domingo, 26 de fevereiro de 2017

O que entristece a minha mãe...( crônica)




          De repente recebo um vídeo num desses grupos de Whats  App  e a discussão gira em torno da ética, normas de conduta, valores que se perdem diante de uma sociedade egocêntrica que busca a satisfação do “eu”.   No entanto, há sempre pessoas que fazem a diferença. Pessoas que não aceitam viver na mediocridade e fazem o inesperado surpreendendo a todos.  E para discutir tal assunto, o entrevistado foi Mário Sérgio Cortella.  Um show!
         Cortella cita como exemplo de ética a atitude do atleta  espanhol maratonista, Ivan Fernandez Anaya , em 2012, quando percebeu a distração seu adversário queniano  Abel Mutai,   próximo a linha de chegada, dando  condições a ele como segundo colocado, ultrapassá-lo e garantir o primeiro lugar no pódio,  mas  Anaya  não quis vencer aproveitando-se de uma fraqueza do outro, alertou  Mutai e o incentivou a garantir a vitória. Atitude que chamou a atenção do mundo, sendo que para Anaya não poderia ser de outra forma conforme os valores defendidos.
          É tão incomum encontrar pessoas que não atropelam para subir ao pódio que muitos jornalistas deram  mais destaque ao que Anaya fez do que a vitória de Mutai,  no entanto, ao ser entrevistado, novas surpresas.  Vejamos  um fragmento da fala de Anaya que Cortella discutiu :  “ – Se eu ganhasse desse modo, qual seria o mérito da minha vitória? O que eu ia pensar de mim mesmo? (...) Se eu fizesse isso , o que eu ia falar com a minha mãe?”   
          Será que as ações praticadas causam tristezas para as mães de quem as praticam? Como lidamos com as vitórias e as derrotas? Vale tudo para subir ao pódio? Toda vitória tem o sabor de mel?  Cortella foi muito preciso ao  discutir que a mãe é  o ser que teoricamente ninguém quer ferir, magoar, envergonhar, se a ação praticada naturaliza esse sentimento  é por a pessoa que a praticou  “não presta mesmo”.  Claro, muitos riram quando ele falou dessa forma, mas acredito que não era para sorrir, mas para refletir sobre como você, eu, nós conduzimos os nossos passos,  será  que estamos sendo éticos?  Para vencer na vida eu preciso me desumanizar?  Qual será o futuro da humanidade se o “bicho-homem” não parar de atropelar uns aos outros para permanecer no pódio?
           O que entristece a minha mãe... não me convém fazer. O que me desonra, o que agride meus semelhantes, o que me coloca numa condição de um inseto qualquer e tira de mim todo e qualquer sentimento humano, também não me convém praticar.  Eu vou além, eu preciso me amar, respeitar-me profundamente para aprender a respeitar e amar ao próximo. A lição de Anaya  rompe com a linha do tempo, religiões, e ao responder a pergunta de um dos jornalistas com esse questionamento bem reflexivo ele disse o que precisamos ouvir: “ Se eu ganhasse desse modo, qual seria o mérito da minha vitória?”.
          Irmãos, amigos, leitores em  geral,  quais  os méritos das suas vitórias?  O que vocês falam com suas mães?  Ou melhor,  o que falam para si  diante do espelho da vida? Quais lições deixam para seus filhos?  O mundo pode ser gigante, mas se falta ética, ele se encolhe, fecha, reduz... e você também diminui.  E vejo meus pensamentos sobre valores e ética parecidos com os de Anaya, se para subir ao pódio eu preciso atropelar o parceiro da frente, nunca subirei, sabe por quê? Eu também não quero entristecer a minha mãe, meus filhos, meu esposo, meus amigos...  nem o meu espelho.
                         E. Amorim


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