terça-feira, 10 de novembro de 2015

Beleza interior ( mensagem)

                                                                                                                Elisabeth Amorim



             O grande Vinícius de Moraes em sua “Receita de Mulher” inicia “As feias que me perdoem/ Mas beleza é fundamental. É preciso”.  Quero acreditar que ele se referiu a beleza da alma, uma beleza interior, apesar desses versos  e nos demais apontarem o ideal de mulher de forma descritiva nem muito gorda nem muito magra, que tenha nádegas  e que seja perfumada e que as axilas sejam ...  por aí vai nessa viagem poética  pelo corpo feminino.
          Parabenizo o estilo poético de Vinícius, mas quero falar do outro lado da mulher, talvez o não visto pelo poeta, mas, às vezes, percebido pelas  ações, reações, conjunto de valores agregados ao longo da história de cada uma.  Ao analisarmos as conquistas das mulheres diante de tantos  olhares depreciativos, apenas para o corpo, iremos  questionar: Como as mulheres conseguiram chegar tão longe?
          A beleza interior muitas vezes  é refletida apenas  em nossos espelhos.  Diante deles desnudamos a nossa alma. O cansaço, os aborrecimentos, as exclusões, reprovações, as lutas, não diminuem as nossas forças. E isso incluo também a de muitos homens, gays, lésbicas que lutam para conquistar espaços reservados para outros.  Todos e todas  são dotados de beleza interior e de feiura interior. Infelizmente a feiura se faz mais presente, é mais notada em detrimento da beleza.
          É a feiura que nos faz achar que somos superiores  ao nosso irmão, isso por causa de um corpo malhado, uma religião, um cargo político, condição econômica-social... É a feiura que faz com que não dividimos o pão, acumulamos quatro empregos  enquanto o índice de desemprego é assustador no país, para nós, indiferente.   É  com  feiura que aprendemos desde cedo “ primeiro eu, segundo e terceiro,  eu também”. É a nossa feiura que alimenta o nosso egoísmo.  É a feiura que nos faz andarmos pela contramão atropelando quem ousar a seguir o caminho certo.  E com muita feiura  agarramos  crenças, valores,  medos, superstições, seitas e criticamos e atacamos  todas as pessoas que pensam contrário a nós, seja na religião, política ou na filosofia de vida.  Como se quiséssemos um mundo de pessoas feias como nós. Sem um minuto para a reflexão: Se todos fossem como eu como seria o mundo?
               Por outro lado,  velhos(as) com as rugas fazendo pregas no rosto, com os olhos cansados, sem a vitalidade propagada e almejada pelos poetas, não entramos  mais na estatística da “receita de mulher/homem”. Notamos que a  sabedoria é intocável.  A beleza física é passageira.   Às vezes na própria juventude ela se esvai, basta uma doença como um câncer de pele, um maltrato, uma violência, um acidente grave...  O que fica? Beleza  sim, é fundamental. Mas a beleza interior,  essa é para sábios.
            A beleza interior nos faz diferentes diante dos nossos espelhos.  Guardamos em nós a sensação de dever cumprido devido  a prática de uma boa ação.  Aquele sintoma de bem estar, feliz com a vida, sem propagação no facebook,  porque é no silêncio que mostramos o quanto somos humanos e solidários. Mesmo com as tribulações  não há murmuração, pois a vitória chegará, é essa certeza de recompensa alimentam-nos.   Façamos a nossa  receita de vida saudável. Uma receita de como viver com dignidade ou melhor, como viver em paz conosco e com o nosso entorno.
           Quando aprendermos e praticarmos  essa receita, construiremos um  mundo melhor.  E com certeza,  mesmo quando estivermos com 200 kg e pele toda enrugada pela ação do tempo  ao olharmos no espelho,  enxergaremos em nós  o grande Hércules  ou uma linda sereia. Porque uma vida digna nos deixa mais leve e a nossa beleza interior exterioriza-se.
          Ah, se  todos  fossem como eu como seria o mundo? Essa pergunta eu passo para você diante do  espelho... Espero que possa se orgulhar da sua resposta.



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