quarta-feira, 11 de março de 2015

Amantes imperfeitos ( conto)




Bastara  uma troca de olhar  para as mais estranhas mensagens fossem captadas. Nos olhos de cada um, as interrogações, os medos e as ansiedades. Tentavam bloquear os pensamentos, mas sabiam que um passava a conhecer a memória do outro. E cada qual tinha que desviar as vistas para que os  segredos não  fossem ali escancarados.

Mesmo no salão, passam a se evitar. Até que ele, um homem rico, 65 anos, a procura como se tivesse com raiva e  foi direto ao ponto:

_Por que você estava  lendo os meus pensamentos?   Quem é você? 

A mulher sorriu.  Fingiu que não sabia do que aquele homem estava falando. Mesmo porque  estava saindo de um relacionamento conturbado, não queria outro por tão cedo.  No primeiro olhar, sabia que estava  caindo em mais uma armadilha do destino. E responde:

_Eu?! Você deve estar me confundindo com alguém... Como posso ler seus pensamentos? É possível alguém ler os pensamentos do outro?! Não sabia... Deve ser algo chato, não?

A fala dela causou  uma gargalhada naquele senhor. O problema que ele era considerado um homem mal humorado, arrogante e aquele sorriso franco,  atraiu as atenções não para ele, mas para a pessoa que provocou aquele milagre. A mulher, elegantemente vestida, 35  anos, logo fica vermelha, não gostava de chamar a atenção,  pede licença, pois sabia onde terminaria aquela conversa, apreensiva foge para o outro lado do salão.

 De lá percebe que o maldito  descobriu o mesmo que ela. Ele também sabia onde aquela conversa iria parar. E o sorriso dele era contagiante, como se tivesse certeza da vitória.

Na cama  de um motel de luxo os dois tentam se descobrir  sem precisar de palavras. Amantes imperfeitos. Pois viviam  tentando  bloquear os pensamentos para evitar a invasão de privacidade. Nenhum  queria  envolvimento sério, cada qual com seus problemas.  Ela  despe-se de algumas  máscaras, fala  um pouco da sua vida  desequilibrada financeiramente...  Ele ao  conhecê-la  ao original, assombra-se pensando  tratar-se  de mais uma golpista.  Não relaxa! Reprime o prazer. Tenta manter uma distância, afastando-a de sua vida, como estratégia decide trazer o passado para a cama.

 Depois de falar por quase meia hora, exaltando as características da sua ex, naquele momento tão  única e presente,   inesperadamente,  a possui como um náufrago... mesmo com a mente fervilhando de quanto aquela noite pesaria em seu bolso.

_ Sua bruxinha! Quanto você vai me arrancar?!

_ Ué, perdeu a capacidade de ler a mente?!

Sorrindo, voltam a se procurar de forma bem suave. Como se tivessem a necessidade de gravar aquele momento em suas memórias...

Sem palavras nem  promessas  ela sai  da sua vida da mesma forma que entrou, para surpresa dele que esperava um preço.  Como a conta nunca chegou... Cinco anos depois...  _Por favor, me procure, gostaria de ser seu amigo nas redes sociais!

Ela sorriu diante daquele pedido.  Ele perdera o poder de ler mentes, pois se ainda o tivesse, saberia que um amante imperfeito nunca será um bom amigo.
    
                                               Elisabeth  Amorim/ 2014

imagem da web.


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