Seu nome era Carmen. Poderia ser Rita, Maria, Ana, Quitéria,
Patrícia, Elisabete, Joana ou Dulce como tantas outras mulheres que nasceram na
Bahia. Mãe, mulher, tia, irmã, prima,
filha, amiga, vizinha, professora, aluna
como outra qualquer, tantos status sociais desempenhados mas seus fregueses só enxergavam como “Baiana do Acarajé”. Por quê? Carmen além
dos tantos papéis assumidos para
aumentar a renda familiar tornara vendedora de acarajé lá na Praia do
Forte, em Mata do São João, na Bahia.
No início Carmem
estranhava o apelido pois não ouvia alguém
chamar o turista de “
Pernambucano do Chapéu” nem muito menos
“ Carioca do sapato” ou “
Paulista dos bolinhos de chuva”, “Sergipana da torta de morango” mas para ela o reforço tinha que acompanhar. E a cada pedido de um freguês que ignora as placas porque não gosta de fazer
leituras... ela sempre atenta, ouvia:
_“Baiana, qual o
preço do acarajé?”
Com um belo sorriso,
Carmen respondia apontando a tabela de preços gigante na barraca:
_Bom dia! Eu sou Carmen e
o acarajé custa sete reais sem
camarão e com camarão você pagará oito
reais.
E diante de tantos “Ô Baiana!” Carmen se rendeu. Não adiantava colocar a placa de “ Carmen do
Acarajé” porque os clientes só liam
substituindo o nome próprio, aquele do batismo que provavelmente os pais
dela sentaram para escolher, pelo
adjetivo pátrio, nesse caso, renomeado.
Muitos nem imaginavam que Carmen recebera esse nome em homenagem a uma
grande mulher que levou o nome da Bahia para o mundo. Uma mulher portuguesa, isso mesmo, uma estrangeira que se apaixonou pela cultura
baiana.
No dia 8 de Março, marcado pelo Dia Internacional da Mulher, um grupo de
estudantes de Ensino Médio foi entrevista-la.
Afinal a linda vendedora de acarajé
é uma representação da
Bahia. Ela divulga a comida típica, roupa, charme e a cultura do lugar. A entrevista fora marcada na casa dela e ao encontrá-la sem o tabuleiro, mas com um lindo turbante
azul, um dos estudantes pergunta:
_Ô Baiana! Ô Baiana com turbante azul, como é seu nome?
E Carmen sorri e responde com muito orgulho:
_ Sou Carmen Miranda.
Um estudante olha para o outro como se nada entendesse. Não
queria dizer que achava que a “Carmen Miranda da Cunha, nascida em Portugal em
1909 teria falecido no Rio de Janeiro
em 1955...” E para não se comprometer com uma pergunta indiscreta diz:
_ Beleza, beleza. Mas
por favor, Dona Carmen... Nós sabemos o quanto a sua imagem é usada no mundo todo. Todos nós, baianos,
agradecemos o papel que a senhora faz enaltecendo a cultura do nosso estado. E
falar de mulher que faz a diferença na
Bahia , o seu nome é o primeiro... Esse “ Carmen” é o seu apelido, não é? Agora diga para gente
o seu nome verdadeiro:
Com uma gargalhada Carmen responde:
_ Ah, meu nome é Baiana do Acarajé.
E os estudantes falam em coro:
_Na Bahia tem mulher arretada!
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