sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Consciência branca em conflito ( crônica)

                                                                                                       


Recentemente uma jovem negra monologava em voz alta sobre o “Dia da Consciência Negra” e numa das falas ela reclamava de como “os negros querem se aparecer por conta dessa data”, geralmente, segundo ela, “fazendo-se de vítima”.  Em síntese, ela mostrava o absurdo das escolas discutirem “o dia do negro” sendo que assuntos mais importantes ficam sem discussão.
Há uma coisa que a minha práxis pedagógica me ensinou é que num momento de tensão, revolta, nervosismo o melhor caminho é ouvir, deixar que a pessoa fale, desabafe, jogue seu fardo no chão. Porque qualquer opinião contrária, a revolta aumenta e o descontrole é maior. E foi o que fiz, até o momento que a jovem cobra-me uma posição favorável ou contrária a sua defesa. Fiz apenas essa pergunta para reflexão:
_Como você analisa a liberdade dada aos escravos e seus descendentes sob a perspectiva da Lei Áurea, assinada pela Princesa Izabel e como essa liberdade ganha outra conotação sob a ação de Zumbi dos Palmares?
A jovem me olha assombrada, digerindo cada palavra, mas disse que não havia entendido  e pede para repetir a pergunta.  Achei que não adiantava repetir, quando se fecha os olhos diante de tantas informações, não seria dois, três minutos que a convenceria a tirar a venda dos olhos.  Disse simplesmente, que não havia  “dia do negro”, mas o dia para refletir a história de uma pessoa negra que lutou pela liberdade de outros negros e por conta da sua luta pagou com a própria vida.  E nesse dia, pensa-se no cumprimento  dos  direitos humanos, respeito às diferenças, combate ao racismo... Pois, ainda hoje muitos negros  estão morrendo por conta da cor pele, muitos são presos e discriminados também,  por conta da cor da pele. E esse tema( referindo-me aos direitos humanos universais) deve ser uma constante em todas as escolas,  ou não? Indo além, provoco: Veja como nós negros somos maioria...
E a jovem sentindo “quase branca”,  olha-me revoltada e dispara: “_ Sou contra! Sou contra as cotas, sou contra esse carnaval que se faz em torno do negro... Há índios, há brancos! Por que não a Consciência Branca?!  Por que não Consciência Índia? Muitos negros querem fama às nossas custas! Fazem sucesso porque são negros"
Não disse? Quando se tem uma opinião formada não adianta mexer... Vira-se contra  qualquer interventor.  Dessa vez, não quebraria o meu silêncio, não iria rebater aquela provocação. Ela não entendeu  a diferença entre fama e sucesso. A fama todos os dias os big brotheres da vida lançam “famosos”.  Os presídios estão cheios de presos famosos devido o currículo no mundo dos crimes. Na política há famosos pelas falcatruas praticadas. Já sucesso é conquista pessoal. É investimento, por isso duradouro.  Percebi que a jovem não estava falando dos negros em geral, ela estava o tempo inteiro falando de si mesma. Na verdade ela queria quebrar o espelho,  de repente não gostou da boneca quase branca refletida.  O espelho  tira-lhe a máscara, ela  surta e não sabe mais o que fazer com a sua consciência branca em conflito...
         
                                                                                                          E. Amorim









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