quarta-feira, 24 de maio de 2017

Mudança de discurso (crônica)


                                          

Ultimamente o país está mergulhado num mar de  lama e com a  força das ondas a sujeira respinga para todos os lados. E  a sensação é que não sobra ninguém sem se contaminar desse vírus chamado corrupção. No caos instaurado  os amigos tornaram-se inimigos, uns denunciando aos outros, e a vida dos políticos se tornou um verdadeiro "big brother",  até quando? O fala aqui, desmente ali, grava acolá.  Vale a pergunta já musicalizada há muito tempo: "Que país é esse?" 
Não é possível assistir a um jornal por mais de dez minutos sem se irritar com essas cenas deploráveis de delações premiadas, denúncias e mais denúncias contra os políticos e grandes empresas que pagavam propinas para serem beneficiadas. Nada disso me espanta, quando não se leva educação a sério.  Sinto dizer, mas ser corrupto, desonesto é falha grosseira de conduta moral, não há outro discurso,  falha na educação.  Educar para vida é exercitar a ética, o respeito, bom senso e esses primeiros passos vem de casa. O que vejo? O que  construo? Quem é o meu mestre?
Eu sendo mãe, pai, educador ou educadora não posso naturalizar a desonestidade no próprio lar, não posso achar “bonitinho” comprar uma caneta para meu filho e ele voltar da escola com dez canetas diferentes sem justificar a origem. Tenho que estranhar, buscar explicações, investigar, sabe por quê? Hoje é algo pequeno, amanhã ele chegará com uma carga inteira de um caminhão de canetas. E aí, também é normal?  Não posso achar normal passar a perna no  outro para ocupar o lugar, delatar um comparsa para se dar bem,  furar uma fila, fazer algo feio para  se beneficiar. Talvez, por pensar assim, serei vista como careta e morrerei financeiramente pobre.  Que me importa?
Não quero falar de política, porque o assunto é desgastante, mas de ética, a política  já tem um montão de bons cronistas, eu faço apenas alguns rabiscos, não sou boa em nada, nem multiplicar o meu salário eu aprendi... No entanto não tem como ficar estática diante de algumas cenas ridículas. Recentemente, ouvindo alguns discursos sobre delações, prisões, renúncias e cia,  passei a observar como esses discursos são mutáveis. Só que o fanatismo de alguns membros por determinado candidato chega a ser cômico, está o mundo desabando sobre a cabeça do político bilionário,  mas o discurso é o mesmo: mentira da oposição! Para uns o discurso é valido, as denúncias são verdadeiras e para outros o mesmo discurso não serve? A balança não pode pender para um dos lados, ela precisa ser imparcial. Corrupção é premeditada, articulada, fruto de muita ganância e para tal não há "coitadinho".
E quando a oposição torna-se situação, como justificar? O antes de chegar ao poder  já chegou, e agora? Agora as delações continuam e mais graves, tudo registrado, filmado. E as pedras não param. Ser telhado é bem melhor do que ser pedra, sabe por quê? O telhado está no alto, ninguém chuta um telhado, mas pedra não, pedra está sempre no meio do caminho.  E eu não posso mudar o discurso quando já enchi as mãos de pedras para jogar em telhados alheios, ou posso? Sinto como é difícil manter-me no alto e inabalável por muito tempo com tantas pedradas em minha direção. 

Ninguém sustenta uma máscara por muito tempo. Minto, “O Homem da Máscara de Ferro”, de Alexandre Dumas conseguiu essa proeza, não por opção, claro. Se meu filho que não ganhou nenhum prêmio extra ficar milionário em poucos meses de trabalho, no mínimo vou querer saber de que forma ele conseguiu transformar um salário de trabalhador honesto no Brasil em milhões de dólares. Ele terá que se explicar ou me passar a receita,  porque ganhar propina milionária não é para qualquer um... esse é o meu guri, parabéns, filhão! Que bom que você foi morar em Brasília!


                                                       E. Amorim

*Palácio da Alvorada/ Brasília - DF

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