terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O silêncio quebrado ( conto)

                   
                  De repente  percebi que ele não estava mais me procurando. Uma, duas , três semanas, meses,  sem nenhum telefonema, uma mensagem. O que é o amor sem a troca mútua, uma cumplicidade doída, mas que faz um bem danado. E aquele silêncio estava me incomodando.
                  Mas a ausência vai tomando todos os espaços que já havia tanto tempo sem notícias que nem sei mais onde morava a tal saudade. Mas, onde será que ele guardara todo o amor que havia me prometido? Onde escondera toda a paixão que jurava sentir por mim?
                Não posso ficar esperando que ele me procure, afinal foi eu quem pedi um tempo, achei que aquele amor me sufocava, agora percebo  que é a falta de amor que  sufoca.  Vou buscá-lo de volta para os meus braços, não deixarei mais esquecer nenhuma promessa. Farei a minha presença indispensável que impossível será  partir novamente.  Jamais pedirei um tempo novamente. Tempo é muito cruel, acelerou veloz  e eu  nem percebi...
                Primeiro tentei pelo número do celular, não deu certo, uma voz feminina e irritada me atendeu, dizer o quê? Desliguei imediatamente.   Percebi  também que ele não estava mais usando as redes sociais, telefonema básico para o local de trabalho também não deu certo, um estagiário novato não conhecia ninguém com aquele nome.
               Bem, só me restou uma saída. Não pensei muito para não perder a coragem. Joguei  a bagagem  no carro e partir. Cinco horas depois, estou como uma adolescente, apertando a campainha da casa do meu amor. Mil coisas passavam pela mente, como seria esse nosso encontro? Quanto tempo?  Confesso, estava nervosa.  A minha espera não demorou muito, a porta se abre e dou de cara com a sua ex-mulher. Não poderia recuar,  depois daquela  viagem iria até o final:
               -Boa tarde! Por favor, gostaria de  falar com João... somos amigos.
              A mulher sorriu  sem graça e respondeu:
             -Amigos?!  Não, acho que você nunca foi amiga de João...  Agora ele não poderá falar contigo.
              -Como? Por favor,  eu preciso falar com ele, será uma conversa breve, nem se preocupe.
            -Já disse, ele não falará contigo!
             -Mas...por favor...pela nossa amizade...
              - Se você fosse amiga, saberia que ele morreu há três meses. Amigos não perdem tempo.
              Fecha silenciosamente a porta em minha cara.

                                                               Elisabeth Amorim


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Os dinossauros em Brasília(Conto)

         Quinta-feira chega praticamente sem novidade, em  Brasília o clima estava quente,  principalmente na Câmara dos Deputados porque  a Proposta de Emenda Constitucional bem conhecida como a PEC 241 seria votada.  E como  o ponto alto da emenda  é o congelamento de gastos públicos por até 20 anos,  os ânimos estavam exaltados, pois ninguém queria perder essa votação.
               Casa cheia, deputados e senadores  presentes. A votação seria bem tranquila, apesar dos protestos  do público, com apitos, bandeiras e cartazes.  Por conta do barulho a votação foi interrompida e  o púbico teve que ser retirado.  Só que ninguém contava com a reação da Madame  Ey.  Ela ficou furiosa, pois não tinha culpa se os outros gritaram e não achou justo esvaziar o plenário:
             - Não! Não quero sair, não tenho apito e não vaiei ninguém!
             E os seguranças retrucavam:
             -Senhora, por favor, estamos apenas cumprindo ordem...
             Ey gesticulava, argumentava, até que foi arrastada do salão.
             - Eu  não vou sair. Se eu sair  essa sessão jamais  será esquecida!
           Ao chegar na rampa do Congresso Nacional,  Madame Ey, pediu para as outras pessoas se afastassem que ela daria o  troco,  e  começou a gritar alto chamando alguém:
_ DINOS! VENHAM CÁ!  DINO!
                             
Todo o pessoal deu risada, pois achou que seria uma brincadeira daquela senhora.  Outras pensaram que ela era louca, ficar gritando  o esposo daquele jeito, bem na frente do Congresso Nacional....
Não se sabe de onde saiu tantos dinossauros. Grandes, pequenos, médios... faziam um barulho estranho e ensurdecedor.  Madame Ey falou com os bichos uma língua que só eles entendiam.   E os dinossauros invadiram o Congresso Nacional fazendo algazarra, andando pelos salões, subindo escadas, indo para o local da votação... e assumindo o comando das urnas eletrônicas, quebrando tudo que encontravam pela frente. Se não tirassem os dinossauros dali, a capital do país perderia uma grande obra, no entanto eles sorriam nos telões quando se viam filmados. Dinossauros  fingiam que  davam entrevistas porque  não diziam coisa alguma, mas gostavam de se fazer notar. 
Muitos congressistas se identificaram com os dinos e até tiraram fotos com eles ao perceberem que eles não eram violentos, mas estabanados. 
                                         

Bem, até hoje não se sabe como eles conseguiram votar na tal PEC 241, mas Madame Ey garante que a votação foi legal. O caso foi totalmente esquecido, pois ninguém queria assumir que foram dinossauros que votaram ou houve um acordo secreto entre eles.   Cada um fingia que não sabia de nada, mas vez ou outra uma foto surgia nas redes sociais ao lado de um dinossauro.  Meio camuflado   um assessor de algum parlamentar foi procurar Madame Ey  para saber qual destino foi dada aos dinossauros...
_ Que dinossauros?  Eu nem sabia que tinha dinossauros em Brasília...





                                                                                            E. Amorim

Imagens do Park Shopping em Brasília/DF (fotos E.Amorim/ Marcos Amorim)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Lamento dos Candangos ( cordel)

                  

É  por conta dessa vida besta
Que passa no meu sertão
Rumo esperançoso para o Centro-oeste
Mas não quero que me chame de cabra-da-peste
Sou mais um  guerreiro cidadão
Só larguei o meu Nordeste
Por falta de opção.



Falaram que na nova Capital
De tudo vamos encontrar
Terá trabalho para todos nós
E a nossa vida vai melhorar.
Não quero saber de ostentação,
Depois que ganhar um pouquinho de dinheiro
 Volto correndo para o sertão.
      


Eita vida amargurada,
Tive que deixar  para trás a secura,
Menino, mulher e toda a bicharada
Primeiro vou sozinho em busca da fartura
Vou trabalhar em toda Esplanada
Na capital que será construída
Vou com certeza melhorar de vida.
               
                                                                               


O sonho de JK
Me  pegou desprevenido
Sem dinheiro, trabalho, morada
Larguei o sertão e vim para cá.
Achei que aqui teria conforto
Minhas mãos estão calejadas
Mas nada da construção posso desfrutar.
          

Eu sou mais um nordestino peão
 Sonhador e esfomeado.
Pedreiro de profissão,
Dizem que chegaram a 80 mil
Noite e dia na construção
Cimento, tijolo, cal, sangue e suor
Para inaugurar Brasília em 21 de abril.
           
      

Candangos  fomos batizados,
Forma discriminatória de identificação
 Um povo que ajudou com lágrimas
Construir essa nação.
Sem direito sobre o próprio destino,
Erguemos cada luxuosa construção.
 Sem espaço, expulsos os pobres  nordestinos...
                                   


Não somos candangos, mas guerreiros!
Tristes, trabalhadores  pioneiros,
Sedentos, famintos, massacrados...
Mas  na Praça dos Três Poderes
Graças à arte de Bruno Giorgi
 “Dois Guerreiros” com 8 metros de altura
Fomos finalmente homenageados ali.
              
    
Só  estou nesse lamento
Porque esse Brasil precisa mudar
Expedito e o Geldemar
 Soterrados na construção
E  só assim o povo  veio notar.
Brasília foi sonho dele...
Mas muitos  candangos morreram sem sonhar.



 Fim



Elisabeth Amorim


Ps:  Em 21 de abril de 1960 Brasília foi inaugurada pelo presidente  Juscelino Kubitschek ( JK). Na Praça dos Três Poderes a escultura " Dois Guerreiros" também conhecida como "Os Candangos" faz homenagem aos pedreiros  Expedito Xavier Gomes e Geldemar Marques , assim como tantos outros morreram na exercício da profissão durante a construção veloz da capital.  Vale lembrar que a cidade foi planejada por Oscar Niemayer e Lúcio Costa. (algumas informações foram buscadas nos sites www.nomomento.com /  www.brasilimperdivel.com )

fotos: E. Amorim/ Marcos Amorim

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O Abraço da Vida (conto)

                                                                   
       
           Esta é uma história  do tamanho da professora.  Seu nome é Vida, e como tal, a professora Vida dava realmente vida a tudo que estava a sua volta.  E olhe que há tantas coisas mortas e sem graça nesse mundo,  mas  com o olhar de  Vida  a mudança acontece sempre.
           Certo dia Vida teve mais um sonho,  ela era muito sonhadora!  Sonhou que estava num  país de leitores,  onde ela passava tinha alguém com um livro, jornal, revista... lendo  algo.  Acordou feliz, pois tinha certeza de que aquele sonho era um sinal e poderia torna-lo real.  Vai para a escola pensativa: um mundo de leitores!
         Chegando ao seu local de trabalho, nenhum leitor à vista.  Cada qual em seu canto,  virava, sorria e mexia nos aparelhos  celulares, trocando  mensagens através do  facebook...  O quê? Repita essa frase final, por favor!   - Mensagens do facebook?  Trocando mensagens através do facebook!?
           Vida sorriu, a vida está sempre sorrindo para nós, mas nem sempre a notamos. Ela sabia que aquela troca de mensagens estava proibida na sala de aula. Às escondidas os estudantes não abandonaram seus aparelhos nem os hábitos adquiridos. E o que é educação sem quebrar as proibições? - A leitura estava acontecendo bem debaixo do meu nariz -  pensou Vida sorrindo.
          A professora  liberou o uso do celular em suas aulas  mudando a cara do ensino da literatura, e foi além do que o sistema esperava.  Criou canal no youtube, blogs, sites para que as mensagens  trocadas em sala de aula migrassem para outras redes sociais e as leituras e escritas fossem mais elaboradas, ela deu um www. toquepoetico.wordpress.com  em tudo.
             Quase foi  crucificada pela ousadia, mas decidiu construir pontes que unissem estudantes e leitura, não muros. Chega de muros, precisamos de pontes! Até  no caminho da cruz  enxergou  vida,  as pedras que vieram em sua direção, recolheu-as com carinho, porque a vida só é diferente quando nela somos protagonistas. Vida ao passear a rua e vê jovens, adultos, idosos  com celular em punho,  pensa sonhadora no dia em que a multidão de leitores online transformará o mundo através das leituras virtuais. 
          E não é que o sonho de Vida  criou asas? Chegou até você esse texto?  Provavelmente tem um toque de alguém... Então receba o abraço da vida e passe  adiante.  É  fazendo a diferença que a vida fica mais bonita.
                                    E. Amorim

  

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O anjo do Congresso Nacional ( conto)



Era sexta-feira e não podia mais fugir daquela  pergunta que a semana inteira minha filha me pressionou para respondê-la. Eu não queria falar de política, mas a  garota de 10 anos, desde o dia que participou da  excursão  para o Congresso Nacional, veio toda sorridente  e questionadora:   - Mamãe, a senhora conhece o anjo que mora no Congresso Nacional?
 A primeira vez  eu gaguejei  um pouco,  mas disse-lhe que tinha almoço para fazer, outra hora inventava uma roupa para lavar...   mais de 500 deputados, uma quantidade de senadores, assessores e cia,  qual deles eu poderia considerar um anjo?  Ainda mais depois de tantos escândalos que o Brasil enfrenta e todos vindos de lá. Sabia que a minha fala, consequentemente seria repetida na escola  entre colegas, professores... Não! Eu não iria falar nada sobre políticos. A minha filha era muito nova,  tinha direito de sonhar um pouquinho com um mundo melhor.  
No entanto, comecei a sentir uma raiva da professora que  organizou aquela excursão para assistirem  a uma sessão da câmara dos deputados.  O que essas crianças ouviram lá para a minha filha  me pressionar  daquele jeito? Não!  Vou tentar ganhar tempo até a minha filha esquecer essa visita. Aposto que a professora não queria  falar sobre a corrupção política e fica jogando essas bobagens na cabeça das crianças. Um anjo no Congresso Nacional! Era só o que faltava...
Parece que quanto mais o tempo passava, mais Vitória insistia na pergunta.  Ela sabia ser persistente, mas mentir não estava nos meus planos.  Resolvo depois de adiar  aquela resposta,  abrir o jogo com a garota. Sabia que a personalidade forte dela não a deixaria esquecer  de me arrancar algo sobre os anjos do Congresso.
E começo meio titubeando...  mas sigo em frente:
_ Vitória, minha filha, lá no Congresso Nacional não tem nenhum anjo. Todos  são pessoas de carne e osso, cometem erros, uns mais graves outros mais leves, mas estão distantes de serem considerados anjos! Se a sua professora falou que tem anjo no congresso, ela estava brincando...  são  muitos deputados,  homens e mulheres...
Vitória de olhos arregalados, dessa vez  não me perguntou nada, mas afirmou:
- Minha  mãe, eu vi um anjo no Congresso Nacional, sim!  Sei que são 513 deputados,  no Plenário Ulysses Guimarães tem dois painéis, mas o anjo não estava lá,  mas no Salão Negro!
Novamente, minha raiva aumentou  da professora. Não sei que  raio de anjo ela inventou para aquelas crianças.  E o pior que me colocou naquela situação. Ter que limpar da memória de uma criança sem desencantá-la da fantasia, mas mãe é para amar incondicionalmente e corrigir quando necessário.
_Filha, sente-se aqui!  Vitória,  lá no Congresso Nacional ficam as pessoas que nós votamos.  Eu não sei o porquê a sua professora falou isso, mas você não poderá ficar repetindo que viu anjo no Congresso Nacional  pois vão rir de você, certo? Você vai me prometer que não irá mais repetir sobre o deputado que você achou que era anjo...
Vitória olha-me incrédula e diz nervosa:
- E o que faço com isso? O que faço com isso?
E mostra  a foto no celular da  grande estátua que ornamenta o Salão Negro.

(anjo do congresso nacional)




                             Elisabeth Amorim

A escritora Elisabeth Amorim no Congresso Nacional (crônica)

                                           
                             
         
 Ir para a capital do Brasil e não visitar o Congresso Nacional  e o Senado Federal  parece que falta alguma coisa.  Nada mais que justo buscar uma empresa de turismo  para guiar-me, como o transporte sairia em dez minutos, tive que correr e pagar sem ler o manual de instrução.  Após efetuar o pagamento de 50 reais (um preço salgado, não?) pelo  veículo condutor ,  usar um pulseirinha amarela,  descubro que  o tour era apenas uma vista panorâmica e a distância, pois o transporte ficaria apenas 10 minutos na Praça dos Três Poderes, mais outra paradinha de dez minutos na Catedral e  por fim mais nova parada no Palácio da Alvorada.  E pelo tempo não poderia entrar em nenhum salão. E agora, gastei meu dinheiro e o que vou postar no meu facebook? Quebrei o cofrinho de moedas para fazer minha viagem  e não ter foto para exibir?  Isso não vale, passeio de verdade tem que ter muitas fotos nas redes sociais. 

                                                    
                                                           

           


 Acho que nem a Mulher Maravilha daria conta de cumprir esse tempo, mas fazer o quê?  Espichar os olhos até as vistas alcançarem e o tempo esgotar, e pensando "Adeus meus cinquenta reais... vou sentir uma falta danada de ti." O jeito foi depois de duas horas de passeio PANORÂMICO pela linda capital do Brasil, preparar o bolso, para finalmente conhecer de fato e de direito o Congresso Nacional.  E foi uma das experiências mais  acertadas, pois dessa vez não quis saber de buscar nenhuma agência de turismo, para essas visitinhas rápidas. 
Veja a dica importante para você que não conhece,  aos sábados, domingos e feriados  as roupas informais como shorts, bermudas, minissaias, camisetas são liberadas, já que os nossos representantes não trabalham nesses dias. Estranho, não?  Seguindo esse raciocínio, deveria ser liberado a informalidade todos os dias... Deixe para lá, Congresso Nacional lá vou eu!

                            


          Na entrada um detector de metais,  deixo passar bolsa, relógio, celular, no entanto o detector não desiste de me acusar, barrando a minha entrada. Restava retirar o cinto,  olho suplicante para o guarda, e ele me entendeu de imediato, e  percebe que o “ bip” era para o cinto. Não poderia deixar minha bermuda cair,  já pensando na minha crônica,  não fui obrigada a retirar o cinto. Ainda bem, mas que daria uma crônica legal, com certeza daria. No entanto, uma das moças da entrada, olha-me simpática e diz:
                - Se for o cinto mesmo, senhora,  o guarda irá saber!
Eu estou de férias! Saio do zoológico e rumo para o Congresso, no meu bolso caberia o quê? Vou desarmada para os locais, a única coisa afiada que carrego sempre comigo é a inteligência. Eis a crônica!

          Após as boas-vindas,  recebemos um cartão postal para homenagear um ente querido, com um detalhe: “ - Esse cartão basta preenchê-lo  com  dados do destinatário que o Congresso  Nacional enviará. E você não terá nenhum custo”.  Policiei a minha língua, não a mente: " O Congresso Nacional  paga as despesas de quem?" Claro,  o nosso pagamento é outro, mas isso isso não foi falado, nem quero entrar nessa questão, afinal estou querendo desfrutar minha visita. Mais o tempo inteiro esbarro com as palavras, fazer o quê? Sou a mulher das letras... Aliás, pretendo ser. 

                                                                  
(Senado Federal)

           Os visitantes formam grupos, e  guias  os conduzem  para os diferentes locais do Congresso Nacional, a visitação começa pelo Salão Nobre com um breve filme sobre o Congresso Nacional e  a partir daí   a caminhada nas dependências que dura aproximadamente   uma hora  a uma hora e  vinte, a depender das inferências dos visitantes.   Percorrendo  aqueles espaços tão nosso  e ao mesmo tempo estupidamente distantes de todos nós, cidadãos e cidadãs brasileiras comuns que elegemos  representantes para desfrutarem daquele espaço tão requintado:   Salão Nobre, Salão Negro, Salão Verde, Praça das Bandeiras. Túnel do Tempo e muitas obras de artes, na sua maioria presentes dos artistas foram alvos dos nossos olhares  atentos.  Tanto luxo, muitas peças raras, mas sempre há aquelas obras que chamam a atenção de olhares como o meu, por terem  valor simbólico maior que o econômico:  Um anjo no centro de um daqueles salões, para mim, todos nobres,   crucifixo na parede central das bancadas  do plenário e uma  Bíblia gigante na mesa do Presidente da Câmara. São três obras que realmente chamaram a minha atenção.  E ao ser questionado o porquê das



 representações religiosas cristãs naqueles respectivos locais, já que o ecletismo religioso se faz presente na Câmara dos Deputados e Senado Federal.  E a guia explica que por conta da convenção "foram colocados lá, e quem seria o ministro ou senador que pediria para retirá-los? Naturalmente, ele compraria uma briga ferrenha com os cristãos...” Mais um detalhe: toda seção  se inicia com a leitura de um versículo  da Bíblia ou menção a Palavra de Deus, por conta também da convenção estabelecida e não pela fé do presidente da mesa que comanda a sessão. Nunca devemos usar o nome de Deus em vão, mas parece que lá no Congresso não conhecem esse mandamento. Que coisa!
                                                                                     
                                   
(Praça das Bandeiras
 Bancada dos Ministros)


           O passeio vale a pena, se você visitar Brasília não deixe de visitar o Congresso Nacional, além de ser uma visita agradável, dispõe de guias preparados e o melhor, um dos poucos lugares em Brasília que você não paga para entrar... porque se você pretende conhecer um pouco da história de JK, o presidente que fundou Brasília,  o local ideal é o memorial,  pago, certo? Ah, se a sua opção é contato direto com a natureza, recomendo o zoológico, mas lá também o bicho pega! 

(Gabinete do Presidente do Senado)



                                                                       E.  Amorim

Ps: fotos: Elisabeth Amorim/ Marcos Amorim




segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Homenagem silenciosamente gritante (crônica)


          É tão bom ser lembrado, respeitado e amado por tantas outras pessoas, mas melhor do que isso é retribuir esses gestos carinhosos: respeitando, amando  e lembrando uns dos outros para uma conversa informal, mesmo que as atribulações diárias nos aprisionem, devemos quebrar as correntes, fugir das garras dessa prisão moderna, e viver bem. Trabalhar bem  e ensinar  o melhor de cada um de nós.
          Talvez, estarei longe de fazer o que escrevo, mas  tento diariamente ser uma pessoa melhor , não para mostrar ao mundo, mas sentir-se bem comigo mesma.  Não guardo nenhum ressentimento, não alimento mágoas,  uso a escrita como linha de fuga, porque o sentimento ruim, aprisiona e amo ser livre.  Teve um tempo que achava que ensinava muito, mas hoje, com a maturidade, vejo que aprendo mais a cada dia e ensino tão pouco.  E assim, sigo, ando, corro, paro, caio, levanto... sempre respeitando o próximo, cada vez mais distante.
          Ah, quando eu morrer, reconheço que deixarei um amontoado de rabiscos, quem sabe pós-morte, aparecerá um sonhador como eu e pense em resgatá-los para  fazer novos usos dessas linhas.  Mas, não apague meu nome,  por favor!  Essa é a única homenagem que você poderá fazer em silêncio, mas para o alvo, soa gritante: Ser lembrado com carinho pelas marcas deixadas .  Fui importante para você em algum momento da vida? Então não se esqueça de mim. Ei, não é uma carta de despedida, muitos anos terei pela frente,  apenas uma crônica que surgiu de uma imagem que registrei...
          Toda vez que observo uma coroa de flores, percebo que de alguma forma o destinatário deixou marcas no coração do remetente.   A homenagem silenciosa de um anônimo qualquer, me disse tanto, na verdade, era um grito que saía de cada flor ali no chão.  Sou baiana, mas não gosto de carnaval, trio elétrico, o barulho e o excesso de luzes  fazem com que não enxerguemos e nem ouvimos nenhum outro ruído que está a nossa volta, apenas seguimos cegos  a direção  das guitarras elétricas.  E toda cegueira é terrível!  A cegueira  visual tira a  visão, mas deixa-te a luz da inteligência para que outros sentidos sejam aguçados, mas a cegueira mental  mesmo deixando-te com a visão, você não consegue enxergar nada,  porque falta a luz da inteligência. 
          Não poderia deixar de  rabiscar  sobre essa linda e silenciosa homenagem deixada  na portão principal do Supremo Tribunal Federal( Brasília – DF) no último sábado.  Uma coroa de flores  e com ela  um pedido mudo  e doído: “ Teori, onde estiver zele pelo Brasil. Obrigado!”  Como poderá o grande jurista, vítima fatal de uma acidente aéreo,  fazer alguma intervenção favorável  a nós, brasileiros?  Não, não tenho nenhuma resposta, pois o meu texto é mais um que se desmonta a partir de uma simples imagem.   A minha crônica é apenas para lembrá-los  que o nosso momento é sempre o agora, o nosso dia é hoje,  e para quem tiver dúvida e resolver  no dia do meu enterro fazer um pedido  desse gênero, antecipadamente respondo:
          -  Enquanto escrevia para te conquistar,  você nunca me notou... tarde demais!  Porque mortos não zelam por nada nem ninguém. Mas você está vivo, seja zeloso você  com a sua vida e a vida do próximo, ame-o, respeite-o e  seja feliz , pois o único tempo que te pertence é esse instante.

                      Elisabeth Amorim


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Tiririca, uma self, por favor! ( crônica)

                           
 *
           Pense numa coisa que você programou durante três meses, cuidando minuciosamente de cada detalhe. Viagem dos sonhos! Sempre tive vontade de conhecer a nossa capital, e Brasília não estava dentro do orçamento de uma simples professora. Mas o inesperado acontece: Meu filho resolve morar na capital do Brasil, agora sim, um motivo para visitá-lo. Como ir em Brasília sem conhecer o Congresso Nacional,  local em que os nossos representantes atuam?
          Visitar a capital em período de recesso na Esplanada dos Ministérios, Congresso Nacional,  deve ter os seus encantos, mas como ficaria a minha visita sem self com Tiririca? É sério, se tem um deputado que gostaria de conhecê-lo,  é o  ilustríssimo Tiririca. Sempre gostei de pessoas que afirmam a identidade, não escondem de onde veio  nem a  intenção  do caminhar.  E uma frase marcante da campanha do Tiririca foi “ Você sabe para que serve um deputado?  Eu também não sei, mas vote em mim, e te falo depois...” Ganhou a eleição com votos suficientes  e ainda carregou mais  candidatos do partido,  e na última eleição foi reeleito. E o seu slogan continuou seguindo a mesma linha: “ Olha eu de novo! Ainda não me falaram para que serve um deputado... vote em mim de novo, seu abestado!” 
          “Abestados” ou não, novamente  vitória esmagadora para o Tiririca.  O primeiro palhaço que assumiu a profissão  para conquistar o voto do eleitorado.  E eu, desde o momento que assistir a campanha de Tiririca, tornei-me fã de carteirinha dele.   Recentemente, pedi a meu filho que visse a possibilidade de visitar o Congresso durante a minha estadia de  dez dias na capital, e observar  a agenda de Tiririca. O meu filho se engasgou de tanto sorrir.  “Tiririca, minha mãe, por quê?”
           Ora, eu sou assim como o Tiririca, às vezes, fico sem saber para que serve  um professor,  pesquisador,  escritor, ou outro profissional que vive à margem.  Profissionais que estudam, fazem pesquisas com recursos próprios, produzem livros sem nenhum apoio  e  quando adverte um estudante engraçadinho: “ Estude, você não é palhaço e nem quer ser, não é?”  Não se assuste, mas a resposta é “ Veja o Tiririca! Não quero ser professor!”  Inteligência é o diferencial.  Eu gostaria de ter a inteligência de Tiririca, de ter esse diferencial que me falta.  Ele, como humorista, palhaço, foi notado numa multidão  e fez por merecer, batalhou bastante para chegar onde está hoje.  E faz da sua campanha exatamente o que o povo quer ouvir,  não promete mudar nada,  mas muda sem prometer.
           Dizem que é o deputado mais atuante do congresso. Não é novidade, quem afirma identidade não mascara, revela onde quer chegar,  por isso, ainda sonho conversar com Tiririca,  quem sabe lá no Congresso, vejo meu ídolo, mesmo estando em recesso,  irei atrás dele e pedirei: “ - Tiririca, uma self , por favor!”  Juro, eu não vou nem ligar se ele pegar meu celular e fazer uma piada qualquer por conta do modelo antigo,  só não posso revelar a minha profissão. Já pensou se aquele deputado que encantou  o país com as suas palhaçadas, seu humor voraz e inteligente,  descobre que sou professora, nordestina, baiana que ainda  sonha em ser escritora?   É ai que ele vai dizer, com certa razão, “Ó coitada, você escreve para quem mesmo?  Ainda não sei o que um deputado faz, mas continue votando em mim, sua abestada!”
                                                              ( Elisabeth Amorim)



* imagem da web.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Cercas ou pontes? ( mensagem)

*
          
         Se perguntar para qualquer fazendeiro o que é mais importante, a  construção de pontes ou cercas? Provavelmente ele optará pelas cercas.  Mesmo porque ele não gostaria que os seus animais fugissem, as plantações fossem invadidas,  sua fazenda fosse roubada... Pergunte agora para aquele indivíduo que vive ilhado, no seu cantinho e depende de um bote, uma canoa para fazer a travessia.  Aquele que precisa diariamente remar contra as correntezas para conseguir o pão de cada dia, assistência média, educação, acho que para ele a ponte seria mais útil.

           Amigos leitores,  infelizmente estamos vivendo numa sociedade murada, cercada de grades, telas, aparelhos tecnológicos e cada vez mais nos distanciamos uns dos outros.  Pode parecer bobagem, mas o mundo está vivendo sob forte tensão.  A qualquer momento a explosão acontece.  Não! Não sou pessimista, nem estou anunciando o final,  mas torço para o recomeço de uma nova era, onde   as diferentes religiões e as políticas  se respeitem. Brancos, negros e índios possam gozar dos mesmos direitos,  ricos e pobres  concorram  de igual modo em qualquer concurso público. O que temos construído a nossa volta, pontes ou cercas?
          Estamos sim, cada vez mais construindo cercas. Cerca da ignorância quando compactuamos com  a corrupção, ela fica de lá e eu de cá. Contanto que não mexa no meu salário, na minha empresa, na minha aposentadoria, nos meus benefícios, nos meus investimentos, nos meus imóveis...           Não deveria ser assim, problema social  é de todos. Cerca da falsidade, quando  delatamos  o  amigo, porque almejamos o cargo por ele ocupado. Cercas da conveniência , maledicência,  inveja...  quando não arrancamos a erva daninha que brota no nosso  jardim, nosso jardim, amigos, é o nosso coração. E as ervas daninhas são todos os sentimentos negativos que alimentamos.   Cercas que construímos sem atentarmos para elas.   Você já parou para refletir sobre aqueles que estão do outro lado não por opção,  mas pela falta de acesso?


          Realmente, quantas pessoas estão à margem e não podem atravessar? Logo, aparece um para questionar: “Quem mandou não aprender a nadar?” Será que não falta uma ponte para essas pessoas?  Será que para nadar não vai precisar de alguém que o ensine ou no mínimo o retire da água para não afoga-lo?  Muitos de nós, em nosso local de conforto, em nossas casas muradas, não enxergamos  quem passa do outro lado do muro ou quem se afogou de novo numa travessia que não escolheu.
         Que as nossas cercas sejam bênçãos para nós e para outros que estão do lado oposto. Que elas possam nos proteger das fúrias dos inimigos, porém  que das brechas possamos enxergar  os que precisam tão pouco.   Que todos os muros da ignorância sejam derrubados para que as pontes da solidariedade se levantem.  Pois cercas e pontes são fundamentais para os humanos,  o problema  é que cada vez mais acontece a desumanização do homem, e assim o homem-bicho  invade fronteiras,  derruba cercas, pontes, muros e  dissemina  o vírus da ganância.

           Enfim, a  ganância é como um saco sem fundo, quanto mais o ganancioso retira o pão, a saúde, educação dos lares de pequeninos, acha pouco, e passa a retirar os sonhos, a liberdade,  a vida.
                                     
                                                                  Elisabeth Amorim


* imagens da web

domingo, 1 de janeiro de 2017

A Casa Branca (conto)


         
          Chegava o final do ano, Vini, um jovem morador da cidade de Iaçu,  cercado de amigos,  corria aos pés de todos os santos baianos e imagináveis.  com uma taça de champanhe pedia sempre a mesma coisa:
           - Quero  um bom emprego para que eu possa ganhar muito dinheiro! Meu sonho é a riqueza!
Do outro lado  havia uma família que o amava e a cada virada do ano, os membros se reuniam, às vezes sem Vini, pediam  em comunhão:
           -  Saúde! Paz! União! Solidariedade! Prosperidade! Felicidade! Família...
          E numa dessas viradas de ano, Vini conseguiu realizar o seu sonho. Salário almejado chegou e com ele nova virada de ano...  Observa com um sorriso maroto as mensagens familiares recebidas, por alguns instantes sentiu falta de algo, mas a sua casa era tão confortável...o que estava faltando?



               - Saúde! Paz! União! Solidariedade! Prosperidade! Felicidade! Família...

               Confortavelmente, olha da sacada da sua linda casa branca os jardins bem cuidados,  para  de contar o dinheiro, aborrecido, pois teria que fazer novas contagens e muitos pacotes fechados restavam... mas não poderia deixar de passar uma mensagem de Ano Novo para seus pais, já que  no Natal não teve tempo...
               - Amém!

               Dr. Vinícius

                                                                ( Elisabeth Amorim)


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                                          Amigos norte-americanos,
Este primeiro texto  do ano não poderia ser para outros... a não ser vocês,  nossos
melhores leitores de 2016.  Que vocês possam ganhar o mundo de dinheiro, mas nunca percam os laços familiares.  A família é a base para o sucesso!

                                                   Happy New year!


  Os cinco países que mais acessaram em 2016:


1: ESTADOS UNIDOS

                                        2:  BRASIL

                                                                                     3: FRANÇA

                                                                                                                                       4: ALEMANHA

                                                                                                                                                          5 : RUSSIA


                             

                        

Literatura de mainha 6 - Afirmação de identidades

 Mais um vídeo para você prestigiar.  Textos básicos; O sapo - Rubem Alves O sapo que não virou príncipe - Elisabeth Amorim