É por conta dessa
vida besta
Que passa no meu sertão
Rumo esperançoso para o Centro-oeste
Mas não quero que me chame de cabra-da-peste
Sou mais um guerreiro
cidadão
Só larguei o meu Nordeste
Por falta de opção.
Falaram que na nova Capital
De tudo vamos encontrar
Terá trabalho para todos nós
E a nossa vida vai melhorar.
Não quero saber de ostentação,
Depois que ganhar um pouquinho de dinheiro
Volto correndo para o sertão.
Eita vida amargurada,
Tive que deixar para
trás a secura,
Menino, mulher e toda a bicharada
Primeiro vou sozinho em busca da fartura
Vou trabalhar em toda Esplanada
Na capital que será construída
Vou com certeza melhorar de vida.
O sonho de JK
Me pegou desprevenido
Sem dinheiro, trabalho, morada
Larguei o sertão e vim para cá.
Achei que aqui teria conforto
Minhas mãos estão calejadas
Mas nada da construção posso desfrutar.
Eu sou mais um nordestino peão
Sonhador e esfomeado.
Pedreiro de profissão,
Dizem que chegaram a 80 mil
Noite e dia na construção
Cimento, tijolo, cal, sangue e suor
Para inaugurar Brasília em 21 de abril.
Candangos fomos
batizados,
Forma discriminatória de identificação
Um povo que ajudou
com lágrimas
Construir essa nação.
Sem direito sobre o próprio destino,
Erguemos cada luxuosa construção.
Sem espaço, expulsos
os pobres nordestinos...
Não somos candangos, mas guerreiros!
Tristes, trabalhadores
pioneiros,
Sedentos, famintos, massacrados...
Mas na Praça dos Três
Poderes
Graças à arte de Bruno Giorgi
“Dois Guerreiros” com
8 metros de altura
Fomos finalmente homenageados ali.
Só estou nesse
lamento
Porque esse Brasil precisa mudar
Expedito e o Geldemar
Soterrados na
construção
E só assim o
povo veio notar.
Brasília foi sonho dele...
Mas muitos candangos morreram
sem sonhar.
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