diante do espelho e nunca  havia tido uma resposta.  E mais uma vez, Dona Consciência tentou argumentar...
        _ Como lutar contra a discriminação? Quem sou eu?
E o espelho admirando tamanha beleza, diz:
       _Você é Consciência. Negra, linda, livre como o vento...

E Dona Consciência reagiu, combate de frente com sabedoria e inteligência todos os preconceitos e estereótipos atribuídos as pessoas da sua cor. Trabalha muito pois sabe  que a tarefa é árdua.  Se  os negros ganham menos... será lapso da consciência?

                                 E. Amorim

 cartaz dos estudantes da Educação Básica. 

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