quarta-feira, 22 de junho de 2016

O homem em 'de-composição' ( crônica)

             
Se tem uma coisa que  irrita é ser julgado pela aparência.  O caráter da pessoa não se mede pela etiqueta da roupa, nem  na quantidade de dinheiro que traz na carteira. Porque a etiqueta do caráter só é visível através das ações praticadas no dia-a-dia, no silêncio.  Diferente  daquela ação que precisa de testemunhas  e milhares de curtidas. Essa também é válida, pois atende  outras  intenções pretendidas. Quem foge das ideologias? Cada modo de vida deve ser respeitado.
Errado é querer colocar todos na própria forma.  É achar que todos tem os mesmos propósitos que os seus, permanecer no erro por conta da multidão.  É jogar pedras nas pessoas que pensam  contrário a você.  Enfim, mais  errado ainda é querer impor a sua verdade como única, sem abrir portas para outras verdades permeadas de ideologias.  Por isso, esse texto ficará aberto...
Aberto para você criticar a minha ou a sua loucura. Talvez, eu seja tão 'a-normal'  quanto  você. Quer tentar  seguir a linha de raciocínio? Assistindo a uma reportagem sobre self, uma jovem disse a repórter mais ou menos assim: “_ Chego a tirar 150 fotos para escolher uma perfeita!  Como essa aqui, eu  consegui capturar a minha essência, minha alma...”  E de imediato, refleti. Como seria essa imagem que captura a alma e a essência de alguém?  Somos tão inconstantes e mascarados como  um dia de verão  surpreendido pela chuva repentina. E mais adiante a repórter questiona:
_ o que acontecerá  se você postar uma foto desarrumada?!
E a jovem de olhos arregalados, disse apressada:  “- Deus me livre! Seria o meu fim! Ninguém curtiria.”
A inconstância  determina o estado de humor. Conforme o dia e relação com o outro,  uma crítica banal  sobre a  aparência é motivo de sorrisos e descontração. Em outro dia, o mesmo comentário, vindo de outro,  é a razão para querer decretar a Terceira Guerra Mundial.  Isso já vi  quando uma colega de classe fez uma crítica a foto da amiga, aliás, após  a discussão  a base dos tapas e empurrões, tornaram-se inimigas.  Fui surpreendida com uma série de fotos  para que apontasse a mais feia.   Tudo é muito relativo,  justifiquei-me, mas apontei  justamente a que motivou a confusão  de antes.
Leitor, não apanhei, sou de paz.  A jovem sorriu e disse que também não havia gostado daquela foto, pois estava muito artificial.  Mas, como uma série de pessoas curtiram... Gente, ela seguia a multidão, mesmo não gostando da foto, fingia gostar. Não resistir e questionei o motivo da briga se ambas pensavam do mesmo jeito...  Está vendo onde pretendo chegar ao dizer que podemos ser  mais “a/ normal” do que apresentamos? Talvez, por isso, nunca deixei a minha esquisitice de lado, não sigo multidão! Não a julgo, pois sei que tudo tem uma razão para acontecer.  Recuso-me viver na mediocridade, mas tento viver  acima dela.
Então é melhor não julgar o outro pela aparência arrumadinha ou não. O que somos , foto nenhuma consegue capturar. A imagem é representação  séria, descontraída, zangada, feliz, preocupada, irreverente, calma, nervosa, irritada de alguém... A pessoa representada continua sendo a mesma.
Lembrei-me da crônica “O nariz”,  de Luis Fernando Veríssimo, quando um dentista  conceituado ao colocar um nariz postiço de borracha perde todos clientes, a família e  amigos. -Louco! Ele está louco! E ele dizia sou quem  sou ou apenas um nariz?    Venceu o nariz, porque  aquele pedacinho de borracha fez  o dentista  perder o que arduamente conquistou: APARÊNCIAS no mundo das ideias...  enquanto a sua volta percebia o homem  em estado de  ‘de-composição’...

                                                                                        E.Amorim


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