sábado, 29 de abril de 2017

Alê manha (homenagem)


Conheci Alê
Manha.
Jinga.
Beleza.
Riqueza.
Conheci  a rica Alê.
Que manha!
Que jinga!
Que beleza!
Quando conheci  a rica Alê na manha...
Encantei-me com a sua jinga de seleção campeã do mundo.
Encantei-me com a sua beleza arquitetônica...
 Oh, linda Alemanha!

                                                                          E. Amorim

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Cenários nordestinos(crônica)

                           
                   
Ao chegar à Bahia o carioca de Cantagalo, o jornalista e escritor  Euclides da Cunha(1866-1909) para cobrir a Guerra de Canudos  enxergou sertanejo pobre, caipira, miserável, inculto e descreve-o  como “Hércules-quasímodo”, uma mistura de força e feiura numa só pessoa. Quem eram os fanáticos que seguiram cegamente o beato chamado Antônio Conselheiro? Não sou de Canudos, nem presenciei o massacre da guerra, mas tenho que carregar essa marca literária da rebeldia baiana que jogaram sobre as costas... Todo baiano é sertanejo?  Todo baiano é desengonçado? Todo baiano é rebelde? Todo baiano é preguiçoso?  O cenário baiano pode não ser o melhor, mas confesse, ser baiano é outro nível.
Ainda bem que nunca me perguntaram se recebi algum conselho do grande beato para tornar-me escritora... os fogos proféticos anunciados já se cumpriram. Finalmente, posso seguir em paz o meu caminho. Acho que sou mais uma  sobrevivente da Guerra de Canudos. Nem se preocupe, leitor, não sigo pokmon,  baleia, lula, cobras nem lagartos... Sabe por quê?
 Gosto é de literatura, escrevo literatura, só não faço ganhar dinheiro com ela, mas isso faz parte da nossa cultura nordestina.  Jorge Amado por onde andava na região cacaueira via  brigas entre coronéis do cacau, emboscadas,  e meninos de ruas vivendo de pequenos furtos assim, das mãos poéticas os garotos foram transformados em “capitães da areia” na grande Salvador. Em suas andanças viu também mulheres faladas falando, impondo e se fazendo respeitar, mulheres da vida? Não, mulheres de vida vivida, sofrida e excluída, isso é bem diferente.  E nem me pergunte se conheci o “Pedro Bala” o líder dos capitães,  o “Professor”, um exímio contador de histórias para as crianças carentes, esse juro, queria conhecê-lo,  a “Gabriela”, uma retirante que chegou faminta à cidade de Ilhéus e transformou o costume da época,  “Tieta” e até a “Dona Flor”, mulheres emblemáticas com personalidades fortes,   também sinto informá-los, não tenho notícias.  Aliás, as personagens são paridos com muita dor, por sinal.  E isso não faz cesariana! A dor só não é maior quando tem quem as abracem.
Dona Rachel de Queiroz foi outra escritora que olhou para o nordeste e viu o quê? Uma seca miserável! A de 1915 que assolou o Ceará, onde gado e gente não tinham o que comer nem onde ficar. Uma seca que colocou o homem nunca condição subumana, disputando com os bichos o mesmo pedaço de carne podre.  Ei, como pode você me perguntar se eu conheci o Chico Bento com a sua família de retirantes? Poxa! O romance "O Quinze" traz esse cenário.  O Chico Bento não é o das histórias em quadrinhos de Maurício de Sousa, é o vaqueiro que ficou desempregado com a seca... Ah, deixe para lá. Já disse, ser baiano é outro nível, aqui tem muitos que leem além dos gibis.



Eta “Vidas secas”, meu Deus! Muito sol, muita dor, fome, sede, vaqueiros sem gados, crianças desumanizadas, mas acompanhados de um fiel animal de estimação, seguidores da Baleia! Desde a década de 30, no cenário nordestino já havia quem venerava Baleia. Dizer que essa baleia não passava de uma cadela magra e sarnenta, é apenas um detalhe.  Dessa vez veio de Alagoas esse olhar nordestino, Graciliano Ramos mostrou como o mundo é permeado de vidas secas. O mundo é cheio de patrões “espinhentos como mandacaru” e de “Fabianos” que recebem os espinhos no seu caminhar seco, sem vida, sem sonhos.
Você já parou para pensar como a literatura  ao centralizar o olhar para os problemas sociais de uma região, de certa forma contribui para os estereótipos? Muitos incorporam os personagens como se fossem reais ou padrões.  Recentemente, um aluno ouviu de um professor renomado: “Não gosto da literatura de Jorge Amado porque ele vulgarizou a cultura baiana escrevendo muitas imoralidades”.  Ele queria o meu parecer sobre essa fala, dai a necessidade dessa crônica. Logo eu, uma baiana qualquer que nunca consegui o  canudo de doutora? A minha escrita é marginal, sabia?
Bem, a primeira coisa a dizer é   “vulgarizar uma cultura” é o termo muito forte, mas vamos lá.  Disse ao aluno que toda opinião é pessoal, cada professor, seja  especialista,  mestre ou doutor na área,  tem a sua defesa  e muitas outras leituras para sustentá-la, cabendo ao ouvinte ou leitor abraçar ou não.  Apesar de conhecer os romances de Jorge Amado, minha leitura  é pessoal, frágil e apenas por prazer, não para detectar 'imoralidades', por isso penso diferente desse professor. Tudo é questão de olhar. O que você procura num texto literário? Mas  essa briga entre  a produção amadiana  e  intelectuais é antiga,  acredito que nunca terminará.  E como sugestão indiquei de dois romances, após as leituras  voltarmos a discutir e debater. Mas, a primeira vista, parece-me ser uma birra pessoal,  tipo “eu sou bom escritor, intelectual e não sou lido, enquanto o Jorge Amado que escreveu ‘imoralidades’ ganhou o mundo...”  o leitor conhece o final desse peleja.  Muito se parece com os olhares lançados para as produções de Paulo Coelho,  mesmo pertencendo a Academia Brasileira de Letras e sendo muito lido no mundo todo,  pessoas nos meios acadêmicos olhares enviesados “Não é literatura, mas manual de auto-ajuda de um bruxo!”  Tem a receita, Paulo?  Por favor, onde encontrarei a alma-gêmea que abraçará a literatura  marginal?


 Cada escritor tem o seu estilo, e Jorge Amado apresentou Ilhéus, Itabuna e toda a política dos coronéis para o mundo. A forma dele escrever é a sua marca. Se você me perguntar se eu falo palavrões ou escrevo, a resposta é não, mas como baiana, ouço constantemente.  Da mesma forma  Herberto Sales apresentou para o mundo o comércio desordenado de diamantes na Chapada Diamantina, através do romance “Cascalho”, voltando-se para as ações desumanas dos coronéis do garimpo. É o olhar de cada um para o seu lugar.  
Ah, tem também o baiano Antonio Torres que em “Essa terra” apresenta a cidade natal “Junco” e os sonhos e desilusões de sair do nordeste para melhorar de vida em São Paulo. As desventuras do protagonista “Nelo” que não consegue lidar com as perdas, decepções e sonhos desfeitos, por isso retorna a terra natal para cometer o suicídio. Uma terra que ama, chama, enlouquece e ao mesmo tempo enxota os filhos. É mais um cenário nordestino.
 Um cenário com uma cultura diversificada, rica, onde povos lutam,  escrevem, estudam  e  sonham sorrindo ou chorando, mas seguem vivendo a vida intensamente. É redundância? Não! É apenas o olhar desmontado nordestino! Onde tudo acontece com abundância, inclusive as violências contra a literatura marginal costumam ser redundantes também, mas vale lembrar que nessa guerra de canudos de quem é melhor na caneta, o Jorge Amado era advogado.


                                                        ELISABETH AMORIM



 *


domingo, 23 de abril de 2017

Mãos doloridas ( crônica)



          Os calos das minhas mãos não me incomodavam tanto quanto os olhares assustados. Olhares pesarosos, condoídos como se eu tivesse doze dedos. Meus dez dedos estavam no mesmo lugar, algumas elevações nas mãos faziam parte das conquistas diárias. Mãos de quem trabalhava de sol a sol, mãos de quem ajudou construir essa nação, mãos negras sim, e daí?
          De repente, tudo mudou? Para quem?   Não precisava mais sair da senzala para atender os sinhozinhos da Casa Grande, era aqui mesmo que a exploração acontecia. Limpava toda área, fazia o cafezinho, cuidava de manter os banheiros e   escritórios limpos. Essa não era a função de um serviço gerais? Mas fui aprovado para o administrativo! Cada dia a minha jornada de trabalho aumentava um pouquinho. Num dia,  fui  buscar o filho do patrão no colégio ao descobrirem que o "Negão" sabia dirigir,  outro dia a esposa do patrão precisava de alguém para limpar um telhado, em outro  era a piscina que precisava ser lavada,  meu nome era sempre o primeiro da lista. E minhas mãos não paravam diante dos constantes solicitações:
          -Negão, você poderia fazer isso para mim?
          - Negão, posso te pedir um favor?
          - Negão, sei que essa não é a sua função, mas você é tão forte...
          Falam que a escravidão acabou, mas se esquecem que a escravização continua no mesmo lugar. Quem tem mais explora quem tem menos ou nunca teve nada...Até a minha identidade estava perdendo, transformaram-me numa cor.   No dia em que  outro tão negão quando eu disse não, o seu emprego sumiu em plena luz do dia. Contenção de despesas. Realmente, lá precisava de alguém que desenvolvia múltiplas funções, caso isso não aconteça, teria  que ser demitido para  um outro negão mais qualificado assumir a vaga.
          Não sei como me resta tempo para essas reflexões, se meus patrões sonharem que  penso, logo deixarei de existir para eles.  Meu tempo será preenchido de tal modo que não sobrará  espaço para os pensamentos.  Já roubaram alguns sonhos, cassaram o meu diploma...  E querem me ver sorrindo...  Contava as horas para chegar a aposentadoria, agora nem sei se estarei vivo para tal desfrute. Enquanto caminho sem saber exatamente a direção que me colocará frente a felicidade, pego o papel e rabisco algumas rotas de fugas.  Descubro que a escrita me liberta, quebro todas as amarras. O caminho é árido para conquistar essa tal felicidade. Infelizmente, ela insiste em morar na margem oposta.
           
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                                                    Elisabeth Amorim



sábado, 22 de abril de 2017

Ovelhas dispersas ( crônica)


     Recentemente mensagens de alertas contra uma tal  “baleia” que está “engolindo” os jovens não param de chegar nos grupos de whats app. Conforme  relatos e  noticiários dos telejornais, adolescentes de alguns países, inclusive do Brasil,  resolveram participar de jogos virtuais perigosos e as consequências são fatais, levando-os as mutilações suicidas. Que  lamentável! Em pleno século XXI, jovens com um mundo de informações a seus pés,  trilham pelo submundo da internet.
      Quem de nós não passou por uma fase ruim na adolescência que atire a primeira pedra?  Quem nunca sentiu falta de um carinho? Nem por isso deixamos de honrar pai e mãe, nem esquecer os ensinamentos que eles nos passaram.  O grande Caetano Veloso na música “Sozinho” já anunciara:  “ Por que você me deixa tão solto?/ Por que você não cola em mim?/ ...Um carinho às vezes faz bem.../Estou me sentindo muito sozinho...” Infelizmente, a nova geração está cada vez mais sozinha, solta, apesar de estar cercada de aparelhos tecnológicos que ditam as regras do jogo  para uma multidão de seguidores. Onde estamos falhando?!
     Valores éticos, condutas morais são ensinados e construídos no dia-a-dia, ações práticas ensinam bem mais do que ficarmos na velha teoria.  Uma caneta diferente na minha casa eu buscava  saber a origem,  porque educar tem que ser para uma vida. E sem diálogo, a educação está condenada a fracassar. Não poderia falar de ética sem dar exemplos éticos, um troco errado, por exemplo, teria que ser devolvido, uma fila teria que ser respeitada, nada de procurar burlar o sistema. Fiz meus filhos seguidores, com muito orgulho.
         O livro “Os sertões” de Euclides da Cunha  relata sobre a Guerra de Canudos e  a forte influência de um beato chamado Antônio Conselheiro na vida de sertanejos pobres. Será que Antonio Conselheiro não era uma velha baleia disfarçada de religioso  que abocanhou uma multidão de seguidores  no sertão baiano  levando-os  para a morte?  Eram homens, mulheres e idosos famintos, sedentos, rotos, desabrigados  e decepcionados com o sistema político brasileiro, por isso caminharam sertão afora em busca de um local digno para se morar. E hoje? Nossos jovens bem alimentados tem sede de quê? Caminham para onde? Mesmo cercados de informações, marcham desinformados, obedientes como ovelhas à caminho do matadouro.  
          Onde estão os sonhos? Para viverem perigosamente, jovens colocam a própria vida em risco, ultrapassando todos os limites da prudência.   E sabe quem impõe um limite ao jovem? É a família. Pai, mãe,  avós... Eles estão mais próximos e precisam enxergar o que os filhos carregam nas “mochilas”, e o mais importante, de que forma eles (pais) contribuíram para torná-la mais leve ou pesada. Se a família entregar a criança ou jovem aos cuidados do computador, poderá não tê-la(o) nunca mais de volta ou resgatá-lo  “deletado”, agindo feito  máquina também.
         Jovens que não sabem a direção a seguir, qualquer caminho serve. Os desencontros na caminhada são consequências de uma geração que grita liberdade de expressão, liberdade sexual, mas como ovelhas seguem fiel e silenciosamente para o matadouro.  É mais um jogo que testará a sua liberdade de desligar ou não o aparelho, de mudar ou não de opção de leitura, porque se a sociedade não tivesse parido  “as baleias coloridas”,  qualquer outro mamífero faminto à espreita de um alvo fácil iria se levantar para mamar. Alimentá-los ou não, também é opção.
            Os perigos da internet não são virtuais, são reais.  Há tantas formas de testar o  potencial, a leitura é uma delas. Em vez de espalhar vírus, montagens com fotos de  políticos,  espalhe literatura, compartilhe textos saudáveis, você não precisa curar o mundo, basta curar a si mesmo. Esse é o primeiro grande passo.  E o segundo passo? Há uma grande chance de você gostar de literatura digital a ponto de tornar a leitura um vício e  voltar aqui outra vez...


                                      Elisabeth Amorim

sábado, 15 de abril de 2017

O renascer a cada manhã ( reflexão cristã)


Uma árvore frutífera faz a diferença em qualquer lugar em que esteja plantada.  Sabe por quê?  A árvore quando é boa todos os frutos são bons, não há possibilidade de uma árvore boa semear frutos ruins. Isso é bíblico.
Precisamos ser árvores boas, frutíferas. Para que sob as nossas folhagens muitos descansarem, encontrarem abrigo em  nossos troncos, e se alimentarem dos frutos.  Aproveitem o máximo da nossa presença à beira do caminho, porque toda árvore está sujeita a ser cortada ou sofrer queimadas humanas.
A grande árvore da vida foi Jesus Cristo.  Ele passou pelas provações  a ponto de ser morto numa cruz. Silenciá-lo era preciso, pois os frutos plantados estavam em toda parte, incomodando alguns e saciando a fome de outros.
No entanto, uma árvore boa, mesmo que ela deixe de existir,  continuará a se fazer presente no caminho. Pois toda vez que um caminheiro passar no local em que ela foi cortada, se lembrará que ali havia uma grande e valiosa árvore.   A árvore boa não morre jamais, em cada fruto ela se faz representada, indispensável. É como olhar para uma cruz vazia, mas sentir a presença do Ressuscitado.
  O poder da ressurreição. Ressurgir, renascer de onde  não havia mais vida. A árvore boa renasce a cada manhã,  a cada desmatamento.  Quando ninguém acredita que daquele toco inútil sairá uma vida, eis o milagre de Deus. Deus não se explica, mas ama, confia, acredita ou não... É questão de escolha e fé.
Como já foi sinalizado no título que é uma reflexão cristã, você não foi engando com essa leitura. O que é surpreendente para os olhos humanos, poderá ser algo natural para o poder divino.  Deus é capaz de transformar-nos a cada manhã. Fazer com que renasçamos para uma vida melhor. Mesmo que no momento estejamos sentindo como uma árvore cortada no seu tronco, não desistamos do caminhar e presentear a humanidade com flores e frutos. 
Mesmo que os nossos frutos sejam ignorados, pisados, amassados, continuemos a semeadura. Não esperem de nós os espinhos, árvores boas não tem chance alguma de produzirem furtos ruins.  Renascemos. Florimos. Frutificamos a cada manhã pelo poder e graça do Espírito Santo.
                   Elisabeth Amorim


segunda-feira, 10 de abril de 2017

O gato que queria ser gente


Essa história é diferente,
Não é do sapo que queria ser boi
Nem da zebra curiosa,
Dizem que lá nas bandas do sertão
Onde Maria Bonita perdeu o lampião
Apareceu um gato tão vaidoso
Do espelho não saia da frente
Na esperança de um dia
Quem sabe?
Ali tudo acontecia de repente,
E o bichano poderia virar gente.


Seu nome era “ Teretê”
Gato igual jamais visto
Gostava muito de se aparecer.
Queria encontrar o Aladim
Com a sua lâmpada maravilhosa
E os três pedidos fazer:
Um dia  prefeito sonhava ser.
No outro pensava ser governador,
Afinal, bom seria chegar a senador.
Teretê vivia a sonhar, sonhando...
Se o poder chegasse até ele
Perguntava a bicharada,
O que iria fazer?

Teretê vivia discursando,
Prometendo o que  iria fazer.
Compraria uma fazenda  de vacas leiteiras,
Nenhuma das tetas eu deixaria para você
Mas aumentaria os impostos
Para o meu salário crescer.
Ah, acabaria de vez com todos os ratos inimigos
Que rondam o salão
Um ou outro que escapar
Terá que a mim
Uma propina pagar...
Ou mandarei para prisão.

Era tanta promessa do Teretê
Ninguém aguentava aquele falador
Diziam  para o bichano:
- Você nunca será gente
Mesmo sendo vereador!
Tem um discurso insano.
Tudo de bom para ti
E para os outros  a dor?
Você nasceu bicho,
E assim irá morrer.

Teretê dava miados,
            Não queria enganar ninguém
Ele aprendeu com os homens
Como agir e se dar bem.
Onde estava falhando?
O que falou  de errado?
Na escola que ele estudou
Só  PHd e doutorado...

Teretê era um gatinho
Nada ingênuo,  nem delicado
Quando  falou  a verdade,
Logo foi discriminado.
Aprendeu a mentir,
Roubar e ser safado.
Mas como todo bom ladrão
Arrasava coração  do publico eleitorado.
E muitos votos conquistados. 


Teretê caiu em tentação
De roubar em demasia
E ao expulsar os ratinhos opositores
A  sua casa veio ao chão...
Levaram suas vaquinhas leiteiras
Era ladrão roubando ladrão.
Teretê com Trelelê
Ninguém mais se entendia.
E se serviu de algum consolo
Ele foi parar na prisão
Não  fique triste,  eleitor
 Ele volta na próxima eleição.
E juro, sem nenhuma fantasia.

  Amorim


sábado, 8 de abril de 2017

ELE (conto)



          De repente Ele surgiu. Estávamos vendendo o milagre. Ora, milagre é assim, há quem acredite que ele acontece e esperam com fé, mas há outros que  defendem que o milagre precisa ser comprado,  e como estávamos precisando de dinheiro...
          Ele ficou furioso com o nosso negócio. Ainda mais que não víamos local melhor para realizar as operações que no próprio templo. Não era lá que muitas pessoas iam em busca do milagre? Bastou um olhar para  perceber que não foi um bom negócio escolher aquele local.  Ele chegou derrubando os nossos vidrinhos de água, as fitinhas coloridas, imagens de barro... Tudo foi ao chão.
          Ficávamos horas ouvindo-o falar, emocionando-nos para mais tarde desobedecermos.  Ele falava de amor, doação , respeito, fraternidade, solidariedade, compreensão, virtudes, bondade  entre outras coisas. Nós praticávamos a corrupção. Mas uma das suas falas que me impressionou foi quando Ele disse que se tivéssemos fé do tamanho de um grão de mostarda, poderíamos até ordenar a um monte que mudasse de local e isso aconteceria.  Fiquei com aquilo na mente, envergonhado pelo tamanho da minha fé. Invisível?
          Assim como Ele me impressionou, inquietou outras pessoas. Porque mesmo Ele falando palavras bonitas, muitos passaram a persegui-lo e  atribuir títulos e ambições que  não constavam no seu currículo.  Não tinha jeito, percebi que Ele não iria durar muito. Ele estava incomodando a muitos com os seus milagres. Você acredita que Ele fazia coxo andar, cego enxergar e doente sarar?  Será que Ele era capaz de fazer ladrão parar de roubar? Era a minha dúvida.
            A cegueira maior é difícil ser curada. Não devemos alimentar ódio contra o outro por conta das divergências filosóficas, políticas ou religiosas, cada qual deve seguir a verdade que lhe convém sem propagar violência.
          Ouvia, entendia e praticava o inverso. Descuidei-me  e acabei sendo preso. Não tinha jeito iriam me crucificar para servir de exemplo. Só assim eu deixaria essa vida errante. Pouco tempo, percebi um companheiro de cela. Ele também foi preso.  De repente queira ouvi-lo algumas das suas palavras bonitas, mas Ele permaneceu em silêncio. Talvez, porque estava bastante ferido e  humilhado.
           Surge a hora final. Iríamos para o sacrifício. Eu , Ele e mais  outros tão errantes quanto Eu.  Eu sabia que tinha cometido vários delitos, mas Ele... Qual o crime Ele cometeu? De repente, ouço gritos vindo de lá  fora. Parecia que estava sonhando, mas era real,  um nome sendo aclamado. Uma multidão reivindicava a liberdade de um ladrão...

          Meio a tempestade que desabava sobre nossas cabeças, Ele caminhou tranquilamente sobre as ondas e sentou-se ao lado do seu Pai. Enquanto eu, um Barrabás como tantos outros que existem por aí, ganhei a liberdade,  mas jamais sair da prisão.
                                                 Elisabeth Amorim 

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Reino dos macacos (fábula)


E naquela reunião de macacos, cada qual fazendo mais macacadas sem graça, surge Tinoco. Um macaco muito mais esperto que os outros, aprendeu  cedo as quatro operações matemáticas, mas as favoritas eram adição e multiplicação em benefício próprio. Para ele que sempre levava vantagem sobre os outros, não era roubo, mas uma apropriação de bens alheios.
Os demais macacos fingiam não perceber as formas ilícitas usadas por Macaco Tinoco para se beneficiar. E de repente no reino da macacada  todos viviam articulando para  uns derrubarem outros.  Macaco Tinoco  tornou-se articulador nato, se delatassem as suas irregularidades  certamente ele não cairia do galho sozinho. E o melhor era deixá-lo quietinho, assim continuava cada macaco no próprio galho.
À distancia um grupo de Macacos do Reino Vizinho observava Macaco Tinoco se apropriar de uma penca de bananas que pertencia aos Macaquinhos Famintos Sem Reino Algum. Os Macaquinhos Famintos Sem Reino Algum pulavam próximos a árvore que Macaco Tinoco havia subido, aguardando a divisão. Vez ou outra caia uma casca de banana, até que Macaco Tinoco encheu a barriga, precisava desfazer de algumas bananas amassadas. Essas  ele descartava para a festa dos Macaquinhos Famintos Sem Reino Algum que eram roubados e nem percebiam.
Macaco Tinoco era egoísta, ladrão e feio. E só se aproximava dos seus irmãos quando pensava em tirar vantagem, e mesmo assim era visto como o herói do Reino dos Macacos.  Um dia  Macaco Tinoco foi picado por um mosquito... Em pouco tempo estava ardendo de febre. Sabia que havia sido contagiado pela febre amarela, seu tempo estava se esgotando... Vê Macaquinhos Famintos Sem Reino Algum pulando de galho e galho, um puxava o rabo do outro para impedir a subida, mas mesmo assim, não paravam.   Macaco Tinoco sentiu saudade do Reino dos Macacos! Uma lágrima escorre molhando o rosto.

Quanto tempo não brincava mais com seus companheiros? Só foi acumular bananas  imaginou-se superior. Queria brincar, gritar, puxar o rabo de quem estivesse a sua frente, mas não tinha mais forças. Pensa nas várias pencas de bananas no seu esconderijo secreto, com certeza irão apodrecer.  Quem comeria bananas podres? Sabia que estava sozinho naquele galho, tentava agarrar com mais força, mas o corpo já não obedecia.
E de repente, um tombo:
-BUM!
Macaco Tinoco caiu do galho, estava delirando... pois ainda conseguiu balbuciar:
- Meus irmãos...
 E os Macacos do Reino Vizinho ao ouvirem aquele lamento e se aproximarem para ajudá-lo,  perceberam que ele estava contaminando. Fugiram todos assustados. Deixaram lá,  na esperança que algum urubu desavisado fizesse um banquete.

Moral: Quando não há respeito nem ética, não cobre a solidariedade!

                                  Beth Amorim


terça-feira, 4 de abril de 2017

Negrinha ou Moreninha? ( crônica)


                                        
*


De repente, lembro-me que nem olhei para o espelho hoje. Volto correndo e dou aquela paradinha... observo algumas rugas, paro diante dos olhos graúdos, pretos, a pele apresenta uma cor meio marrom, castanha, negra. Será que negrinha não fica melhor?
Como o povo resiste diante da cor da pele, busca tonalidade mais amena. Para não dizer que negra, escura ou preta cria sinônimos adjetivados, “marronzinha”, “moreninha” ou até  um “negrinha”, cairá melhor, o sufixo “inha” da negra dá uma suavidade que a pele precisa.  Sei, não...
Isso é o que pensava aquela mulher negra que para extasiada diante da sua sobrinha com apenas dois anos de idade.  A criança tinha uma beleza exótica, olhos expressivos,  o cabelo totalmente indomável sobre uma tiara colorida, simplesmente uma criança linda. E sem perda de tempo  a tia aproxima-se  da garotinha e diz:
- Minha negrinha linda, venha dá um abraço na titia!  
Antes que a criança obedeça,  surge uma mãe furiosa e grita:
- MARIA, FALE O SEU NOME PARA SUA TIA!  Aproveite diga a ela que você não é negra, mas moreninha!
Negrinha ou moreninha?  Por mais que falemos que não devemos julgar pela cor da pele, confesso que uma situação como essa merece essa crônica. Até que ponto vai os nossos preconceitos? Desde cedo uma mãe ensina para a filha que ser negra era algo feio, precisaria de um termo mais ameno, certo?  Lamentável essa não aceitação da etnia, talvez até uma forma de autodefesa por conta dos preconceitos futuros.
Por outro lado, a atitude da tia, mesmo inconsciente, está impregnada de preconceito também. Será que se a sobrinha fosse branca ela chamaria “Minha branquinha linda?” Por que para a negra/ o negro precisa desse reforço?  Se você busca a biografia de um escritor  como Machado de Assis, Lima Barreto, está lá “mestiço”, “negro” e a biografia de um escritor branco, por que não aparece “branco”?  Por que para o negro precisa desse  reforço?  A fotografia ou própria pessoa por si já não escancara a negritude na pele?
Cresci enxergando-me morena, porque a sociedade, família e entorno me viam assim. Apesar do registro aparecer uma cor “parda” que até hoje não consegui identificar o que é mesmo ter a cor parda?  Ainda bem que depois de adulta, tive tempo de revisitar o espelho... Moreninha, eu?
                                             
                                 E. Amorim

*Izabel Pariz, A mulata e a gata.



sábado, 1 de abril de 2017

Dona Maria (conto)



              Há dias que ela esperava por um sinal, uma resposta, um “sim” ou “não”  de uma editora famosa. Diariamente, abria o email, nenhum toque poético a esperava.  Andava desanimada pela casa. Sabia que não teria mais  jeito, aquela seria a sua última chance, precisava desesperadamente arranjar dinheiro. Como pagar a cirurgia do seu esposo? Era uma batalha dura, ou ela vencia ou ele morreria!
                 Ia até o quarto, começava a orar, no meio da oração desistia, voltava para o início. E aquela ação de ir e vir nunca chegava até o “amém”. Nordestina, burra! Isso era o que ela era. Como poderia querer ser abraçada por alguém? Naquele local ermo só tinha mandacaru, algumas carcaças de animais, e sombras dos gravetos esturricados pela seca.  Não tinha beleza na miséria. Não há beleza na fome. Como notar a sua sede de mudança através daqueles rabiscos?!
               De repente passo achar que todos tinham razão. Aquela mulher era realmente estranha. Dona Maria, era o seu nome. Como muitas marias, ela tinha a “mania de ter fé na vida!”  Por isso, não largava o crucifixo e nem abria mão de um santinho que mantinha rodeado de  velas, lá no quartinho do fundo. Nem o incêndio que houve há algum tempo foi suficiente para diminuir a sua devoção ao São Benedito. Gostava dele, achava que eram íntimos, talvez, pela cor da pele.
              Mesmo naquele local tão improvável,  ela não se desligara do mundo por completo, mantinha seu aparelho de TV, seu notebook, precisou vender algumas cabras, mas precisava manter-se atualizada, conectada. Como iram lhe descobrir se não tivesse conectada?  Ainda mais depois que aquele político conseguiu levar o progresso para lá: uma torre para que o sinal da internet, TV funcionassem bem. Muitos vizinhos, consideravam uma extravagância ter aparelhos em casa com a panela vazia. Eles queriam cisternas, poços artesanais para aguentarem a grande estiagem.  Acho que só Dona Maria comemorou o progresso. Também, aquela mulher era louca...vivia com livros na mão. Nem sabemos como Sinhô Isório conseguia conviver tanto tempo com aquela criatura! Onde se viu?                    Uma mulher escritora!? Ela precisa é de uma trouxa de roupa para lavar!
Indiferente aos mexericos alheios, Dona Maria continuava ajoelhada aos pés do São Benedito. Implorando o sinal. Ela sabia que se vendesse todas os magros cabritos não conseguiriam pagar a cirurgia do seu Isório. Acordava ainda escuro, pegava na enxada, ordenhava, lavava, passava, cuidava da casa... Estava cansada. Há quase um ano que a sua tarefa multiplicou. Isório não podia mais desenvolver as atividades de outrora, e eles não tinham como pagar um trabalhador para ajudar na rocinha. Dona Maria, além das suas tarefas, ganhou extras... Mas, tão preconceituosas eram as pessoas daquele povoado, se ela falasse que seu esposo tinha câncer, correriam deles feito bicho. Infelizmente, muitos pensam que o câncer é como uma lepra... Mantinham o segredo.
                Nos seus raros momentos de folga, corria desesperada para o computador.
                - Tem que ser hoje!  Tem que ser hoje!
              Olhos claros arregalados, Dona Maria lê o convite tão esperado no seu e-mail.  Finalmente chegou! Depois de enviar seus textos para mais de dez editoras, uma respondeu, pedindo com urgência um romance... Achou o prazo curto, três dias! Ela tinha que escrever em três dias! Não dormiu,   até o dia 31 de março para cumprir o prazo.  Abraçou Isório, finalmente ela teria uma chance de ganhar dinheiro e ele uma nova chance de continuar vivo.
             Terminou o romance na última volta do relógio.  Olha assustada, percebe que não daria tempo enviar no prazo solicitado. Com lágrimas nos olhos, observa o calendário marcando 1º. de abril.  Fazer o quê?  Dia da Mentira! Dona Maria rasga nervosa todos os rascunhos... Soluçando, rasgando... espalhou pela casa o seu romance, sua vida em picadinhos, com ele estava junto a vida de seu esposo também. Agora não tinha mais jeito... Foi-se a sua última chance.
               Quando acaba o sonho, perde-se também a vida. Logo, Dona Maria fica viúva. Os vizinhos batiam no ombro como consolo e saiam sem entender a apatia daquela  mulher. Não chorava, mantinha olhar vazio, parecia não enxergar o caixão na sala.   Depois do funeral, todos ouviram um grande barulho na cada de Dona Maria Viúva.
              Dona Maria jogou furiosa o notebook contra a parede. Indiferente a correria que se formou na porta fechada da sua casa, pegou a vassoura e uma pá, recolhe com lágrimas pedaços da sua vida que estavam no chão. Abre a porta mais tarde, ainda conservava um chorinho convulsivo e joga fora os pedaços do aparelho.  Nunca mais foi vista no local.  Quando um representante de uma editora foi pessoalmente procurá-la, nenhum vizinho sabia informar qual a direção que aquela mulher esquisita tomou. Ainda teve quem desse um palpite:
             - Aquela mulher era doida! Escreveu demais... Moço, quando o marido dela morreu ela nem ligou, mas  quando o computador dela quebrou, ela chorou, chorou... e sumiu.    

                                   E. Amorim

Literatura de mainha 6 - Afirmação de identidades

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