Talvez essa crônica possa lhe
atingir como uma flecha. Não, não a veja como algo provocativo, afinal nem sei
o seu nome, estou escrevendo para mim, mesma. Aliás tenho certeza de que nunca te conheci, passei tempo sob meus papéis constantemente sob vigília. Mas, por que guardamos tantos papéis?
Provas de estudantes, rascunhos, extratos bancários, contracheques... Vão
invadindo classificadores, pastas, cofres particulares, gavetas dos armários
escolares, estantes... Ah, percebo que eles trazem a nossa marca, como se
fossem bens preciosos, mas falta algo que os papéis não registram nem captam nas
entrelinhas. Sabe o quê?
Felicidade!
Se o acúmulo de papeis trouxesse felicidade, os corruptos estariam satisfeitos
e regenerados após ficarem milionários. É... felicidade realmente não alcança a
todos, para uns ela se esconde atrás das montanhas de papéis, títulos,
obrigações, ações, sejam elas
positivas ou negativas, desde que gerem bem-estar temporário, com a sensação de dever cumprido. Porém,
outros veem a felicidade nas pequeninas coisas, seja num abraço sincero, numa
troca de olhares confirmando uma cumplicidade ou no desfrutar de mais um dia de
vida em paz consigo mesmo(a). Nada mais acolhedor do que um travesseiro macio
sem o peso de uma consciência. Porque consciência tem um peso terrível,
sabia? E como muito bem versifica
Augusto dos Anjos, a consciência humana é como um morcego, na escuridão da noite não adianta fechar as portas, janelas, esse morcego invade e ataca impiedosamente.
Já passei
noites em claro para conquistar os “canudos”, bens desejáveis. Conquistei-os e daí? O morcego
constantemente me visitava à distância, não podia me atacar porque tive que
escolher entre atender as demandas do trabalho e estudo ou dormir. Após passar por tantas experiências boas e
ruins, aprendi a valorizar cada etapa da minha vida. Cada dia, hora, momento são marcantes quando trabalhamos para isso. Tantas quedas tornaram
insignificantes diante das conquistas pessoais, do prazer em cumprir etapas,
realizar sonhos e quebrar correntes.
A felicidade
de outros pode está ali, no amontoado de títulos, mas a minha não, ela
está aqui... no meu coração satisfeito pelo dever cumprido. A minha felicidade se manifesta ao raiar do
dia quando ouço o canto dos pássaros na minha varanda. A felicidade invade o
meu ser através dos raios solares
como abraço apaixonado, quando
adiamos esse abraço, poderemos não ter a
segunda chance.
Mas nem se preocupe, se a felicidade te encontrar a sua historia é modificada, coisas que você achava que eram essenciais são substituídas por outras mais prazerosas. Felicidade é como aquela sementinha jogada ao acaso numa terra infértil. O mundo diz não, as estatísticas dizem não, mas se a planta conseguir o menor dos abrigos, das brechas ela se fará notável e produzirá bons frutos.
E. Amorim