Elisabeth Amorim
Depois de uma noite de carnaval de muito samba no pé e amassos,
retornei para casa cansado. Namorei bastante. Mulheres bonitas e feias no
carnaval se misturam e viram rainhas, todas, sem distinção. Rainhas das baterias,
rainhas das ruas enfeitadas, rainhas dos lares. Enquanto eu, sem nenhuma coroa, não passava de um namorador, pegador de abelhas
rainhas.
Naquele carnaval não foi diferente. O que tocava eu dançava, sempre acompanhado de
uma latinha de cerveja e uma mulher bonita, minha abelhinha, doce como o favo
de mel. Rodopiávamos por algum tempo,
curtíamos o nosso momento. Éramos jovens, queríamos diversão antes da velhice chegar e me jogasse num canto
qualquer... Quanta fantasia!
O carnaval passou. Eu era o mais conversador do grupo, tinha
sempre mais histórias carnavalescas para contar. Até que a situação se voltou
contra mim. Os primeiros sintomas... Não
é possível! Não pode ser verdade! Procurei um médico e o diagnóstico foi o
esperado. Esperado?! Sim, para quem se
aventura nas relações sexuais sem as devidas precauções...
Meu mundo veio a baixo! A minha preocupação maior era o que
seria do carnaval sem mim? Logo eu, o
primeiro a chegar na praça e o último a
sair? Teria agora que desfazer das
minhas fantasias do carnaval e ainda viver na dependência dos coquetéis .
Não! Não irei deixar um vírus qualquer me derrubar! E o pior que nem
sabia de quem mesmo eu fui contaminado, pelo menos para prevenir meus amigos. Perdi
todo o controle do meu corpo, o vírus me derrubou, sim. Jogando-me no chão como
aquele amontoado de serpentinas que ficam no meio do salão.
Hoje, da minha janela volto a olhar o movimento que acontece
lá embaixo. Meu coração dá alguns pulos
tímidos. Mas o meu corpo não consegue pular, sambar, rodopiar. Estou fraco. Mas ainda estou vivo! E como vítima da folia, sinto que preciso
fazer algo antes que o meu coração se
canse de vez....Pule, grite, dance, mas namore com responsabilidade. Se você acha
que precisa dessa grande festa para ser feliz, aproveite todos os dias. Já
pensei igual a você.
Não entendia que tudo
isso era algo passageiro. Por mais que me divertia na rua ao chegar em casa meu
coração não estava alegre, faltava algo. Talvez, encontrar-me na folia.
Precisou dessa tragédia para saber que o carnaval é uma festa linda, se formos
para ela desarmados, se nós dançarmos em paz. Sem dor nem violência. Depende de cada um.
Vejo que as
horas passam mais rápido, aceleradas,
também meu coração acelera no mesmo ritmo dos tambores, baterias e guitarras... final de
festa para mim! Antes , porém, faço um pedido, apenas um: jogue serpentinas no
asfalto, mas não abra mão da sua proteção. Pois a picadinha de uma abelha ou de um zangão poderá ser
fatal.
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