sábado, 21 de fevereiro de 2015

O professor e o padeiro (crônica)





  
 Recordo-me da crônica   “O padeiro”, de Rubem Braga. Quem era o padeiro? Segundo a fala da empregada: “ Não é ninguém, é o padeiro!”   Como pode haver tamanha anulação de um indivíduo?  Todo  percurso para ele chegar até a casa da patroa levando o alimento  foi ignorado.   Será que para ser alguém é preciso ter dinheiro? Sou professora, sou algu... xi, tornei-me invisível?!!
De repente,  uma visita de um ex-aluno. Viajei.  Como  ele estava concluindo a graduação, provavelmente  voltou para ajudar a velha professora sonhadora.. . motivo de várias discussões no passado.  Parabenizo-lhe por ter escolhido o local que conhecia e  amava, apesar de propagar o contrário. E surpreendi  com a resposta:
_ Professora, a senhora acha que iria para outro canto? Aqui... aqui  véi, ninguém ensina nada, c*! Quem aprende aqui?!
 Fiquei em choque. Lendo a  fala da empregada  discordo  da  reprodução. Ela falava o que a sua patroa queria ouvir para não ser incomodada.  Mas alguém letrado  repetir o senso comum...   Apontei para os cartazes nas paredes, frutos de oficinas, pesquisas e muitas leituras em diferentes áreas.   Ainda chamei a atenção para duas matérias nos jornais  on line do MEC e da SEC/BA -2014  que destacaram as práticas de leituras desenvolvidas na referida escola. São anos de lapidação. E de repente...
 É tão fácil apagar. É  só passar uma borracha e fingir que não existe. Difícil é  reconhecer méritos de profissionais que carregam bandeiras.    O apagão do meu “ex” me deixou no chão...  O chão foi providencial, mas custava deixar o tapete?  Dei esse presente para a literatura em homenagem aos meus colegas professores.    Restou-me  questionar: como você conseguiu aprovação em duas universidades públicas ao sair daqui sem aprender nada? Jovem, quem foi teu mestre?!    Silêncio.  Sorriso.
Lamentável, tornei-me  invisível, véi !  De repente descobri que nunca aprendi essa língua, também ela é difícil para c*!  Antes que ele volte à escola para repetir que   “não somos ninguém... ”,  roubo  a cena e digo:
 _ Ei, moço letrado!  O professor é alguém , sim ! E o padeiro também! E somos nós que  em diferentes espaços fornecemos o alimento que chega até  você!
                                                     
                                                               Elisabeth Amorim/2014

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