Hoje quero homenagear
esse grande professor mineiro, de Boa Esperança, chamado Rubem Azevedo Alves (1933-2014), teólogo,
tradutor, pedagogo e escritor brasileiro. Morreu discretamente, sem os
holofotes da mídia, deixando um legado para
os profissionais da educação. Este
espaço é pequeno para sintetizar as suas contribuições, mas, percebi esse
débito com esse professor-escritor, por isso essa página. Peço licença aos meus
leitores, ávidos pela literatura baiana, mas que tal um mergulho na fonte
cristalina de Rubem Alves?
Primeiro texto que
trago a tona é “Política e Jardinagem”, numa inspiração soberba, Rubem Alves
mostra a distinção e o compromisso de cada elemento desses setores, que se unem
quando colocam o amor e o bem da coletividade acima dos desejos pessoais. Ao
fazer alusão ao papel do escritor na vida política de uma sociedade, diz: “O
escritor tem amor mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por
vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins
em jardins de verdade.”
Quanta
sabedoria! Rubem Alves diz que a
literatura poderá modificar uma cidade, dependendo da vontade política. Ao
comparar o político com jardineiro é porque o investimento literário se volta
como flores e todos ganham: comércio, turismo, cultura, educação... Alguém se
lembra de Ilhéus sem a marca de Jorge Amado?
Geralmente, nem conhecemos a historia de vida do jardineiro, mas as
flores plantadas por ele são vistas à distancia.
Outro texto desse
grande escritor é “Se é bom ou se é mau...” Ele apresenta uma lição de vida.
Fala numa linguagem simples e direta para seguirmos adiante, não engessarmos
diante dos obstáculos. Ele clama para
não se lamentar por fatos que aborrecem e modificam a trajetória. Por quê? Aquele fato que nos pareceu mal, poderá nos
causar um bem mais adiante. E ao longo do texto narrativo, diante de acertos e
desacertos ocorridos a frase se repete: “Se é bom ou se é mau, só o futuro
dirá...
E não poderia ficar de
fora desse mergulho a crônica que mostra a tentativa de domesticação que muitas
escolas se submetem a fazer com seus alunos,
titulo: “ Os grandes contra os pequenos”. Texto simples, conta a história
de uma criança que fica horas tentando decorar o que diz o livro didático, para
escapar da avaliação ( te peguei!), enquanto o que ela tem a dizer não é ouvido nem respeitado.
Ao
reler essa crônica de Rubem Alves, lembrei-me de uma situação que presenciei há
algum tempo, uma mãe constrangida porque sua filha de 11 anos estava angustiada
por conta da avaliação que faria de acordo com um livro literário adotado. A cada parágrafo lido, diante de algumas
cenas de sexo, a menina questionava a mãe: “Minha mãe, o que é mostrar...?” “O
que é...?” E mãe, olhava-me, pedindo socorro.
Falando em socorro, nas
“escolas gaiolas e escolas asas” que esse grande escritor nos revelou, de certa
forma, um convite aos profissionais da educação para olharem, não para as
escolas, mas para si mesmos. Porque escola é um conjunto que não pode ser vazio.
E a pergunta é: As minhas práticas pedagógicas aprisionam ou libertam meus alunos?
Como disse, são
inúmeras contribuições de Rubem Alves que sacodem as nossas frágeis bases. No entanto, uma das
lições que unir à minha prática pedagógica é justamente sobre a escuta sensível.
Isso porque “toda fala só é bonita quando nasce de uma longa e silenciosa
escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina...” Dizer o quê? Depois de Rubem Alves tornei-me uma
profissional melhor. Pelo menos me esforço para ser.
E lembro-me de uma ação
que cometi há muito tempo, no início da caminhada pedagógica, mas até hoje me
envergonho da minha falta de sensibilidade. Havia marcado uma avaliação e
avisei que faria a segunda chamada só mediante um atestado médico. No dia da prova, uma ausência. Um aluno bom
da zona rural faltou. Aquilo me
aborreceu, pois teria que elaborar nova prova. Na aula seguinte, ele veio se justificar,
antes de ouvi-lo até o final, cobrei o atestado médico. Ele com os olhos
marejados, respondeu baixinho e amedrontado como se tivesse diante de um
gigante: “Posso trazer a certidão de óbito de minha mãe?” Choramos juntos. E
nos tornamos grandes amigos, e eu, mais humana.
Confesso, essas crônicas funcionam como um
“puxão de orelhas” às minhas práticas pedagógicas arrumadinhas e inquestionáveis.
O que ensino e o que aprendo com meus alunos? O que é educação sem essa re-visão? Sem tecer cada fio para conectarmos
uns aos outros num sentido somatório e não excludente.
De tudo que aprendi com
Rubem Alves o mais marcante resumo aqui: avalie seus alunos exatamente como
você gostaria de ser avaliado por eles. Se
após essa reflexão continuar satisfeito com o resultado, parabéns!
E. Amorim
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