sábado, 28 de fevereiro de 2015

AMÉLIA (Rodrigues), uma professora de verdade ( Série Mulher Baiana 2.5)


Poucas mulheres conhecem a luta dessa grande professora baiana,  nascida no século XIX,  na fazenda Campos que ficava no distrito de Santo Amaro, na Bahia.  Amélia Augusta do Sacramento Rodrigues, ou simplesmente AMÉLIA RODRIGUES (1861 -1926)  foi e continua sendo um dos grandes nomes de mulher que fez acontecer através da profissão e assinou com letras douradas que ser  “Amélia” não é a mulher que espera acontecer, mas que faz a hora e muda a  sua história.
Amélia Rodrigues, a filha de pais pobres Félix e Maria Roquelina Rodrigues, desde  os 12 anos inicia a sua carreira como escritora. Quem abraça uma escritora pobre? Além de escritora,  Amélia tinha inclinação para o jornalismo, outro agravante  da época. Porque uma mulher solteira escrevendo para os jornais e divulgando poesias não tinha o apoio  imediato da sociedade. Esse apoio veio após a afirmação do seu trabalho como professora e projetos desenvolvidos em prol da Educação e Literatura.  Amélia era  uma pessoa prendada que  além de dominar a literatura clássica, estudou latim, francês, alemão tornando-se uma mulher de cultura  erudita,  conseguiu o primeiro lugar em concurso público para professor aos 19 anos . Em pouco tempo conseguiu a transferência para Salvador.
A inteligência de Amélia Rodrigues fez com que ela estreasse no teatro  como autora da peça  Fausta  onde foi ovacionada pela plateia. Além de poesias, ela escreveu também vários infantis.  Só  aos 22 anos  consegue publicar as poesias.  E como havia (há) muitas restrições para apoiar uma mulher que decide ser escritora, Amélia começou a publicar usando pseudônimos, inclusive nomes masculinos como “ Zé d’Aleluia” por exemplo.
Amélia Rodrigues tinha consciência da sociedade patriarcal na qual estava inserida.  Se ela, uma mulher estudiosa, professora  não tinha acesso,  “ele” teria com os textos dela, pois o objetivo era divulgar, fazer circular a sua produção.  Com isso,  a grande professora introduz pinceladas do feminismo em suas poesias e funda uma revista, para que as mulheres tivessem onde publicar, em parceria com outras mulheres intelectuais criaram    “A Paladina” , sendo o primeiro instrumento  feminista na Bahia. E mais uma vez, ao perceber as portas se fechando,   as ideias feministas eram vistas de esguelha em todos os países.   Sentou-se para chorar as mágoas por não ser compreendida? NÃO!  Essa atitude não seria de Amélia. O que fez a  professora escritora?
Amélia queria que as mulheres  não permanecessem  anuladas na sociedade e desempenhassem as funções por  elas escolhidas. Vale registrar que devido o excelente trabalho desenvolvido   contou com algumas parcerias, seja de grandes representações da sociedade de Santo Amaro e Salvador ou da própria Igreja que frequentava ativamente.  Dedicou-se em instruir mulheres para que independente da posição social  cada uma alcançasse  satisfação pessoal na área  e/ou  função desempenhada.  Ela ajudou a construir atelieres de costura, fundou  escola para mulheres, pensionatos  para apoiar mulheres que pretendiam estudar na capital baiana e com   apoio da  Igreja Católica  publica  vários textos em periódicos mantidos pela instituição religiosa e passa a conquistar  espaços em   jornais da Bahia.  Fundou a “Liga das Senhoras Católicas”  e  “A Paladina”  torna-se  “A Paladina  do lar”. Talvez essa  mudança foi estratégica para driblar os ataques ao feminismo, pois o “ do lar” reforça a condição destinada às mulheres daquele período. E não foi por acaso que ela introduzia no currículo além das “prendas domésticas” noções de economia, talvez já com intuito que as mulheres buscassem a liberdade econômica através do emprego.
WWL
Uma das quebras de costumes da época foi o casamento.  Pois Amélia  Rodrigues não precisou casar-se para  ser aceita .  Todas as prováveis críticas machistas às suas posições políticas  eram respondidas com trabalho.  Mesmo aposentada, Amélia continuou se dedicando as causas defendidas.  Deixou várias obras, tanto no campo assistencial com foco na mulher quanto literário e educacional  Aquela mulher do século XIX prendada para o lar e ser subserviente ao esposo, após a vida da professora, escritora, teatróloga, jornalista, palestrante, poetisa,  articulista, editora e revisora  Amélia Rodrigues que morreu aos 65 anos,   ganhou uma outra conotação.
E  para os nobres leitores,  DEVANEIOS   de Amélia Rodrigues, a nossa professora baiana que recebe a nossa homenagem de um  TOQUE  POÉTICO!
                               
Noite de lua, noite serena.
Que me refresca a fronte agora,
Vem consolar-me… dilui a pena
Desta alma triste _ que canta e chora.

Brilho suave  _ manto doirado
De anjo, que longe, longe…flutua,
Desce ao recanto desamparado
Desta alma triste _ que não tem lua.

Perfumes doces de abertas flores,
Essências finas e capitosas,
Enchi de incensos embriagadores
Esta alma triste _ que não tem rosas.

Vozes celestes, vozes divinas
De harpas tangendo na etérea plaga,
Modulai trenos e cavatinas
A esta alma triste _ que a dor esmaga.

Noite suave, noite de lua,
Oh! Dá-me um sonho que me conforte!
_Finge que levas na gaze tua
P’ra o céu, esta alma _ que anela a morte!
( Amélia Rodrigues, Devaneios)
Com esse texto pretendemos mostrar que a Amélia Rodrigues  modificou uma cultura de uma época, período em que as moças eram educadas para o casamento, a jovem decidiu investir na carreira de escritora, educadora, orientadora… E não foram poucos os abraços recebidos, afinal a jovem provou que não era apenas mais uma “Amélia”, mas uma   professora de verdade.
Leitura básica:  Amélia Rodrigues: uma escritora baiana do século XIX  de Ivia Alves/UFBA (  livro:Eu vim contar coisas da Bahia)
8 de Março, Dia Internacional da Mulher… Baiana
                                                            Abraços,
*Imagens da WEB, foto de Amélia Rodrigues e a Estátua com o busto da professora escritora que foi homenageada( muito justa) com uma cidade  que leva o seu nome.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Baiana do Acarajé ( Série Mulher Baiana 1.5)*

**

Seu nome era Carmen. Poderia ser Rita, Maria, Ana, Quitéria, Patrícia, Elisabete, Joana ou Dulce como tantas outras mulheres que nasceram na Bahia.   Mãe, mulher, tia, irmã, prima, filha, amiga, vizinha, professora,  aluna como outra qualquer, tantos status sociais desempenhados  mas seus fregueses  só enxergavam   como “Baiana do Acarajé”. Por quê? Carmen além dos tantos papéis assumidos para  aumentar a renda familiar tornara vendedora de acarajé lá na Praia do Forte, em Mata do São João, na Bahia.
 No início Carmem estranhava o apelido  pois não ouvia alguém chamar  o turista  de  “ Pernambucano do Chapéu”  nem muito menos “ Carioca do  sapato”  ou   “ Paulista dos bolinhos de chuva”, “Sergipana  da torta de morango”  mas para ela o reforço tinha que acompanhar.  E a cada pedido de um freguês  que ignora as placas porque não gosta de fazer leituras... ela sempre atenta,  ouvia:
 _“Baiana, qual o preço do acarajé?”
 Com um belo sorriso, Carmen respondia apontando a tabela de preços gigante na barraca:
_Bom dia! Eu sou Carmen e  o acarajé  custa sete reais sem camarão e  com camarão você pagará oito reais.
E diante de tantos “Ô Baiana!” Carmen se rendeu.  Não adiantava colocar a placa de “ Carmen do Acarajé” porque os clientes só liam  substituindo o nome próprio, aquele do batismo que provavelmente os pais  dela sentaram para escolher,  pelo  adjetivo pátrio, nesse caso,   renomeado.  Muitos nem imaginavam que Carmen recebera esse nome em homenagem a uma grande mulher que levou o nome da Bahia para o mundo.  Uma mulher portuguesa, isso mesmo,  uma estrangeira que se apaixonou pela cultura baiana.
No dia 8 de Março, marcado pelo Dia  Internacional da Mulher, um grupo de estudantes de Ensino Médio foi entrevista-la.  Afinal a linda vendedora de acarajé  é  uma representação da Bahia.  Ela divulga  a  comida típica, roupa, charme  e a  cultura do lugar.  A entrevista fora marcada  na casa dela e ao encontrá-la  sem o tabuleiro, mas com um lindo turbante azul,  um dos estudantes pergunta:
_Ô Baiana! Ô Baiana com turbante azul,  como é seu nome?
***

E Carmen sorri e responde com muito orgulho:
_ Sou Carmen Miranda.
Um estudante olha para o outro como se nada entendesse. Não queria  dizer que achava que a “Carmen  Miranda da Cunha, nascida em Portugal em 1909   teria falecido no Rio de Janeiro em 1955...” E para não se comprometer com uma pergunta indiscreta diz:
_ Beleza, beleza.  Mas por favor,  Dona Carmen...  Nós sabemos o quanto a sua imagem é  usada no mundo todo. Todos nós, baianos, agradecemos o papel que a senhora faz enaltecendo a cultura do nosso estado. E falar de mulher que  faz a diferença na Bahia , o seu nome é o primeiro... Esse “ Carmen”  é o seu apelido, não é? Agora diga para gente o seu nome verdadeiro:
Com uma gargalhada Carmen responde:
_ Ah, meu nome é Baiana do Acarajé.
E os estudantes falam em coro:
_Na Bahia tem mulher arretada!


                                                           Elisabeth  Amorim

*  Homenagem às mulheres que representam bem a Bahia fora do nosso estado.
                    8 de Março é o Dia Internacional da Mulher...BAIANA

** Miranda, Baiana do acarajé. ( tela em óleo disponível na WEB)
*** Lina Miota, Baiana com turbante azul ( tela em óleo disponível na WEB)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Samba e suor ( conto)


Era  noite de lua cheia, época da escravidão. Da casa grande o Coronel Viramundo observava a grande roda de seus escravos no terreiro.  No entanto seu olhar se perdia nos movimentos de Lindinha.  A filha de  uma das escravas, tornou-se aquele mulherão! Tal mãe, tal filha! Sorriu.
Na verdade, o “mulherão”  era uma jovem que estava comemorando o seu aniversário de 17 anos.  Pele  escura, seios fartos, coxas roliças, cabelos ondulados e longos, olhos graúdos e esverdeados mostrando claramente, a mistura étnica...  parecia que havia uma mola na cintura da jovem. Sambava na grande roda, gargalhando das brincadeiras dos companheiros.   Ao tentar sair, logo era abraçada e devolvida ao centro.  Maria Linda  estava radiante naquela noite.
A sua felicidade era contagiante. O coronel Viramundo de repente começou a sentir a necessidade de se aproximar de Lindinha.  Queria também ser abraçado por aquela menina-mulher que exalava vitalidade. Olhava ao redor, via o seu império construído, mas vazio, sem risos, sem barulho. As pessoas pareciam que voavam em sua presença para não incomodá-lo. Até a sua esposa, Sinha Alma,  nenhuma emoção esboçou quando foi avisada há mais de um ano que ela mudaria de  quarto,  pois a partir daquela data ele gostaria de ficar sozinho.  Quando precisasse, ele  a procuraria... Sinha Alma aguardava a vontade do coronel.
Coronel Viramundo sentia que o seu corpo pedia aquela menina-mulher... Teria que fazer algo. E fez, através  de outro escravo de casa, descobre se tratar de uma festa de aniversário...  manda uma boa quantidade de bebida para os escravos, mas pede a presença da aniversariante na casa grande.
Maria Linda chega até Viramundo :
_O Sr. coronel precisa de mim?
Ao vê-la de perto  ela fazia jus ao nome, belíssima. Como aquela menina crescera rápido! Observa a  blusa branca na pele negra, sente que estava ofegante, via os fartos seios desenhados e molhados de suor...
_Sim, quero que dance da mesma forma que estava dançando lá no terreiro! Sambe só para mim!
_ Sam...bar?! Senhor. Sambar?!
Sambe, agora! Dê-me o seu melhor  sorriso!  Beba isso! Você não quer que eu vá lá fora e acabe com a sua  gente no tronco?!


Era uma ordem estranha, mas Lindinha era escrava, devia-lhe obediência... Sua mãe trazia marcas de queimaduras pelo corpo ao tentar resistir aos caprichos do outro coronel, pai de Viramundo... E passa a sambar, inicialmente tímida. Depois, após a bebida,  solta-se na dança  sensual. E o coronel não resistiu... Mais tarde ele diria que a culpa era dela que o seduziu com uma dança!
Viramundo rodopiou o mundo nos braços de Lindinha. Do submundo que ele a conduziu, era  samba e suor...  Ela ainda tinha que aguentar as piadas das outras escravas que passaram pelos mesmos dramas patronais: Que negrinha assanhada!
Até hoje, Linda, mesmo com uma  alforria debaixo do braço, luta para combater os estereótipos e preconceitos contra a mulher negra. Conseguiu  grandes vitórias:  sair da senzala, ir para a escola, entrar na política, escrever livros, trabalhar no serviço público,  ir para a televisão... mesmo em cotas,  alguns obstáculos foram superados.  Vez ou outra,  sofre discriminação devido a cor da pele.  Não se incomoda, anda de cabeça erguida, porque o tempo de  sambar  para o coronéis  ficou para trás.

                       
                       
                                         Elisabeth Amorim

                                                  Bahia/2014

Imagem 1: Di Cavalcanti, Samba.
Imagem 2: Jean-Auguste Dominique Ingress, Mulher negra.
 

Enviado por Elisabeth Amorim em 10/08/2014
Reeditado em 15/11/2014
Código do texto: T4916831
Classificação de conteúdo: seguro

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.



Comentários de Escritores Cadastrados no RECANTO DAS LETRAS


16/01/2015 18:52 - EMECÊ GARCIA
Olá, amiga minha! Certamente enquanto mulher-escritora, segues as trilhas de uma Raquel de Queiroz, por emacipação da expressão na liberdade da escrita e, acima de tudo, em teu conterrâneo, Jorge Amado em contos que refletem belamente a realidade baiana. Este conto, por exemplo, revela Lindinha como uma emacipada, tal como Evaneide do meu conto. Todavia, o fato de ser negra, nordestina, pobre parece-nos muito pouco, diante a crueldade a sociedade ainda com relação ao ser FÊMEA, MULHER, MÃE, MENINA, ETC.

01/12/2014 21:43 - Edilson Souza (Malgaxe)
É bem verdade que na época da escravidão os ditos coronéis, chefes políticos, tinham poder de vida e morte sobre os seus escravos e família, e o que faltava para que aquele estado de coisas acabasse? Uma oposição aos coronéis, ela foi feita e foi suficiente para acabar com a escravidão. Hoje, evidentemente esta oposição tem outro foco, a discriminação racial, outro foco, mas o mesmo problema que fez a demora para a libertação, a desunião. Desculpem, mas há negros omissos, há negros incrédulos de que sua raça continua sofrendo, há negros satisfeitos com a discriminação dos próprios negros, por estarem num patamar social elevado!

27/11/2014 23:13 - Maria Eugenia Santos
Maravilhoso conto e bem real, ate no dia de hoje temos q se virar com os preconceitos e outras coisas mais... amei ler seu conto fiquei extremamente comovida e emocionada... abraços.

07/11/2014 16:00 - Meire Perola Santos
parabens belissimoooo

12/09/2014 08:41 - Tatiane Oliveira
Que texto lindo,adorei! Meus parabéns e que tenhas um dia de paz Elisabeth.

31/08/2014 16:24 - Manoel de Almeida
Cara escritora e poetisa, seu conto tem pouco de ficção é muito de realidade, da realidade da formação social e da formação do povo (suas origens, sua raça, seus costumes,...) um texto escrito, com certeza, por que conhece e se orgulha das lutas que nosso Brasil travou e tem travado até hoje, enfim, por alguém que conhece a História do Brasil.

18/08/2014 23:20 - cleris dos santos
Muito bom todo conteúdo, parabéns! Obrigado pela visita.

18/08/2014 15:13 - marcosolavo
boa tarde!!! belo escrito. parabéns. e... obrigado pela visita. visite-me, sempre!!! Marcos Olavo.

17/08/2014 09:44 - Fernando A Freire
Uma mulher objeto que escapou mulher. A ela foi negado o saber, porque nasceu com a cor da servidão; porque seu ofício (sua obrigação) era executar as tarefas braçais mais humilhantes da casa dos seus senhores. Uma luta sem ganhos, sem tréguas, sem ter e sem ser - pra sobreviver. Certa patroa mandou quebrar os dentes da bela negrinha, ao perceber que ela despertava o apetite do coronel. Só isso basta para exemplificar que os grandes proprietários se julgavam deuses, com o poder de vida e morte sobre os não-proprietários, seus dependentes. Pior: esse tipo de domínio e convivência chegou aos nossos dias!... Somente, pouco e pouco, essas criaturas escuras - escravas, depois semiescravas - foram se livrando dos seus grilhões. Na verdade, embora muito tarde, algumas vitórias vêm sendo por elas alcançadas. Vê-las - pós alforria - brilhar nas letras, na ciência, na tecnologia, nos afazeres mais dignificantes e concorridos do momento, deixa-nos prazerosos, sim, mas conscientes de que a luta contra o preconceito ainda não acabou. A propósito, pra terminar, quero lembro Joaquim Nabuco: "Não é bastante abolir a escravatura; importa combater a sua causa". Vivemos numa sociedade em que os proprietários continuam distanciados dos não-proprietários. /// Teu conto, pelas verdades que expressa, precisa estar inserido nas páginas de nossa história. Parabéns! (Grato pelo estímulo ao comentar "Vale a pena pensar?"). Grande abraço.

16/08/2014 17:57 - xodózinha
Muito bom poetisa,bjokas

16/08/2014 16:21 - Elisabeth Lorena Alves
Elisabeth, vim retribuir a visita. E acabei encantada com o primor de texto. Amei mesmo. Não ando lendo os colegas e amigos aqui no recanto, por causa da Faculdade, Graduação e Capacitação em um único Curso estão me exaurindo e me tirando os pequenos prazeres. Mas passe lá de vez em quando e corro aqui para apreciar... Só ando lendo à partir dos recados... beijos

16/08/2014 15:51 - Regina Madeira
Querida Elisabeth, e com que propriedade você escreveu esse conto!!!Belíssima e forte obra. Parabéns. Abraços carinhosos. Obrigada pela linda visita.Beijos.

16/08/2014 14:58 - Jorge de Oliveira
Um causo muito bem comntado, minha cara amiga! Gostei muito! Parabéns e um grande abraço.

16/08/2014 14:57 - Carlos Melgaço
Um texto muito bem elaborado. Gostei. Saúde, amor e paz.

15/08/2014 13:59 - Nilma Rosa
Pena que ainda existam preconceitos. Camuflados, mas existentes e alguns nada camuflados. Coronéis, não talvez, mas cidadãos que se dizem de respeito que não respeitam o semelhante. O outro. Que pode não ter a cor da sua pele , mas tem sangue nas veias e é ser humano também. Lindo seu conto. Prossiga e fale. sempre diga a todos. até que não precise dizer mais. Obrigada pela visita. Volte e leia mais. Abraços Nilma Rosa

15/08/2014 00:49 - Edivana
Ah, moça, sensacional sua crítica. Fabulosa. O mundo ainda vive os dramas de Maria Linda, e quando que vão acabar? Posso não ter uma resposta, mas enquanto a pergunta existir, é posto que ainda vive, é posto que ainda estamos a combater! Abraços.

14/08/2014 23:23 - SoniaMarinho
Boa noite Elisabeth amei seu conto, um desfecho bem elaborado e um tema apesar da época ainda atual, já que sem coronéis nem samba , mas o preconceito ainda reina entre nós. beijos querida poetisa.

14/08/2014 19:44 - Célia Leal
Parabéns pelo belo conto!! amei muito bom mesmo. abraços

14/08/2014 19:38 - Eemanuel
Lindo e sensível

14/08/2014 17:32 - Inalva Froes
Parabéns Elisabeth! É muito bom conhecer uma escritora com tão alto nível de sensibilidade para a Literatura das Margens. Adorei todos os teus textos. Obrigada pelo generoso comentário.Um abraço.

13/08/2014 21:30 - jey lima valadares
Amiga, belo conto, muitooooooooooooooo mil, bj no teu coração e vamos arrasar rsrsr... bj linda no coração!

13/08/2014 17:55 - Ana Campos
Belo e encantador. Adorei! Abraços

13/08/2014 15:47 - Sandra Flor
Envolvente! Texto que prende a atenção do começo ao fim. Belo! Parabéns!

13/08/2014 12:02 - Miguel Jacó
Boa tarde Elisabeth, seu enredo uniu a ficção a realidade, e redundou em um conto de extrema sensibilidade social e afetiva, nos fazendo rever as cenas horripilantes vivenciadas pelos escravos em um passado não tão distante, mas também nos trazendo aos olhos as benesses conquistadas por este seguimento social nos últimos tempos, parabéns pelo primoroso conto, um forte abraço, MJ.

13/08/2014 11:44 - Zélia Maria Freire
Bom dia Elisabeth: Ainda bem que esse tempo já passou. Parabéns pelo texto. Gostei. um beijo de zélia

Dendê ( infantil)


Era um aquário com uma infinidade de peixes pequeninos, dourados e dóceis. No entanto um peixinho se destacava dos demais. Parecia que destoava daquele lugar. Era inteligente e não estava satisfeito com aquela ração. Acreditava que além do vidro havia um outro lugar melhor a ser visto.
Desde que percebera que à proporção que  crescia o aquário diminuía, Dendê começa a procurar uma saída. O peixinho era uma sardinha, mas só porque veio parar naquele aquário por indicação de um baiano... Já sabe, o nomearam de Dendê.
_ Dei sorte, já pensou se me apelidam de acarajé? Ou então de caruru? Vatapá!
De tanto Dendê querer ser chamado de sardinha, chamavam ele de tudo, menos de sardinha.
_ Ô pequeno, venha cá!
_ Você mesmo, baiano!
_Oxente, axé, mainha, painho... Tudo! Agora chamá-lo de SARDINHA, ninguém acertava.
Era isso o dia todo naquele aquário. E o peixinho sonhava em sair daquele lugar para ter a honra de ser chamado pelo seu legítimo nome: Sardinha!
Dizem que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” , no caso de Dendê a chance de sair foi justamente no dia de trocar a água do aquário. Ele sabia que os coleguinhas mortos eram devolvidos ao rio que passava a poucos metros... E fingiu-se de morto.
Foi um sacrifício e tanto ficar imóvel prendendo toda a respiração, enquanto ouvia os coleguinhas dizendo:
_Vixe mainha, Dendê morreu, foi?!
_Ó paí, ó ! Lá se foi o Dendê...
A vontade era dizer que estava bem. Mas  se falasse com um seria aquela confusão e  voltaria para o aquário. Então continuou o seu teatro. E foi parar no rio.
_ Que maravilha! Agora eu tenho esse rio só para mim!
Nem bem começa a comemorar, aparece um cardume de traíras protestando:
_Esse rio é nosso! Quem é você que ousou entrar no nosso rio?
Com um prazer enorme, Dendê  se identifica como sempre sonhou:
_ Eu sou Sardinha!
As traíras trocaram olhares e ...

Zás!

Colocaram Dendê numa latinha  e entregou ao chefe dos Capitães da Areia para negociar com o dono do supermercado.

                                         E. Amorim/ 2013


Recanto das Letras 

 http://www.recantodasletras.com.br/infantil/4908541

Comentários

23/08/2014 14:10 - Jakeline Barros
Rsrs... ow, meu Pai! Pobre do Dendê! Que legal este conto infantil. Gostei muito!
22/08/2014 09:42 - Tatiane Oliveira
Que riqueza de texto,parabéns querida! Adorei e me diverti com a leitura.Tenha um dia abençoado.
08/08/2014 20:56 - Valdinete Afra Bulhões
Amei o seu texto de leitura muito agradável! Agradeço sua simpática visita. Fique com Deus
07/08/2014 12:26 - Maria Cândida Vieira
Excelente. Obrigada pela visita e pelo comentário
07/08/2014 07:58 - Sir Telius
Conto gostoso de se ler...Eu e Gaia amamos. Um texto que iremos reler, com certeza. Parabéns, doce Poeta. Tenha um dia feliz, junto aos seus. Beijos.
06/08/2014 23:24 - Daisy zamari
Adorei!rs
06/08/2014 22:48 - Matilde Diesel Borille
Que maravilha! Oxente esse ficou bom demais menina. Adoro esse jeitinho de escrita. Bjos. Luz pra você Elizabeth!
04/08/2014 15:05 - jcoelho
Belo trabalho, parabéns, um abraço.
04/08/2014 15:02 - MAURICIO IFE
belissimo conto, parabens
04/08/2014 02:14 - O Eu Solitário
Belo!

   

sábado, 21 de fevereiro de 2015

O professor e o padeiro (crônica)





  
 Recordo-me da crônica   “O padeiro”, de Rubem Braga. Quem era o padeiro? Segundo a fala da empregada: “ Não é ninguém, é o padeiro!”   Como pode haver tamanha anulação de um indivíduo?  Todo  percurso para ele chegar até a casa da patroa levando o alimento  foi ignorado.   Será que para ser alguém é preciso ter dinheiro? Sou professora, sou algu... xi, tornei-me invisível?!!
De repente,  uma visita de um ex-aluno. Viajei.  Como  ele estava concluindo a graduação, provavelmente  voltou para ajudar a velha professora sonhadora.. . motivo de várias discussões no passado.  Parabenizo-lhe por ter escolhido o local que conhecia e  amava, apesar de propagar o contrário. E surpreendi  com a resposta:
_ Professora, a senhora acha que iria para outro canto? Aqui... aqui  véi, ninguém ensina nada, c*! Quem aprende aqui?!
 Fiquei em choque. Lendo a  fala da empregada  discordo  da  reprodução. Ela falava o que a sua patroa queria ouvir para não ser incomodada.  Mas alguém letrado  repetir o senso comum...   Apontei para os cartazes nas paredes, frutos de oficinas, pesquisas e muitas leituras em diferentes áreas.   Ainda chamei a atenção para duas matérias nos jornais  on line do MEC e da SEC/BA -2014  que destacaram as práticas de leituras desenvolvidas na referida escola. São anos de lapidação. E de repente...
 É tão fácil apagar. É  só passar uma borracha e fingir que não existe. Difícil é  reconhecer méritos de profissionais que carregam bandeiras.    O apagão do meu “ex” me deixou no chão...  O chão foi providencial, mas custava deixar o tapete?  Dei esse presente para a literatura em homenagem aos meus colegas professores.    Restou-me  questionar: como você conseguiu aprovação em duas universidades públicas ao sair daqui sem aprender nada? Jovem, quem foi teu mestre?!    Silêncio.  Sorriso.
Lamentável, tornei-me  invisível, véi !  De repente descobri que nunca aprendi essa língua, também ela é difícil para c*!  Antes que ele volte à escola para repetir que   “não somos ninguém... ”,  roubo  a cena e digo:
 _ Ei, moço letrado!  O professor é alguém , sim ! E o padeiro também! E somos nós que  em diferentes espaços fornecemos o alimento que chega até  você!
                                                     
                                                               Elisabeth Amorim/2014

A Sereia Triste (conto)

*

Sereia todas as manhãs sentava numa pedra e entoava o seu lindo canto. Os navegantes ao ouvi-la tentavam capturá-la mas ela mergulhava, deixando-os com o benefício da dúvida. E voltava feliz para o fundo do mar. De vez em quando conseguia levar alguns com ela.
Um dia dois irmãos gêmeos, exímios nadadores, decidiram desvendar o segredo de Sereia. Como já sabiam de vários casos de jovens desaparecidos no local conhecido como “Mar da Sereia”, usaram duas embarcações idênticas e fones  para não se encantarem com a melodia. Um aproximava pela esquerda e outro pela direita, Sereia cantava e percebia alegre um jovem destemido.
Distraída com a beleza do jovem que usava óculos escuros, Sereia não percebeu a outra embarcação que se aproximou e outro jovem idêntico desceu com uma rede e a capturou. Não deu tempo Sereia reagir, ela estava admirada com a beleza de dois jovens seminus e imunes a sua beleza. Ela cantou uma linda canção de amor, mas os gêmeos  não ouviram. Eles sabiam que o canto daquela linda mulher era mágico. Os homens enlouqueciam, destruíam embarcações, pulavam no mar e morriam afogados apaixonados por ela. Com eles nada disso aconteceria, pois eles  iriam vingar a morte de todos os outros marinheiros.
Dominada, Sereia já sem voz não oferecia nenhum perigo. Eles a fotografaram dando selinho para postarem nas redes sociais, apalparam seu  belo corpo  e filmaram ridicularizando-a.  Sorrindo da proeza realizada, já imaginando como as redes sociais  reagiriam diante das centenas de fotos e filmagens que eles tinham em mãos. Contabilizando antecipadamente a quantidade de curtidas e acessos.sereia pensativa
Depois de  uma boa distância percorrida ouviram um choro de uma sereia.  Recolocaram rapidamente os fones, sem sucesso. Parecia que o som dolorido aumentava em seus ouvidos.  Cada lado que eles olhavam a cena se repetia. Mesmo apavorados registraram aquele momento, em silêncio, já pensando numa manchete picante…
Esse foi o único registro que eles tiveram, pois todas as fotos e filmagens foram misteriosamente apagadas e substituídas pela imagem da sereia triste sobre uma baleia. A Sereia acompanhou as embarcações  até se aproximarem da praia. Assustados os irmãos perceberam que em nenhum momento Sereia estava dominada.  O poder dela ia além do canto. Preferiram apagar aquela imagem na vã tentativa de esquecê-la para sempre.
E Sereia? Nunca mais cantou…  Ela fica  olhando o mar pensativa e esperançosa.  Afinal, a mulher que há em cada sereia fora acordada.

                                                             Amorim/2015

* imagens da WEB

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A velha lamparina ( mensagem autoajuda)

 
 
*
 
Cada ser humano é um narrador da própria história.  Cada um fala de seu local de conforto ou desconforto.  Nem sempre discursos  saem iguais por conta da posição   ocupada nesse grande círculo que chamo de vida. Como você tece ou descostura a sua trajetória?  Dando  voltas em torno de si mesmo(a)?!!! Veja o que podemos aprender com essa mensagem.
Certa vez um homem sábio que morava numa área montanhosa  e isolada da civilização estava a beira da morte, chamou seus três filhos que viviam brigando  entre si e disse-lhes:
_Meus filhos, estou velho  e  não tenho nada para deixar para vocês... a não ser essa velha lamparina, sabendo usá-la, não tem preço. Para não ter briga entre vocês, vou deixar cada um com uma informação. O mais velho fica com a lamparina, o do meio guardará  o segredo do combustível que a manterá acesa e o caçula receberá a instrução de como fazer o fogo.  Vocês sabem que essa lamparina não funcionará sem essa união.  Ela é a única chance de vocês saírem dessa escuridão na qual  vivem por conta da desunião. Coloque-a no centro que servirá para todos.
O filho mais velho questionou:
_Meu pai, como pode passar as informações para meus irmãos e nenhuma para mim? Eu sou mais importante que eles. Eu nasci primeiro.
O pai sorriu e já prevendo aquele questionamento, respondeu:
_ Você é tão importante que não precisa de nenhuma informação de um velho como eu... E o fato de nascer primeiro não diz muito, mas faria a diferença se fosse o primeiro a perder  vaidade...
 Em particular passou os segredos citados e  morreu. Após enterrar o pai,  o filho mais velho, sentindo-se superior aos demais  não quis  saber de união.  Sabia que na lamparina havia um resto de gás suficiente por algumas noites... E da posição que estava dissera:
_Eu tenho a lamparina acesa! E vocês me devem obediência se quiserem receber um pouco de luz.
Começou uma confusão pois os irmãos não se entendiam. Cada qual manipulando a informação em benefício próprio.  O mais novo, doidinho para acender o fogo e colocar mais lenha na fogueira...
_Como você é infantil, mano. Será que você não percebeu que dos três eu sou o mais importante? Eu posso acender um fogo na hora que eu quiser. E todos vocês dependem de mim.
O do meio que até então estava calado, começou a questionar  a sabedoria do pai. _ Para que  saber o segredo do gás sem uma lamparina?  Se  soprarmos a sua luz irá apagar... _ diz provocando o seu  irmão mais velho.
 Os três irmãos fizeram o oposto do pedido do pai. Com a briga o mais velho pegou a lamparina e escondeu dentro de um baú e colocou embaixo da cama para não iluminar os irmãos... Esquecendo-se de que ele também perdera o facho de luz e  ainda provocaria  uma tragédia atingindo mais pessoas ao entorno.
   
  Eles tiveram acesso a informação, mas nenhum conseguiu transformá-la em conhecimento, aprendizagem significativa para todos.  A chance de mudar as histórias  em nome  da satisfação pessoal foi desperdiçada. Assim como eles, muitos se comportam desse jeito. Omitem, escondem, boicotam a informação.
É preciso parar de girar em torno de si mesmo(a)! Todos nós somos iluminados pelos raios solares diariamente. Aquela luzinha  deixada no fundo do baú torna-se inútil diante da presença do Sol. Mas ao retirá-la  e fazer bom uso da sua lamparina,  o brilho será somado e você é o(a) maior beneficiado(a), pois praticar  o bem é  o caminho para a felicidade.


                                 Elisabeth Amorim/2015

* Romero Britto, Cores do Brasil. ( apenas ilustração, imagem da web)

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Amor de carnaval (conto)

*

Tudo parecia tranquilo, equilibrado. Eis que surge Jana na vida pacata de Pedro, um solteirão convicto. Como uma fada Jana adivinhava os seus desejos e  realizava-os.  Pedrão se viu apaixonado. Queria gritar para o mundo a sua paixão... Jana  arredia decide não revelar o seu segredo, mas viver um dia de cada vez.
Passam o sábado de carnaval juntinhos com as suas fantasias. Sorriem, cantam, dançam. Decidem não dormir  e em frente a TV assistem a noite toda o desfile das Escolas de Samba. Pedro estava radiante e pede Jana que fique um pouco mais.  Para agradá-la corre e lhe oferece flores. Lindas flores que estavam em um jarro. Sorriem das próprias brincadeiras. 
De repente Pedrão decide não mais esconder os seus sentimentos e diz para Jana:
_Fique comigo! Fique comigo!
Jana sentindo-se radiante com o pedido de Pedrão,  olha para o relógio e se assusta com as horas... não era mais a Cinderela e nem queria ser.
_ Não posso, tenho que ir agora!
E Pedro mais uma vez insiste, dessa vez não esconde o seu amor:
_Por favor, fique comigo! Sei que é cedo para esse convite... Eu quero ir contigo onde você for... Não me tire da sua vida! O que você precisa posso te dar...
Jana fica pensativa alguns minutos. A declaração  foi profunda e fez um estrago nas suas defesas. Tinha que fugir antes que fosse tarde demais. O amor não era para ela. Ainda mais com Pedro, inimigo das relações duradouras.
  Levanta-se rapidamente e caminhando para a saída, responde revelando o seu segredo:
 _ Eu  te amo! Eu também... me amo!
Pedrão ao ouvir a declaração de amor não entende por que ela diz aquilo já de saída... grita:
_JANA! JANA! NÃO VÁ!  POR QUE ESTÁ FUGINDO SE ME AMAS?! Por quê? Por quê?

Ela nada diz. Balança a cabeça, limpa as lágrimas traiçoeiras. A grande mulher, transforma-se numa garotinha assustada e foge sem olhar para trás.




 E. Amorim/2015


*imagem da WEB ( apenas ilustração)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Promessa de carnaval ( conto)

*

Lá em casa se tinha uma festa esperada por todos era o Carnaval. Eu, no frescor dos 10 anos entendia muito pouco daquela festa. Morávamos em um casebre num local ermo, a diversão era olhar os pássaros, fazer bichos nas nuvens, sonhar ir para a escola. Mas tem certos sonhos que dependem de outros para serem realizados. Esse último por exemplo, crianças com  pés descalços não tinham acesso.

Até que naquele carnaval meu pai agiu diferente. Vestiu uma roupa colorida e resolveu ir para o centro da cidade fazer algum malabarismo para conseguir dinheiro. Quem sabe assim, poderia comprar o meu  tênis e eu finalmente ir poder estudar na escola que abrira há pouco tempo perto de casa.

Ele passou o dia inteiro na rua, quando chegou todos nós ficamos em torno dele avaliando quanto havia conseguido.  Pai conta os magros trocados, eu fico a observar com meu irmão mais novo já pongado em minhas costas. Apreensiva, minha mãe sem largar o cachimbo, pergunta se houve colheita naquele dia de carnaval ou teria que esperar um pouco mais.

Ouço meu pai resmungar algo. Só sei que no final das contas o arrecadado não dava para quase nada, mas a novidade foi que ele conheceu um senhor,  este prometeu que iria fazer algumas doações de roupas e sapatos usados. Pronto, meu sonho já se modificou. Já passava a sonhar com os sapatos ou tênis que aquele homem iria doar... e na torcida para que ele não esquecesse a promessa de carnaval.

 Ele não se esqueceu. Pediu meu pai que levasse um carro de mão, chamado aqui na roça de galeota, pois iria esvaziar o guarda-roupa.  Umas três horas depois meu pai voltava suado, empurrando a galeota cheia de novidades.
Encontrei sim, meu tênis, não só ele como camisas, calças, bermudas, cintos... 

Ufa! Ainda bem que os cintos também vieram.  Finalmente poderia começar a estudar. Tinha um tênis novo, nem me incomodei com o monte de pedaços de panos que  coloquei dentro dele para não sair do meu pé...  Depois do carnaval... a escola.

Primeiro dia de aula, entrei meio envergonhado.  Minha leitura era ainda muito engasgada, aprendi mais de ouvido, só sabia que desenhava bem.  E olho admirado para minha professora que vinha da cidade. Cheirosa, linda, intocável  e com um sapato exato. Com certeza não havia panos ali dentro.   A escola me frustrou. Senti que ela não tinha sido feita para mim. Mas estava decidido que não deixaria ela me expulsar como fez com muitos meninos pobres que conhecia.

  E como já tinha me preparado... A redação que a professora pediu no primeiro dia de aula foi sobre o carnaval... E quem não soubesse escrever poderia desenhar.  Eu como não sabia exatamente o que  ela queria  ao referir a festa como mais divertida do mundo...  
Fiz o desenho do carnaval na minha casa.

 Por pouco não fui expulso, pois fui o único que mostrei a festa da alegria com os meus olhos de esperança.


E. Amorim


*Winslow  Homer,  O carnaval. (apenas ilustração)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Pierrô apaixonado (conto)

*

Ninguém imaginava que aquele humilde trabalhador rural, pai de um garotinho de 4 anos,  morador de uma área pobre daquela cidade pernambucana era um apaixonado por carnaval.  Trabalhava duro o ano todo, mas não abria mão da sua fantasia de pierrô, comprada numa liquidação pela sua esposa. Com ela,  sentia-se feliz, igual e notado em todos os carnavais.
No carnaval as tristezas  eram esquecidas e Pierrô, como sua esposa o chamava, só  voltava ao lar na quarta-feira de Cinzas. Com os traços das amarguras que foram  deixadas num cantinho durante a folia,  após o apagar das luzes a realidade era mais um ano de labuta com a terra infértil para muitos trabalhadores como ele.
Madalena no início se incomodou com o fato de ficar sozinha naquele período festivo, mas depois de quase dez anos juntos, acabou se acostumando. E por mais que os vizinhos tentavam alertá-la sobre os perigos da “curtição” de Pierrô, ela não dava ouvidos. Balançava os ombros e murmurava:
_ Eita povo falador, visse? Pierrô é um santo!
Até que ao vivo por um canal televisivo  flagra aquele Pierrô agarrado com  uma mascarada. Foi o bastante para o disse-me-disse ser reforçado pela vizinhança:
_Madalena, abra os olhos! Passou na televisão  Pierrô  com uma mulher… Fique atenta que no jornal das 11h poderá repetir.
E diante das evidências, Madalena fica aperreada. Senta-se em frente a televisão e  a cada retrospectiva, gelava ao pensar  na tal mulher que estava com o seu Pierrô. E  eis na tela, Pierrô pulando, feliz da vida e ao lado dele… a sua Colombina.
Madalena sorriu a valer com aquela cena. E disse:
_Ah, é com ela que ele está me traindo? Tem nada não, gente. É apenas uma fantasia de carnaval.
Muitos não entenderam a reação de Madalena, indignados com a falta de reação da esposa traída, comentavam-se:
_ Não demora a “Madalena arrependida”  colocar esse namorador para correr…
Só que  para Pierrô o carnaval terminaria mais cedo. E no domingo voltou para casa. Triste, cabisbaixo… E sem conseguir esconder o ocorrido da sua esposa:
_ O quê aconteceu, Pierrô?
Ele totalmente desconsolado diz:
_Madalena, estou apaixonado.  Uma Colombina  segurou minha mão, depois trocamos uns beijos e aconteceu… Ficarmos juntos dois dias, pensei que ela sentia o mesmo por mim… Ela fugiu, sem deixar nenhuma pista. Fiquei igual um louco procurando-a sem êxito. O carnaval para mim, acabou. Desculpe Madalena, sei que não merecia isso, mas  foi mais forte que eu…
Em silêncio Madalena continuava serena. Como se nada tivesse ouvido a confissão do esposo.  E ele insiste:
_ E ai, você irá me perdoar? Quem sabe no próximo carnaval eu já tenha  esquecido…
E Madalena sem se abalar diz:
_Fica calmo, homem. Vá descansar…enquanto vou à casa de mãe pegar Júnior.
Poucos minutos depois…
_MADALENA! MADALENA!
Madalena sorrindo não ouviu o grito do Galo da Madrugada  nem precisou correr atrás dos bonecos gigantes de Olinda.  Mas sabia que naquele momento  o seu Pierrô estava mais apaixonado pela  Colombina.
Enquanto isso Pierrô estava agarrado a  fantasia que ficara em cima da cama… E aquela paixão iria além das cinzas de um carnaval.

                                                   E. Amorim/2015



* Pablo Picasso, Pierrot, 1918.  ( imagem ilustrativa)

Literatura de mainha 6 - Afirmação de identidades

 Mais um vídeo para você prestigiar.  Textos básicos; O sapo - Rubem Alves O sapo que não virou príncipe - Elisabeth Amorim