segunda-feira, 1 de maio de 2017

Flores para mim(crônica)

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          Constantemente sou questionada sobre o que eu ganho divulgando textos nos espaços virtuais sem nenhum patrocínio.  Como é difícil viver sem se preocupar com o capital numa sociedade capitalista. Tudo ou quase tudo precisa ter um valor monetário para circular. Eu ganho flores num país que vive em guerra contra o tráfico. Eu ganho flores num país que impera a corrupção. Eu ganho flores quando procuramos nossos jardins e não mais os encontramos...
       Mesmo num país capitalista, não vejo o dinheiro como fonte absoluta da felicidade.  É um bem necessário, sim, mas não determinante para se conquistar o prazer. O prazer é conquistado dia-a-dia, nas pequeninas coisas, num almoço em família, na companhia de amigos,  no cumprimento de etapas fácies ou difíceis...  Seria hipocrisia dizer que não gostaria de ser remunerada nessa ação prazerosa que faço, mas tudo na vida tem uma razão de ser, não sou. E daí? Isso não me diminui nem aumenta a minha vontade de escrever, escrevo porque vivo, está no meu pulsar, o leitor é como uma flor especial,  almejada, preciosa e indispensável.
Tinha um amigo que passou boa parte da vida acumulando dinheiro, aos 64 anos por questões financeiras havia separado da família, apesar de ter uma boa quantidade de dinheiro, vivia solitário e contando os cartões de crédito,  pois não passava pela cabeça a mais remota hipótese em dividir algo com ninguém.  Esse amigo buscava nos mercados os produtos já vencendo o prazo de validade, alguns deteriorando,  para ganhar desconto. Fato que despertou a minha atenção e não me calei, ao vê-lo com uma pizza na mão.
            E na época  disse algo que ele não gostou,  mas falei que jamais queria ter dinheiro a ponto de tornar-me miserável, insensível ou avarenta.  Pois via um produto com aparência ruim que seria consumido por conta de algumas moedas a menos. No ano passado soube que ele havia morrido, fiquei a imaginar o desespero dele  ter que desapegar aos bens materiais ou até mesmo ao saber o preço pago pelo caixão, sem poder se levantar para comprar um de madeira inferior ou na promoção... Valeu a pena ser avarento?
            Não seja extravagante, não desperdice alimento, mesmo porque há tantas pessoas que precisam de tão pouco para serem felizes. As suas sobras poderão saciar a fome de alguém. Por outro lado, se tiver vontade de comer algo,  coma. Se desejar levar a família a um restaurante, lanchonete, parque, leve-a.  De vez em quando, permita-se viver fora da rotina, doe um tempo a você mesmo. Invista em você, porque  são momentos de risos que são lembrados com carinho pelas pessoas que realmente gostam de você.  
                Eu escrevo e sinto um prazer enorme quando termino um livro. Olho-o como se fosse um bebê, lindo e dependente de mim, e não hesito em tornar possível viver e durar mais um pouco. Há quem diga que sou louca por pagar caro pela edição num país que não há incentivo para o pequeno escritor. Talvez, eles tenham razão, mas nessa loucura fico satisfeita quando olho para o meu lindo jardim sendo apreciado por outros, isso não há preço, porque leitores são flores para mim.
                                 
 Elisabeth Amorim


*Vladimir Valegov, Mulher com flores  









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