quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Filha da noite (poesia)

Elisabeth Amorim

*

Gritos e soluços cortam o silêncio,
Rasgam a noite ao meio
Opressores e oprimidas.
Arranhões, mordidas  e açoites.
Resistência e dor
A voz protesta,
Um apelo mudo,
Surdo.
Murmuro,  sussurro,  em silêncio...
Grito.


Grito.
Ecoa entre as paredes nuas
Do quartinho da senzala.
Posse.
Gestação.
Violência.
Discriminação.
Sou filha da noite!
Dos desejos dos coronéis.
 Carne.


Carne.
Ó canibais! Saciaram a fome
Naquelas mulheres  sem nome
De uma servil escravidão.
Um passado que ficou lá trás.
Sou filha da noite!
Do capricho e vergonha
Do grito que cortou muitas madrugadas.
De coito e açoite.
Açoite.

Conquistei o meu lugar
Tenho grande valor
Quem rosa me traz
É o meu amor.
Com ele vou me deitar.
Se isso lhe apraz,
Dele sou.


Sou,
(Psiu! Não confunda!)
Muito mais que peito e...
Bunda.



                                          (20 de novembro, Consciência Negra) 

*Quadro de mulher africana, disponível na web. Texto originado da imagem, é o que chamamos de Literatura desmontada, pois a literatura se multiplica a partir de um texto( verbal ou não-verbal), outros  surgem.

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