Os ponteiros passam lentamente, principalmente quando quero
que eles acelerem. Essa espera
inquietante, de quê mesmo? Não sei,
talvez à espera da fadiga para que a exaustão faça com que eu deite, descanse,
adormeça. O corpo dói, mas o sono não aparece, brigou comigo?
Como o tempo não é nosso, o relógio insiste em permanecer
parado, fazendo birra. Acho que a
contagem regressiva para o novo ano, causa nas pessoas essa inquietação. Provavelmente, no aguardo da adiada mudança
nos outros. Por que não mudei primeiro? Reconhecer
os meus limites já é uma mudança. Só
agora com essa exaustão, vejo que deveria ter corrido menos e beijado muito mais...
Ando, ando... Como um José sem destino certo. Uma mão! Uma mão! Olhei para trás, vi apenas os pés. Pisando-me, machucando-me impiedosamente, enquanto dedos apontam
e bocas riem da minha persistência Até sinto o sangue escorrer das minhas mãos feridas, inertes, amarradas a uma grossa corda. Mãos
negras, horrorizada, vejo-as mudarem de
cor. Insisto a olhar o líquido vermelho escoando... Só queira fugir daquele destino.
Sem forças para contê-lo, tombo sonolenta no sofá, outrora era uma esteira. Mais um dia nas cozinhas alheias se passou e
eu ainda aqui, recolhida no meu canto triste. Mais
uma noite correndo para a faculdade na
esperança de mudar esse destino, e eu aqui, entoando
novo canto. Parece que os semestres se arrastam comigo. A
certeza de que não precisarei permanecer nas cozinhas por muito tempo, joga-me
para frente, às vezes sou atropelada, pisada, reconheço. Mas atropelo o destino que me reservaram e sigo
destemida, forte. Não sair das senzalas? Jamais
voltarei ao tronco, essa é a minha certeza.
Minhas mãos continuam latejando,
o vermelho com preto fez surgir uma cor enfraquecida, talvez, parda, moreninha, mestiça, cansada, como eu. Maquiagem.
Exausta da labuta, novo dia me
espera...Lavar, passar, cozinhar, talvez.
Estudar, estudar, estudar...sem dúvidas. É por esse último caminho que visualizei meu novo dia, sem atalhos. Olho pelo retrovisor, vejo marcas lá trás, ao fundo, e firmo nas opções presentes.
Estudo, sim! Canto novo, arrojado, dessa vez nada engraçado. Mesmo assim, preciso dormir, pois já estou
sonhando acordada... Antes, porém, corro
para lavar as mãos. Não gostava mesmo daquele suco de morango que
estava bebendo por acaso.
20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
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