De repente Ele surgiu. Estávamos vendendo o milagre. Ora,
milagre é assim, há quem acredite que ele acontece e esperam com fé, mas há
outros que defendem que o milagre
precisa ser comprado, e como estávamos
precisando de dinheiro...
Ele ficou furioso com o nosso negócio. Ainda mais que não
víamos local melhor para realizar as operações que no próprio templo. Não era
lá que muitas pessoas iam em busca do milagre? Bastou um olhar para perceber que não foi um bom negócio escolher aquele local. Ele chegou derrubando os nossos vidrinhos de
água, as fitinhas coloridas, imagens de barro... Tudo foi ao chão.
Ficávamos horas ouvindo-o falar, emocionando-nos para mais
tarde desobedecermos. Ele falava de
amor, doação , respeito, fraternidade, solidariedade, compreensão, virtudes,
bondade entre outras coisas. Nós praticávamos a corrupção. Mas uma das
suas falas que me impressionou foi quando Ele disse que se tivéssemos fé do
tamanho de um grão de mostarda, poderíamos até ordenar a um monte que mudasse
de local e isso aconteceria. Fiquei com
aquilo na mente, envergonhado pelo tamanho da minha fé. Invisível?
Assim como Ele me impressionou, inquietou outras pessoas.
Porque mesmo Ele falando palavras bonitas, muitos passaram a persegui-lo e atribuir títulos e ambições que não constavam no seu currículo. Não tinha jeito, percebi que Ele não iria
durar muito. Ele estava incomodando a muitos com os seus milagres.
Você acredita que Ele fazia coxo andar, cego enxergar e doente sarar? Será que Ele era capaz de fazer ladrão parar
de roubar? Era a minha dúvida.
A cegueira maior é difícil ser curada. Não
devemos alimentar ódio contra o outro por conta das divergências filosóficas,
políticas ou religiosas, cada qual deve seguir a verdade que lhe convém sem
propagar violência.
Ouvia, entendia e praticava o inverso. Descuidei-me e acabei sendo preso. Não tinha jeito iriam me
crucificar para servir de exemplo. Só assim eu deixaria essa vida errante. Pouco tempo, percebi um
companheiro de cela. Ele também foi preso.
De repente queira ouvi-lo algumas das suas palavras bonitas, mas Ele
permaneceu em silêncio. Talvez, porque estava bastante ferido e humilhado.
Surge a hora final. Iríamos para o sacrifício. Eu , Ele e
mais outros tão errantes quanto Eu. Eu sabia que tinha cometido vários delitos,
mas Ele... Qual o crime Ele cometeu? De repente, ouço gritos vindo de lá fora. Parecia que estava sonhando, mas era real, um nome sendo
aclamado. Uma multidão reivindicava a liberdade de um ladrão...
Meio a tempestade que desabava sobre nossas cabeças, Ele caminhou tranquilamente sobre
as ondas e sentou-se ao lado do seu Pai. Enquanto eu, um Barrabás como tantos
outros que existem por aí, ganhei a liberdade, mas jamais sair da prisão.
Elisabeth Amorim
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