Elisabeth Amorim
Estava chegando o Natal, eu estava tão feliz com a possibilidade de
ganhar a minha boneca que não conseguia nem dormir. Ainda mais que na escola
fiz a cartinha para o Papai Noel, não foi a primeira, mas como foi com a ajuda
da professora, com certeza ele atenderia, pois minhas cartinhas nunca tiveram
respostas. Dessa vez, comecei a
perguntar onde morava esse tal de Papai
Noel que eu não consegui localizá-lo. E não era por falta de tentativas.
Eu não entendia muito bem porque quando eu pedi para que a minha professora
lesse a minha cartinha ela chorou. Claro
que ela disse que foi um cisco que havia entrado no olho, mas se não havia
nenhum vento... Por que será? Eu disse
para ela que não queria aborrecê-la, apenas fiz o meu pedido. Ela não solicitou
que colocássemos no papel os nossos
sonhos mais profundos ?
“ Onde está você, Papai Noel? Espero que dessa vez a minha
boneca venha mais limpinha e que tenha os dois braços... Eu não tenho nada
contra a minha bonequinha sem braços
que ganhei no ano passado. Às vezes duvido da sua existência...Por que só
aparecem em minha meia brinquedos quebrados? Acho
que foi aquela boneca da filha da minha
vizinha tinha jogado fora... Eu gostei, juro!
Mas eu queria uma boneca com os
dois braços, porque a outra que ganhei não sei quando , estava doente também, estava faltando uma perna e
tinha apenas um olho. E quem vai cuidar das minhas bonecas doentes? “
Eu sei que minha mãe lavadeira, lavou bastante as coitadinhas. Mas
elas estavam encardidas e muito arranhadas.
As marcas das minhas bonecas não saiam mais. Acho que elas se parecem um pouquinho comigo. Também
carrego as minhas marcas. Só que estava contando as horas no dedo para chegar à
noite. Pois natal era no outro dia!
Chegou o Natal! Corri para olhar a meia que deixei atrás da
porta e continuava vazia. Acho que não
fui uma boa menina, pois nem as bonequinhas aleijadas me restaram esse
ano. Dessa vez o cisco caiu no meu
olho...
Até que ouço alguém falando meu nome. Era uma voz conhecida.
Corri e sorri timidamente para a minha professora. Também sorrindo ainda com aquele maldito cisco no olho!
_ Não sei o porquê... acho que o Papai Noel errou o endereço e
deixou isso lá em casa... mas tem aqui o seu nome.
Arregalei os olhos, agarrei o presente. Pela primeira vez
tive o prazer de abrir um presente com aquele papel colorido e bonito. E daquele pacote gigante, tinha uma linda
boneca. Chorei abraçada com a minha
boneca, minha linda boneca chegou no Natal. Fiquei tão feliz que abracei a
minha professora e nem nos preocupamos em limpar os ciscos que entraram em
nossos olhos. Só consegui balbuciar:
_ Obrigada, eu não disse que esse ano eu teria um feliz
natal? Eu disse... Eu não disse, professora? Eu disse. Eu disse. E o seu
presente, professora, Papai Noel deixou o seu?
Dessa vez a minha professora nem enxugou as lágrimas, disse que já havia
ganhando o mais lindo presente do mundo. Não entendi, mas se ela disse, deve
ser verdade. Será que o presente da
professora foi melhor que a minha boneca?
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