Era sexta-feira e não podia mais
fugir daquela pergunta que a semana inteira
minha filha me pressionou para respondê-la. Eu não queria falar de política, mas a garota de 10 anos, desde o dia que participou
da excursão para o Congresso Nacional, veio
toda sorridente e questionadora: -
Mamãe, a senhora conhece o anjo que mora no Congresso Nacional?
A primeira vez eu gaguejei um pouco, mas disse-lhe que tinha almoço
para fazer, outra hora inventava uma roupa para lavar... mais de
500 deputados, uma quantidade de senadores, assessores e cia, qual deles eu poderia considerar um
anjo? Ainda mais depois de tantos
escândalos que o Brasil enfrenta e todos vindos de lá. Sabia que a minha
fala, consequentemente seria repetida na escola
entre colegas, professores... Não! Eu não iria falar nada sobre políticos.
A minha filha era muito nova, tinha
direito de sonhar um pouquinho com um mundo melhor.
No entanto, comecei a sentir uma
raiva da professora que organizou aquela excursão para assistirem a uma sessão da
câmara dos deputados. O que essas
crianças ouviram lá para a minha filha me pressionar daquele jeito? Não! Vou tentar ganhar tempo até a minha filha
esquecer essa visita. Aposto que a professora não queria falar sobre a corrupção política e fica jogando essas
bobagens na cabeça das crianças. Um anjo no Congresso Nacional! Era só o que faltava...
Parece que quanto mais o tempo
passava, mais Vitória insistia na pergunta.
Ela sabia ser persistente, mas mentir não estava nos meus planos. Resolvo depois de adiar aquela
resposta, abrir o jogo com a garota.
Sabia que a personalidade forte dela não a deixaria esquecer de me arrancar algo sobre os anjos do Congresso.
E começo meio titubeando... mas sigo em frente:
_ Vitória, minha filha, lá no
Congresso Nacional não tem nenhum anjo. Todos são pessoas de carne e osso, cometem erros,
uns mais graves outros mais leves, mas estão distantes de serem considerados
anjos! Se a sua professora falou que tem anjo no congresso, ela estava
brincando... são muitos deputados, homens e mulheres...
Vitória de olhos arregalados, dessa vez não me perguntou nada, mas afirmou:
- Minha mãe, eu vi um anjo no Congresso Nacional, sim!
Sei que são 513 deputados, no Plenário Ulysses Guimarães tem dois
painéis, mas o anjo não estava lá, mas
no Salão Negro!
Novamente, minha raiva aumentou da professora. Não sei que raio de anjo ela inventou para aquelas
crianças. E o pior que me colocou
naquela situação. Ter que limpar da memória de uma criança sem desencantá-la da fantasia, mas mãe é para amar incondicionalmente e corrigir quando necessário.
_Filha, sente-se aqui! Vitória, lá no Congresso Nacional ficam as pessoas que
nós votamos. Eu não sei o porquê a sua
professora falou isso, mas você não poderá ficar repetindo que viu anjo no
Congresso Nacional pois vão rir de você,
certo? Você vai me prometer que não irá mais repetir sobre o deputado que você
achou que era anjo...
Vitória olha-me incrédula e diz nervosa:
- E o que faço com isso? O que faço com isso?
E mostra a foto no celular da grande estátua que ornamenta o Salão Negro.
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