Trânsito na capital
baiana nada animador. Chuva torrencial castiga o velho telhado. Ao longe da
televisão LG, sai algumas marchinhas das
antigas. Redundante, marchinhas antigas, não seria melhor só “marchinhas”? Olhe a metralhadora!
Desculpe-me caro leitor, mas preciso primeiro engolir um
café para depois engolir esse estilo musical que aparece no solo baiano. Não
tenho nada contra nem a favor dos gostos ecléticos de cada um, mas
botar um pé na rua e ser tragada por esses sons, é dureza! De repente, lembro
que não tomo café há trinta anos. Nada que causa dependência. Aliás, único
vício que alimento é essa literatura, até o dia que me cansar... Deleto, da mesma forma que sou apagada em sua mente. Mas nem se preocupe, antes de apagar encontrarei uma editora legal que aposte numa literatura simples como essa.
Mas, voltando ao estilo musical. Viajo para a capital, sem
querer assumir o volante, fico a ouvir a variedade musical do motorista, primeiro foi a vez do “Lepo Lepo”, aprendi
todas as coreografias mesmo sem cantar, dançava. Quem não dançava?! Porque na escola, rua, praia... Era ligar a
televisão, rádio via o “Lepo Lepo”! A minha vontade era escrever para Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethania para colocarem
o bloco na rua nem que seja para juntos cantarem “ Sozinho”.
O problema que a Bahia
é uma produtora musical ambulante, não deveria ser uma editora? Preciso
aprender a cantar! Ou preciso aprender a escrever?
Esse ano o destaque musical
veio lá da região do cacau, não me pergunte o nome, só sei que tem uma
tal de metralhadora pelo meio e vamos disparando tiro... para delírio dos foliões
que dançam como se tivesse carregando a arma da vingadora. E tá..ta´..tá...tá...tá...tá...
tá...tá...tá...tá...tá...
Reconheço que para as bandas de lá, a briga pela terra
atravessou século, já narrava o Jorge Amado. Mas nessa onda de tudo é permitido
no carnaval, sei não... Enquanto não
aparecer uma pessoa que se vingue de verdade e use como arma os livros, a
literatura... vamos espalhando o “tá...tá...tá...”
em nome da cultura baiana.
Carnaval, resta-nos
ficar em casa lendo os contos de Amorim. Vai que o “Lobo
Mau” doidinho para segurar o “Tcham” volte em cena dos outros carnavais e a metralhadora pós-moderna não funcione. Vai
um cafezinho, aí? Temos que engolir, com leite mas sem açúcar, quem sabe assim espantaremos aquela "Muriçoca" do ano passado, chega daquele refrão picante!
E. Amorim
* Heitor dos Prazeres, Carnaval nos arcos.(apenas ilustrativa)
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