Por muito tempo o Brasil ficou
conhecido como o país do futebol e do carnaval.
Grandes craques eram lançados e exportados. Hoje, não sabemos mais por onde andam os
craques, aliás são outros ‘cracks” que
roubam a cena, a bola, infâncias, vidas... Restando-nos apenas a correr atrás
do trio elétrico, já que somos o país do carnaval ou perdemos também esse
título?
Eu até
gostava de futebol, torcia, fazia pipocas... Mas de uns tempos para cá, o futebol brasileiro anda tão sem sal ou talvez, salgado
ao extremo, que não tenho mais paciência nem saúde para ficar assistindo profissionais
ganharem fortunas e serem idolatrados dando péssimos exemplos de cidadania. Muitos envolvidos em escândalos, sonegação de
impostos e com baixo rendimento nos esportes, enquanto os pobres professores
precisam de milagre para convencer os
pequenos alunos a gostarem de leitura. Leitura, serve para quê?
Ora, na semana
passada um aluno me perguntou o porquê da frase pichada no banheiro da escola “O
governo não gosta de pessoas esclarecidas!” Contive a vontade de provocá-lo: “Quem
é o governo? Quem ler não representa uma ameaça para o outro ?” Tive que conter, mas não resistir a essa
pergunta: - Se você fizer uma prova excelente e ser reprovado, qual a sua reação? Não preciso
transcrever a resposta do aluno, mas ele entendeu onde eu queria chegar, após
outros exemplos dados. Às vezes,
jogamos no outro aquilo que em nós incomoda.
E leitura é assim! Esclarecimento, informação,
conhecimento geram de certa forma, um poder. Você poderá usar o seu poder para o bem ou para o mal. O mesmo advogado que
usa as palavras para a defesa de alguém, poderá invertê-las para
condená-lo. A lei da selva de pedras atende
a interesses pessoais, ideológicos, políticos, religiosos, filosóficos,
econômicos ... O aluno percebeu que um professor, munido de conhecimento,
poderia “catar” os erros dele evidenciando-os e anular os acertos ou
vice-versa, conforme a ideologia abraçada.
Porque na escala da hierarquia a voz do professor tem um peso maior que
a do aluno. Então, não posso dizer que apenas o governo não gosta de pessoas esclarecidas,
se eu, como cidadã, maior, eleitora, voto e ajudo eleger esse governo. E mais, se
direta ou indiretamente contribuo para perpetuar ações arbitrárias na avaliação
de alguém, eu também acabo assinando a pichação.
Aplausos do
aluno com a cobrança, “escreva sobre isso!” Escrever para quem? Não se vende um livro. Talvez, assim se justifique
o título de país do carnaval. Recentemente, uma amiga se entusiasmou para
escrever um livro, fruto da pesquisa realizada no mestrado. Cansada de esperar
apoio, parte para o corpo a corpo. E de repente cai a ficha e me liga:
“_ Amiga,
quando você publica um livro não ganha nada? Já fiz mil cálculos e não consegui
ainda publicar meu livro. Nenhuma
editora quer investir no desconhecido e todas cobram um preço absurdo. Precisamos criar uma Associação de Autoras Excluídas!”
Ela
finalmente percebeu que publicar um livro no Brasil é uma tarefa de gigantes. E com todo esse sacrifício da amiga, tive que informá-la
do desafio maior ela teria após o investimento financeiro... tentar
convencer o leitor comprar o produto anunciado.
Como tenho a persistência e determinação de “Norma” , protagonista do meu conto Parede nua, não desistirei enquanto vida tiver. Mas, tudo bem, continuemos ainda com o título,
ainda resta a esperança na associação que iremos criar.
E. Amorim
*imagem apenas ilustrativa, disponível na web.
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