Poucas mulheres conhecem a luta dessa grande professora baiana, nascida no século XIX, na fazenda Campos que ficava no distrito de Santo Amaro, na Bahia. Amélia Augusta do Sacramento Rodrigues, ou simplesmente AMÉLIA RODRIGUES (1861 -1926) foi e continua sendo um dos grandes nomes de mulher que fez acontecer através da profissão e assinou com letras douradas que ser “Amélia” não é a mulher que espera acontecer, mas que faz a hora e muda a sua história.
Amélia Rodrigues, a filha de pais pobres Félix e Maria Roquelina Rodrigues, desde os 12 anos inicia a sua carreira como escritora. Quem abraça uma escritora pobre? Além de escritora, Amélia tinha inclinação para o jornalismo, outro agravante da época. Porque uma mulher solteira escrevendo para os jornais e divulgando poesias não tinha o apoio imediato da sociedade. Esse apoio veio após a afirmação do seu trabalho como professora e projetos desenvolvidos em prol da Educação e Literatura. Amélia era uma pessoa prendada que além de dominar a literatura clássica, estudou latim, francês, alemão tornando-se uma mulher de cultura erudita, conseguiu o primeiro lugar em concurso público para professor aos 19 anos . Em pouco tempo conseguiu a transferência para Salvador.
A inteligência de Amélia Rodrigues fez com que ela estreasse no teatro como autora da peça Fausta onde foi ovacionada pela plateia. Além de poesias, ela escreveu também vários infantis. Só aos 22 anos consegue publicar as poesias. E como havia (há) muitas restrições para apoiar uma mulher que decide ser escritora, Amélia começou a publicar usando pseudônimos, inclusive nomes masculinos como “ Zé d’Aleluia” por exemplo.
Amélia Rodrigues tinha consciência da sociedade patriarcal na qual estava inserida. Se ela, uma mulher estudiosa, professora não tinha acesso, “ele” teria com os textos dela, pois o objetivo era divulgar, fazer circular a sua produção. Com isso, a grande professora introduz pinceladas do feminismo em suas poesias e funda uma revista, para que as mulheres tivessem onde publicar, em parceria com outras mulheres intelectuais criaram “A Paladina” , sendo o primeiro instrumento feminista na Bahia. E mais uma vez, ao perceber as portas se fechando, as ideias feministas eram vistas de esguelha em todos os países. Sentou-se para chorar as mágoas por não ser compreendida? NÃO! Essa atitude não seria de Amélia. O que fez a professora escritora?
Amélia queria que as mulheres não permanecessem anuladas na sociedade e desempenhassem as funções por elas escolhidas. Vale registrar que devido o excelente trabalho desenvolvido contou com algumas parcerias, seja de grandes representações da sociedade de Santo Amaro e Salvador ou da própria Igreja que frequentava ativamente. Dedicou-se em instruir mulheres para que independente da posição social cada uma alcançasse satisfação pessoal na área e/ou função desempenhada. Ela ajudou a construir atelieres de costura, fundou escola para mulheres, pensionatos para apoiar mulheres que pretendiam estudar na capital baiana e com apoio da Igreja Católica publica vários textos em periódicos mantidos pela instituição religiosa e passa a conquistar espaços em jornais da Bahia. Fundou a “Liga das Senhoras Católicas” e “A Paladina” torna-se “A Paladina do lar”. Talvez essa mudança foi estratégica para driblar os ataques ao feminismo, pois o “ do lar” reforça a condição destinada às mulheres daquele período. E não foi por acaso que ela introduzia no currículo além das “prendas domésticas” noções de economia, talvez já com intuito que as mulheres buscassem a liberdade econômica através do emprego.
Uma das quebras de costumes da época foi o casamento. Pois Amélia Rodrigues não precisou casar-se para ser aceita . Todas as prováveis críticas machistas às suas posições políticas eram respondidas com trabalho. Mesmo aposentada, Amélia continuou se dedicando as causas defendidas. Deixou várias obras, tanto no campo assistencial com foco na mulher quanto literário e educacional Aquela mulher do século XIX prendada para o lar e ser subserviente ao esposo, após a vida da professora, escritora, teatróloga, jornalista, palestrante, poetisa, articulista, editora e revisora Amélia Rodrigues que morreu aos 65 anos, ganhou uma outra conotação.
E para os nobres leitores, DEVANEIOS de Amélia Rodrigues, a nossa professora baiana que recebe a nossa homenagem de um TOQUE POÉTICO!
Noite de lua, noite serena.
Que me refresca a fronte agora,
Vem consolar-me… dilui a pena
Desta alma triste _ que canta e chora.
Brilho suave _ manto doirado
De anjo, que longe, longe…flutua,
Desce ao recanto desamparado
Desta alma triste _ que não tem lua.
Perfumes doces de abertas flores,
Essências finas e capitosas,
Enchi de incensos embriagadores
Esta alma triste _ que não tem rosas.
Vozes celestes, vozes divinas
De harpas tangendo na etérea plaga,
Modulai trenos e cavatinas
A esta alma triste _ que a dor esmaga.
Noite suave, noite de lua,
Oh! Dá-me um sonho que me conforte!
_Finge que levas na gaze tua
P’ra o céu, esta alma _ que anela a morte!
( Amélia Rodrigues, Devaneios)
Com esse texto pretendemos mostrar que a Amélia Rodrigues modificou uma cultura de uma época, período em que as moças eram educadas para o casamento, a jovem decidiu investir na carreira de escritora, educadora, orientadora… E não foram poucos os abraços recebidos, afinal a jovem provou que não era apenas mais uma “Amélia”, mas uma professora de verdade.
Leitura básica: Amélia Rodrigues: uma escritora baiana do século XIX de Ivia Alves/UFBA ( livro:Eu vim contar coisas da Bahia)
8 de Março, Dia Internacional da Mulher… Baiana
Abraços,
*Imagens da WEB, foto de Amélia Rodrigues e a Estátua com o busto da professora escritora que foi homenageada( muito justa) com uma cidade que leva o seu nome.