Lembro-me sem nenhum saudosismo
de como era a festa mais famosa do nordeste em minha cidade, também a mais esperada: São João.
E o São João ( 23 e 24 de junho) acompanhada de perto do São Pedro (28 e
29) eram motivos de grandes
expectativas, por conta das guloseimas típicas recolhidas nas casas visitadas, tudo
na base do 0800.
Era interessante formar um grupo
de amigos e andar pelas ruas das cidades e a cada porta, a pergunta tradicional:
_São João passou por aqui?
Conforme a resposta, o grupo era
convidado a entrar e saborear das comidas típicas que estavam sobre as mesas: amendoim, canjica, cana, bolo de milho, pamonha, licor, milho verde cozido, laranja entre outras. Após
saciar o apetite voraz do grupo, passava para
a casa vizinha. E o ritual ia se
repetindo e o grupo cada vez mais alcoolizado, barulhento e indiscreto ia
fazendo a ronda pela cidade. Vez ou outra encontrava-se com grupos dos fogos de artifícios, colocando-o para correr para não se queimar. Isso, porque cada grupo tinha o seu pedaço de acesso! Exclusivamente para diversão.
Quando as pessoas achavam o
grupo muito grande, fruto da junção com outros grupos encontrados no caminho,
não permitiam a entrada na casa, evitando o "arrastão" na mesa de comidas. Ninguém se incomodava, era apenas curtição e sorrisos. E aquela massa
de jovens, com calças jeans, botas, chapéus de palhas, muitos gostavam de carregar na maquiagem ou
com roupas bem coloridas, geralmente com um copo na mão, ia invadindo os
cantinhos e diante da pergunta, ouvia a
resposta:
_ Passou, mas já foi embora! Só
no próximo ano...
_ Obrigada, dona! Feliz São
João!
Ou então diziam:
_ Só temos licor! A comida
acabou...
A verdade é que o grupo muito grande causava
sim, um certo medo. Quanto mais bebia, mais o grupo aprontava.
Muitos, pegavam licor e disfarçadamente, jogavam na fogueira, integrantes voltavam bêbados, e pronto! Para aqueles o São João foi um show, pois conseguiu
derrubá-los. Restava no dia seguinte buscar remédio para curar a
ressaca e se preparar para o São Pedro, o alvo era casa de pessoas viúvas. No São João as fogueiras a frente da casa eram
praticamente em quase todas as casas de católicos, mas no São Pedro as fogueiras eram acesas somente nas casas de viúvas. Não me pergunte o porquê. E a caça pelas comidas típicas era reduzida,
mas não deixava de formar um grupo bem menor e ir em busca de algo para comer e no dia
seguinte socializar as novidades pescadas durante a caminhada. No meu caso,
recorria a escrita, fazia registros, pois nunca gostei de beber/comer em
demasia. Mas com meus cabelos de tranças, dentes pintados, estava atenta a tudo que acontecia a minha volta.
Quando digo sem saudosismo,
porque há muito tempo deixei de participar, por opção pessoal, de festas
movidas pelo consumismo exacerbado da bebida alcóolica, mas não deixo de observar a mudança radical de atitude de muitos jovens . Hoje, basta sair mais cedo para caminhada
matinal num domingo qualquer, é possível
encontrar galeras retornando de festas ao amanhecer, e não precisa ser no mês
de junho. E nem perguntar:
_ São João passou por aqui?
Ao conversar com um jovem, levemente
embriagado, alertei sobre os perigos de pilotar uma moto ingerindo bebida alcóolica,
principalmente num período festivo na cidade... E me surpreendi com a resposta irônica:
_ Eu quando bebo piloto melhor essa moto!
Sou até capaz de andar com uma roda só... Só quando bebo faço isso! Mas fique
tranquila, porque eu o João somos íntimos, afinal gostamos de
cachaça!
E a tradição junina segue... bebendo, pulando, dançando forró e quadrilhas na praça
pública. Os mais jovens de divertem,
alguns com arranhões pelas quedas, e nem precisam pintar os dentes para falsear a ausência, mas como dizem: “ Faz parte!" Agora, se quiserem beber em demasia,
encontram uma variedade de licor para
todos os gostos, nas barraquinhas de
palhas dispostas em volta do circuito
das festas juninas, comidas típicas são vendidas também. E o capitalismo mudou a cara do São João no
interior, só para servir de alerta, mesmo sem eco: É
proibida a venda de bebida para menores de 18 anos. Se beber não dirija! Evite
acidentes, não beba! ... Ah, e Feliz São João!
EA
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