De repente, lembro-me que nem olhei para o espelho hoje. Volto
correndo e dou aquela paradinha... observo algumas rugas, paro diante dos olhos
graúdos, pretos, a pele apresenta uma cor meio marrom, castanha, negra. Será que negrinha não fica melhor?
Como o povo resiste diante da cor da pele, busca tonalidade mais
amena. Para não dizer que negra, escura ou preta cria sinônimos adjetivados, “marronzinha”,
“moreninha” ou até um “negrinha”, cairá
melhor, o sufixo “inha” da negra dá uma suavidade que a pele precisa. Sei, não...
Isso é o que pensava aquela mulher negra que para extasiada
diante da sua sobrinha com apenas dois anos de idade. A criança tinha uma beleza exótica, olhos
expressivos, o cabelo totalmente
indomável sobre uma tiara colorida, simplesmente uma criança linda. E sem
perda de tempo a tia aproxima-se da garotinha e diz:
- Minha negrinha linda, venha dá um abraço na titia!
Antes que a criança obedeça,
surge uma mãe furiosa e grita:
- MARIA, FALE O SEU NOME PARA SUA TIA! Aproveite diga a ela que você não é negra,
mas moreninha!
Negrinha ou moreninha?
Por mais que falemos que não devemos julgar pela cor da pele, confesso
que uma situação como essa merece essa crônica. Até que ponto vai os nossos
preconceitos? Desde cedo uma mãe ensina para a filha que ser negra era algo
feio, precisaria de um termo mais ameno, certo?
Lamentável essa não aceitação da etnia, talvez até uma forma de
autodefesa por conta dos preconceitos futuros.
Por outro lado, a atitude da tia, mesmo inconsciente, está
impregnada de preconceito também. Será que se a sobrinha fosse branca ela
chamaria “Minha branquinha linda?” Por que para a negra/ o negro precisa desse
reforço? Se você busca a biografia de um
escritor como Machado de Assis, Lima
Barreto, está lá “mestiço”, “negro” e a biografia de um escritor branco, por que não
aparece “branco”? Por que para o negro
precisa desse reforço? A fotografia ou própria pessoa por si já não
escancara a negritude na pele?
Cresci enxergando-me morena, porque a sociedade, família e entorno me viam assim. Apesar do registro aparecer uma
cor “parda” que até hoje não consegui identificar o que é mesmo ter a cor
parda? Ainda bem que depois de adulta,
tive tempo de revisitar o espelho... Moreninha, eu?
E. Amorim
*Izabel Pariz, A mulata e a gata.
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