Constantemente sou questionada sobre o que eu ganho
divulgando textos nos espaços virtuais sem nenhum patrocínio. Como é difícil viver sem se preocupar com o
capital numa sociedade capitalista. Tudo ou quase tudo precisa ter um valor
monetário para circular. Eu ganho flores num país que vive em guerra contra o
tráfico. Eu ganho flores num país que impera a corrupção. Eu ganho flores
quando procuramos nossos jardins e não mais os encontramos...
Mesmo num país capitalista, não vejo o dinheiro como fonte
absoluta da felicidade. É um bem
necessário, sim, mas não determinante para se conquistar o prazer. O prazer é
conquistado dia-a-dia, nas pequeninas coisas, num almoço em família, na
companhia de amigos, no cumprimento de
etapas fácies ou difíceis... Seria
hipocrisia dizer que não gostaria de ser remunerada nessa ação prazerosa que
faço, mas tudo na vida tem uma razão de ser, não sou. E daí? Isso não me
diminui nem aumenta a minha vontade de escrever, escrevo porque vivo, está no
meu pulsar, o leitor é como uma flor especial,
almejada, preciosa e indispensável.
Tinha um amigo que passou boa parte da vida acumulando dinheiro,
aos 64 anos por questões financeiras havia separado da família, apesar de ter
uma boa quantidade de dinheiro, vivia solitário e contando os cartões de
crédito, pois não passava pela cabeça a
mais remota hipótese em dividir algo com ninguém. Esse amigo buscava nos mercados os produtos já
vencendo o prazo de validade, alguns deteriorando, para ganhar desconto. Fato que despertou a
minha atenção e não me calei, ao vê-lo com uma pizza na mão.
E na época disse algo
que ele não gostou, mas falei que jamais
queria ter dinheiro a ponto de tornar-me miserável, insensível ou
avarenta. Pois via um produto com
aparência ruim que seria consumido por conta de algumas moedas a menos. No ano
passado soube que ele havia morrido, fiquei a imaginar o desespero dele ter que desapegar aos bens materiais ou até
mesmo ao saber o preço pago pelo caixão, sem poder se levantar para comprar um
de madeira inferior ou na promoção... Valeu a pena ser avarento?
Não seja extravagante, não desperdice alimento, mesmo porque
há tantas pessoas que precisam de tão pouco para serem felizes. As suas sobras
poderão saciar a fome de alguém. Por outro lado, se tiver vontade de comer
algo, coma. Se desejar levar a família a
um restaurante, lanchonete, parque, leve-a.
De vez em quando, permita-se viver fora da rotina, doe um tempo a você
mesmo. Invista em você, porque são
momentos de risos que são lembrados com carinho pelas pessoas que realmente
gostam de você.
Eu escrevo e sinto um prazer enorme quando termino um livro.
Olho-o como se fosse um bebê, lindo e dependente de mim, e não hesito em tornar
possível viver e durar mais um pouco. Há quem diga que sou louca por pagar caro
pela edição num país que não há incentivo para o pequeno escritor. Talvez, eles
tenham razão, mas nessa loucura fico satisfeita quando olho para o meu lindo jardim
sendo apreciado por outros, isso não há preço, porque leitores são flores para
mim.
Elisabeth Amorim
*Vladimir Valegov, Mulher com flores
Nenhum comentário:
Postar um comentário