sexta-feira, 13 de maio de 2016

A mulher e as portas ( crônica)

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Sem essa de coitadinha, frágil, delicada... Mulher é sim, uma criatura bem forte.  Acredito que a força e a determinação residem nas mulheres, independente da cor, religião ou  condição social.  Em todas as épocas  as mulheres silenciosamente  ou silenciadas brigaram para o não apagamento da espécie.  Uma briga desleal, injusta onde forças físicas contrárias se enfrentavam.  E para serem mulheres notáveis que muitas hoje são,  houve muitos arrombamentos  de portas.
E não  quero falar das ondas feministas, perseguições,  sufrágio... de uma época, quando tão atual as violências se repetem de diferentes formas.   Mas, direcionar esses rabiscos para as arrombadoras de portas, como as mulheres que ousaram a  penetrar num território que era tipicamente  masculino,  pelo menos assim era visto o mundo literário.
 Escrever não era uma tarefa  destinada àquelas que tinham que aprender bordar, cozinhar, tocar piano, cuidar das prendas domésticas  e  afastadas do espaço público. Citar nomes, talvez, seria  até uma injustiça porque sabemos daqueles  nomes que de alguma forma,  as universidades abraçaram as pesquisas.  E as outras que não tiveram  esse abraço?  Continuam seus textos nos velhos baús ou nas teias das redes sociais.
Que a mulher escreve desde  o período em que a escrita era apenas acessível  ao homem livre, clero,  isso  é fato.  Não foi por acaso que muitas mulheres por conta  dos “rabiscos” , foram trancafiadas, amordaçadas, como loucas para não subverterem a ordem social.  Mulheres tiveram que aceitar ( provisoriamente)  a “Vida Maria” do sistema, onde  leitura não fazia parte das prendas domésticas.  
Imaginem a batalha travada,  o percurso percorrido pelas primeiras mulheres que ousaram publicar seus textos?  Elas arrombaram as portas!  Até hoje é muito difícil encontrar a porta aberta para quem inova e subverte a ordem.   Por isso que é bem mais fácil e cômodo  viver na mediocridade, mesmice.  Porque viver acima da mediocridade é  preciso se destacar na multidão, e a mulher que se destaca é cassada...
   Resta-nos  repetir aquele grito saindo das entranhas de Simone de Beauvoir   “Não se nasce mulher, torna-se!”
Torna-se mulher para lavar as louças sujas do almoço, janta e café da manhã ?
Torna-se mulher para cuidar da casa, esposo, e das crianças, enfrentar as batalhas duplas de trabalho, nos espaços privado e público?
Torna-se  mulher para satisfazer o seu parceiro na cama, mesmo quando a satisfação pessoal  é para o segundo plano?
Torna-se mulher para arrombar as portas que estão trancadas para ela?  
  E se por ventura o espaço conquistado com muito suor e lágrimas for ameaçado?  E se  passarem a rasteira querendo o  lugar da mulher?
Torna-se mulher ...  sempre. 
 Levante-se!  Às vezes,  arrasada pelo tombo levado... mas segue adiante em busca de outras portas para serem novamente arrombadas,  porque  a participação da mulher na literatura não tem corrupção que apague.


                                  E. Amorim




* imagem livre da web, apenas ilustração.

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