Para Artur, in memorian
Harturzito era um
jovem muito levado. Irreverente, dava sempre uma banana para as
etiquetas . Muito cedo, para fugir da pobreza, criou o seu castelo para reinar absoluto e quebrar
convenções, e uma delas era apalpar as
súditas. Isso já lhe causou alguns aborrecimentos e puxões de orelhas. O
rapaz pensava em mudar, mas não passava
dai.
Com todas as esquisitices do
moço, não é que em todo o reino, desaprenderam o seu nome e deram-lhe o apelido
de Rei Maluquinho. Na verdade, quase
ninguém sabia desse seu título de “rei”, pois como o seu castelo foi construído
por ele próprio e seus amigos íntimos:
uma coleção de bonecos gigantes,
tratados como filhos do rei.
Maluquinho malucava com sua turma a garotada do bairro. Aliás, vê-lo sozinho e perguntar pelos seus
filhos, recebia a resposta:
_ Quem garante que são meus
filhos?
Com isso era uma gargalhada
só. E se a intenção do outro era irritá-lo, não conseguia, pois a cada
tentativa era um deboche. A vida de Rei
Maluquinho nunca foi fácil, desde cedo lidava com jovens carentes, ele era mais
um. No entanto, quando baixava uma danada de uma depressão, Rei Maluquinho
chamava os seus filhos e encenavam, debochando da situação criada e adeus
tristeza. Os bonecos obedeciam o Rei Maluquinho, e a cada gesto era repetido
despertando nos telespectadores uma sonora gargalhada. No fantoche não tinha
igual!
Não adiantava convidá-lo para uma festa,
pois teria que ter espaço também para os seus filhos - os bonecos gigantes. Um
dia, no castelo vizinho resolveram fazer uma festa, mas não queriam entrada dos
bonecos. - As festas eram para gente e não para bonecos! Foi o que o Rei
Maluquinho ouviu. Ele retrucou:
-
Onde já se viu uma festa sem bonecos? Pessoal, o Brasil está em crise, o
povo é pobre, fazer festa tem que ser para os bonecos... Sem bonecos não há
festa! Quem irá dançar com a panela vazia? Quem irá sorrir desempregado? Quem
irá comemorar o salário baixo? São os bonecos!
O Rei Maluquinho tinha razão, mas
não quiseram ouvi-lo. Proibindo a entrada dos bonecos, a festa foi um horror,
pois na falta dos bonecos, só os robôs compareceram. E era um choque de metal
atrás do outro. Pois os robôs precisavam de mãos humanas no controle, as mãos
humanas estavam descontroladas... Era um
robô batendo cabeça, aliás batendo as latas e curto circuito seguido de pane.
Fim de festa.
Enquanto no castelo ao lado, Rei Maluquinho
fazia uma festa com os seus bonecos e rindo a valer ao observar as latas vazias
amontoadas no passeio do vizinho. A sua alegria foi tamanha que Reizinho adormeceu
ali mesmo sorrindo da situação,
tendo os seus filhos como companhia.
Ao acordar teve uma desagradável
surpresa. Os seus quatro filhos desapareceram. Reizinho levantou-se e
correu as ruas da cidade de Alagoinhas, estado da Bahia, a procura dos seus bonecos. Uns diziam que
eles tinham sido enviados para Olinda, outros diziam que alguém vendou para
ornamentar uma festa infantil, ainda outros achavam que os bonecos seriam
usados na queima de Judas. Ao ouvir essas últimas suposições, Rei
Maluquinho chorou.
_ Como podem querer queimar os
meus filhos!? Meus bonecos não fazem mal a ninguém.
Até que um anãozinho que ia passando, com
pena do Rei Maluquinho, delatou os
companheiros e correu .
E o Rei Maluquinho invadiu o
depósito, percebeu que seus filhos estavam sendo preparados para exportação,
pegou-os de volta e sumiu. Antes, porém, fez o mesmo gesto que eternizou a foto de Einstein .
E. Amorim
*imagens ilustrativas.
*imagens ilustrativas.
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