Elisabeth Amorim
O grande Vinícius de Moraes em
sua “Receita de Mulher” inicia “As feias que me perdoem/ Mas beleza é
fundamental. É preciso”. Quero acreditar
que ele se referiu a beleza da alma, uma beleza interior, apesar desses versos e nos demais apontarem o ideal de mulher de
forma descritiva nem muito gorda nem muito magra, que tenha nádegas e que seja perfumada e que as axilas sejam
... por aí vai nessa viagem poética pelo corpo feminino.
Parabenizo o estilo poético de Vinícius, mas quero falar do
outro lado da mulher, talvez o não visto pelo poeta, mas, às vezes, percebido pelas
ações, reações, conjunto de valores
agregados ao longo da história de cada uma.
Ao analisarmos as conquistas das mulheres diante de tantos olhares depreciativos, apenas para o corpo, iremos questionar: Como as mulheres conseguiram
chegar tão longe?
A beleza interior
muitas vezes é refletida apenas em nossos espelhos. Diante deles desnudamos a nossa alma. O
cansaço, os aborrecimentos, as exclusões, reprovações, as lutas, não diminuem
as nossas forças. E isso incluo também a de muitos homens, gays, lésbicas que
lutam para conquistar espaços reservados para outros. Todos e todas são dotados de beleza interior e de feiura
interior. Infelizmente a feiura se faz mais presente, é mais notada em
detrimento da beleza.
É a feiura que nos faz achar que somos superiores ao nosso irmão, isso por causa de um corpo
malhado, uma religião, um cargo político, condição econômica-social... É a feiura
que faz com que não dividimos o pão, acumulamos quatro empregos enquanto o índice de desemprego é assustador
no país, para nós, indiferente. É com feiura que aprendemos desde cedo “ primeiro
eu, segundo e terceiro, eu também”. É a
nossa feiura que alimenta o nosso egoísmo. É a feiura que nos faz andarmos pela contramão
atropelando quem ousar a seguir o caminho certo. E com muita feiura agarramos crenças, valores, medos, superstições, seitas e criticamos e
atacamos todas as pessoas que pensam
contrário a nós, seja na religião, política ou na filosofia de vida. Como se quiséssemos um mundo de pessoas feias
como nós. Sem um minuto para a reflexão: Se todos fossem como eu como seria o
mundo?
Por outro lado,
velhos(as) com as rugas fazendo pregas no rosto, com os olhos cansados,
sem a vitalidade propagada e almejada pelos poetas, não entramos mais na estatística da “receita de
mulher/homem”. Notamos que a sabedoria é
intocável. A beleza física é passageira. Às vezes na própria juventude ela se esvai,
basta uma doença como um câncer de pele, um maltrato, uma violência, um
acidente grave... O que fica? Beleza sim, é fundamental. Mas a beleza interior, essa é para sábios.
A beleza interior nos faz diferentes diante dos nossos espelhos. Guardamos em nós a sensação de dever cumprido
devido a prática de uma boa ação. Aquele sintoma de bem estar, feliz com a vida,
sem propagação no facebook, porque é no
silêncio que mostramos o quanto somos humanos e solidários. Mesmo com as
tribulações não há murmuração, pois a
vitória chegará, é essa certeza de recompensa alimentam-nos. Façamos
a nossa receita de vida saudável. Uma
receita de como viver com dignidade ou melhor, como viver em paz conosco e com
o nosso entorno.
Quando aprendermos e praticarmos essa receita, construiremos um mundo melhor.
E com certeza, mesmo quando estivermos
com 200 kg e pele toda enrugada pela ação do tempo ao olharmos no espelho, enxergaremos em nós o grande Hércules ou uma linda sereia. Porque uma vida digna nos
deixa mais leve e a nossa beleza interior exterioriza-se.
Ah, se todos fossem como eu como seria o mundo? Essa pergunta
eu passo para você diante do espelho...
Espero que possa se orgulhar da sua resposta.
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