Quem valoriza a arte de alguém? Um anônimo qualquer inicia o dia fazendo arte. Arte na areia! Onde
as ondas do mar ao cair da tarde lava todo o vestígio, sem deixar nem
a placa que o artista colocou... Sua história muitas vezes é como a sua arte,
feita num amontoado de areia. E você volta, olha e nada encontra pois já foi
apagada pelas águas. Que tal solidificar essa arte? E quem sabe assim ao entardecer alguém ao ler
esse texto lembrará de mais uma arte que
não será destruída com a força das ondas... mas desmontada para o mundo.
Estava tranquilamente
curtindo férias na capital baiana, bem próximo ao Farol da Barra uma imagem me
chama a atenção. Eu de cima, no calçadão,
olho para a praia e começo fazer a
leitura daquela imagem que estava lá. O que
significava aquele pano branco estendido na areia e ao lado dele uns
dizeres em dois idiomas, em nosso bom português e em inglês? O que aquele homem estava fazendo com a nossa
praia?
A frase era simples,
mas impactante, pelo menos para mim. Ela
me fez refletir sobre o espaço do artista anônimo e escrever esse texto, assim como ele, me via na mesma praia: “ A sobrevivência
desse trabalho depende da colaboração das pessoas que valorizam a arte.” De que
maneira as pessoas valorizam a arte, o trabalho de alguém? É tão fácil apagar,
agir como as ondas que limpam as praias das artes humanas.
Realmente, percebi que havia um homem cavando a areia e
juntando-a em um canto do grande buraco já feito. Apuro o olhar noto que o pano não estava tão
branco, havia algumas moedinhas jogadas lá do alto, pessoas que passavam e sensibilizadas contribuíam
daquela forma. Não quis procurar uma moeda para jogar, achei naquele momento muito violenta
aquela contribuição. E comecei a pensar em alguns instantes qual seria o valor
de uma arte. Uma moeda?!
Em questão de minutos, veio
a história de muitos artistas baianos que precisam dessas moedinhas.
Artistas das areias, artistas dos cordéis , artistas dos trânsitos com os
malabarismo entre um abrir e fechar dos sinais. E confesso, deu-me uma vontade
de descer para conversar com aquele artista e colaborar muito mais que uma moeda, mas o grupo por me conhecer,
antecipou a resposta de uma pergunta não
manifestada, falando que na volta pararíamos para ver o resultado
da arte na areia. Eu caminhava, mas aquela imagem me acompanhou. O que seria esculpido naquela areia? Horas naquele sol, areia quente, idas e vindas
ao mar com dois galões de água... Será que faria um trio elétrico na areia?! Uma
moeda...
No final da tarde ao retornarmos, olho atenta a procura do
artista da areia. Nada! Não havia nem
sinal. Frustrada por não ter feito o que havia pensado e adiado
o diálogo, vi quantos de nós adiamos
o abraço, um ato de solidariedade, uma contribuição...uma
moeda.
Uma moeda, talvez
poderá ser pouco para você ou para mim, mas para muitos nesse país do carnaval, cada moedinha doada serve para o pão de cada dia. É essa moedinha que faz com que artistas
sobrevivam da própria arte. Não cheguei
a esse estágio, pois pago caro para
publicar um livro, sem apoio é difícil. Pela
televisão vejo o carnaval da Bahia, imagens do Farol da Barra, atenta sinto que a maré está subindo...
nenhuma moeda!
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