segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Homenagem silenciosamente gritante (crônica)


          É tão bom ser lembrado, respeitado e amado por tantas outras pessoas, mas melhor do que isso é retribuir esses gestos carinhosos: respeitando, amando  e lembrando uns dos outros para uma conversa informal, mesmo que as atribulações diárias nos aprisionem, devemos quebrar as correntes, fugir das garras dessa prisão moderna, e viver bem. Trabalhar bem  e ensinar  o melhor de cada um de nós.
          Talvez, estarei longe de fazer o que escrevo, mas  tento diariamente ser uma pessoa melhor , não para mostrar ao mundo, mas sentir-se bem comigo mesma.  Não guardo nenhum ressentimento, não alimento mágoas,  uso a escrita como linha de fuga, porque o sentimento ruim, aprisiona e amo ser livre.  Teve um tempo que achava que ensinava muito, mas hoje, com a maturidade, vejo que aprendo mais a cada dia e ensino tão pouco.  E assim, sigo, ando, corro, paro, caio, levanto... sempre respeitando o próximo, cada vez mais distante.
          Ah, quando eu morrer, reconheço que deixarei um amontoado de rabiscos, quem sabe pós-morte, aparecerá um sonhador como eu e pense em resgatá-los para  fazer novos usos dessas linhas.  Mas, não apague meu nome,  por favor!  Essa é a única homenagem que você poderá fazer em silêncio, mas para o alvo, soa gritante: Ser lembrado com carinho pelas marcas deixadas .  Fui importante para você em algum momento da vida? Então não se esqueça de mim. Ei, não é uma carta de despedida, muitos anos terei pela frente,  apenas uma crônica que surgiu de uma imagem que registrei...
          Toda vez que observo uma coroa de flores, percebo que de alguma forma o destinatário deixou marcas no coração do remetente.   A homenagem silenciosa de um anônimo qualquer, me disse tanto, na verdade, era um grito que saía de cada flor ali no chão.  Sou baiana, mas não gosto de carnaval, trio elétrico, o barulho e o excesso de luzes  fazem com que não enxerguemos e nem ouvimos nenhum outro ruído que está a nossa volta, apenas seguimos cegos  a direção  das guitarras elétricas.  E toda cegueira é terrível!  A cegueira  visual tira a  visão, mas deixa-te a luz da inteligência para que outros sentidos sejam aguçados, mas a cegueira mental  mesmo deixando-te com a visão, você não consegue enxergar nada,  porque falta a luz da inteligência. 
          Não poderia deixar de  rabiscar  sobre essa linda e silenciosa homenagem deixada  na portão principal do Supremo Tribunal Federal( Brasília – DF) no último sábado.  Uma coroa de flores  e com ela  um pedido mudo  e doído: “ Teori, onde estiver zele pelo Brasil. Obrigado!”  Como poderá o grande jurista, vítima fatal de uma acidente aéreo,  fazer alguma intervenção favorável  a nós, brasileiros?  Não, não tenho nenhuma resposta, pois o meu texto é mais um que se desmonta a partir de uma simples imagem.   A minha crônica é apenas para lembrá-los  que o nosso momento é sempre o agora, o nosso dia é hoje,  e para quem tiver dúvida e resolver  no dia do meu enterro fazer um pedido  desse gênero, antecipadamente respondo:
          -  Enquanto escrevia para te conquistar,  você nunca me notou... tarde demais!  Porque mortos não zelam por nada nem ninguém. Mas você está vivo, seja zeloso você  com a sua vida e a vida do próximo, ame-o, respeite-o e  seja feliz , pois o único tempo que te pertence é esse instante.

                      Elisabeth Amorim


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