quinta-feira, 2 de junho de 2016

Onde o vento faz a curva (conto)

E. Amorim


De repente Joana percebe que o Dia dos Namorados estava chegando. Ela  não tinha comprado  nada para o seu esposo Mateus. Aliás, fazia um tempinho que deixou o romantismo de lado.  Ele sempre trazia um mimo para agradá-la, seja um chocolate, uma flor amarela, uma pulseira ( mesmo de camelô),  não passava  em branco aquela data. Desistira de comprar roupa, pois nunca acertava o tamanho. Ela ria do romantismo dele e se desculpava por ter se esquecido daquele dia...
  Mateus ia percebendo o quanto Joana havia mudado após os 15 anos de casamento, chegada dos filhos... E ele começa a pensar onde havia falhado. Nunca passara um Dia dos Namorados sem se lembrar da sua companheira.  No entanto, ela cada ano parecia mais distante. E lembrar que o Dia dos Namorados estava na porta, amanhã! Como ela poderia se esquecer do dia em que se conheceram? Como  se esquecer do dia em que se casaram? A data para ele era muito mais que Dia dos Namorados... 15  anos!
O dia nasce brilhante,  e Joana ao acordar pensa:
_ Aposto que não demora Mateus sair e voltar com um chocolate, ele não percebeu que estou fazendo dieta! Só espero que ele não invente comprar roupas com números maiores que o meu...
Mateus acorda tranquilamente, diz algo sobre a aparência de Joana e se levanta sem se aproximar para  fazer nenhum carinho habitual. E após o café da manhã ele sai.  Só que não voltou na hora do almoço, ligou dando uma desculpa qualquer. Ao escurecer ele chega,  e de mãos vazias.  Sem chocolate, sem flor, sem nenhum mimo para sua esposa. E mais uma vez, fala algo sobre a aparência da esposa.
Joana olhou assustada para o esposo naquela manhã. Agora ela estava totalmente indignada,  pensa em perguntar  se não havia se esquecido de algo. Mas como cobrar se ela estava em dívida?  De repente,  Joana passou a sentir falta do chocolate, das blusas folgadas, da flor, das pulseiras, até do sexo desvairado... E começa a observar todos os passos de  Mateus.  E percebeu que ele fez exatamente o que ela vinha fazendo há um tempinho.  Era o fim! Era o fim!
Não! Joana sabia onde estava o erro. E não pensou duas vezes para corrigi-lo. Não queria alimentar nenhum orgulho e perder o seu amor.  Percebeu que ele estava com cheiro de flores, não queria pensar onde ele arranjou aquele perfume para não perder a coragem.  Antes que seu esposo fosse para a cama, ela segura a sua mão, convida-o para acompanhá-la rapidinho, pois tinha algo para ele.
_ Vamos, levante-se Mateus! Vamos ali...
Ele tentou resistir com um “estou cansado” tão habitual... Mas, Joana não deu tempo,  foi logo arrastando  o seu esposo era agora ou nunca... Ele ainda questionou...
_ Sair agora? Para onde?
E Joana sorrindo diz:
_Onde o vento faz a curva...
Ele gargalhou feliz.  Sabia que “onde o vento faz a curva” era o local dos apaixonados. E uma noite de amor estava chegando... Lá na areia da praia havia um colchão de flores amarelas  à espera de Joana, mas isso ele não falaria para não estragar a surpresa.


  

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