sexta-feira, 29 de maio de 2015

Praia do Pescado ( poesia)

*

Todos os dias naquela praia
Pescado,
Suado,
Amado,
A pescadora vive a esperar.



Olhos tristes e preocupados,
Sonhados,
Apaixonados,
Lacrimejados,
Por um amor que partiu no mar.



Ó navegante!  Por que você fugiu?
Com malas cheias de sonhos,
Capital
LISboa
Portugal...
Queria ficar rico no Brasil.



Deixou o seu grande amor.
Solidão,
Revolta,
Desilusão,
Sem imaginar o tamanho da dor.


Esperou...
Esperou...
Esperou...
Não vou amar quem me abandonou.


Até que veio do  além mar
Brasileiro,
Educado,
Ordeiro,
Apaixonado
Enxuga as lágrimas que não paravam de rolar.



O homem tinha um bom coração.
Daquela terra do carnaval
Abraçou a linda pescadora
E a levantou do chão.



Que samba animado!
Era folia
Noite
Dia



E o cesto de peixes?
Esquecido na Praia do Pescado.
Vieram morar na Bahia.


                                                               E. Amorim


* Marques de Oliveira, À espera dos barcos, 1891(imagem da web)

segunda-feira, 25 de maio de 2015

A menina que brincava com formigas ( cordel)

*

Era uma voz
Que não se calava
Vivia a contar para nós
História que vovó inventava
Entre fada, duende  e bicho feroz.
Fantasia, ela se chamava.


Sendo noite ou sendo dia
Com  sol ou chuva
A rotina de Fantasia
Era brincar com saúva.
Sua estranha companhia
Ela não usava luva
Quando alertavam... Fantasia sorria.


Um dia aconteceu
O que ninguém imaginava
Fantasia adoeceu
Faltou a escola que estudava
Quando não apareceu
A professora  nem notava
Será  que se esqueceu?



As amiguinhas de Fantasia
Estavam desconsoladas
Naquela manhã não tinha alegria
Elas saíam enfileiradas
Queriam de volta a magia
Mesmo que de vez em quando  eram pisadas
_Fantasia! Fantasia!



De longe era ouvido
Um gritinho interessante
Fantasia recobre o sentido
Percebe que era um grito preocupante
_De quem é esse grito  sofrido?
Aconteceu algo importante.
Estão com o coração partido...


Olha para o chão
Toma um susto sem igual
Havia uma procissão
De formigas lá do quintal
Sentiu uma grande emoção
Sentindo-se especial
Estendeu a mão.


Em pouco tempo no chão
Sua mão ficou pretinha
 Formiga, formiguinha e formigão
 Tomaram toda a sua caminha
Ela conversava com emoção
Conhecia cada amiguinha
Até que: _ Meu Deus!  Uma invasão!

_ Não faça isso, Por favor!
Elas não atacam ninguém
Elas não fazem mal ao senhor.
Não adiantou apelar também.
O empregado, o veneno  pegou.
E as formigas que medo não tem.
Morreram sobre o cobertor.

Fantasia fica arrasada
Vendo as amiguinhas partirem para o além
 Estava triste e desesperada
Queria acompanhá-las também.
Chorou e sonhou com uma trovoada
 Com a amiga Formiga Quem-Quem.
Aconselhando-a dedicar  a vida para o bem.


Se Fantasia morresse
Quem iria contar
Uma historia como se fosse
Algo possível de narrar
Se cada formiguinha  soubesse
Que linda história pode deixar
Uma caneta iria pegar.


E assim Fantasia acordou
Com um susto de arrepiar
_Também sou formiguinha! Pensou.
Minha história irei contar.
Sei  que você me abraçou.
E não deixarei de louvar.
A um Deus que te enviou.



Daquele dia em prece
Fantasia aprendeu a lição
De repente a gente cresce
E há tantos que precisam de uma  mão
Enquanto vida  tivesse
Não haveria lamentação.
Esta flor é sua!  É como  ela agradece. 



                                    Elisabeth Amorim


*schmutzler-leopoldmies-1864-1940-munichflower-girl (imagem da web)

sábado, 23 de maio de 2015

O Sapinho diferente ( infantil)




Querido leitor,

      Agora você  conhecerá a minha história, sou um sapo tal qual milhares de sapos que existem nas lagoas, rios...Pulo, coaxo, nado... Mas as pessoas olham para mim e me veem como um sapo diferente.

    De tanto ouvir que sou diferente,  contarei a minha história. Talvez  ela seja mesmo diferente. Mas isso você, só você que é leitor, poderá decidir.
     Meu nome é Zik  e a minha parceira é Mola. Que estranho ter uma companheira como esse nome, não?  Mas a sua história é tão surpreendente que resolvi chamá-la de Mola pelos altos pulos que ela dá para conseguir capturar o inseto e dividi-lo comigo... Ei, não pense que sou um sapo explorador de sapinhas, não.  Só você lendo a minha história do início ao fim  para realmente entendê-la  e fazer o seu julgamento. Vamos, lá?
     Morava  debaixo da Ponte Severino Vieira, na cidade de Iaçu.  De vez em quando saía do meu local de conforto, margens do Paraguaçu,  para dar uma voltinha com a minha amada  Moka. Quem conhece o local, sabe que a referida ponte por muitos anos serviu de elo de ligação entre as cidades Iaçu e Itaberaba.  Num domingo, estávamos tão felizes comemorando o possível crescimento da família... Ríamos, coaxávamos... E numa brincadeira, Moka desafiava o meu limite no salto - eu nunca fui habilidoso... Mas,  minha amada dizia:
     _ Zik, você consegue! Salte  no asfalto!
     _ Moka, eu não sou bom em salto! Que tal voltarmos para o rio?
     _ Não, Zik! Quero vê-lo saltando no asfalto, igual a mim.
      Sabia o meu limite. Eu não tinha condições de ser igual a Moka, que  brincando a chamava de Mola... Mas o desafio foi mais alto que a prudência. Então, não pensei duas vezes. Fiz a coisa errada.  Na hora não quis refletir.  Usei toda a minha força e...
     _Ploc!
      O salto não foi perfeito. Alguma coisa saiu errado.  Não conseguia mexer as minhas perninhas.  Comecei a chorar. Tive medo de ser atropelado pelo primeiro carro que surgisse, pois não conseguia me mexer por mais que me esforçasse...
     Moka de um salto já estava ao meu lado, toda aflita com o acidente, consolando-me,  incentivando-me. Eu sabia que a coisa era grave.  E pedi a minha amada para seguir adiante a vida dela, pois  eu seria um estorvo dali em diante. Mesmo porque, eu não teria nenhuma condição de me cuidar, que dirá  cuidar de uma parceira e os filhos que viriam...
     Moka não quis nem saber daquela conversa. Ficou do meu lado. Não sei como aquela criaturinha, que a primeira vista era frágil, conseguiu  me conduzir nas costas, tirando-me da pista para não ser esmagado pelos carros que fazem regularmente o trajeto que aproxima os moradores das duas cidades vizinhas...
      Levou-me de volta para nossa casa às margens do Paraguaçu.  E desde então, Moka  tornou-se Mola,  minha mola, minha vida, porque salta daqui e de lá, com uma agilidade incrível, nem parece que estou sendo conduzido.  Onde vai, carrega-me em suas costas, devido a minha condição. Após o acidente tornei-me  portador de necessidade especial. E assim, todos que me veem coladinho nas costas de minha amada, gritam:
     _ Olhe o  sapinho diferente!
     Na verdade eu não sou diferente, sou ZIK, um sapinho deficiente. Mas, diferente mesmo é a minha amada, Mola. ..  Em nenhum momento me abandonou.  Dei a chance para ela se livrar de uma carga extra em suas costas, mas ela não aceitou. E todos os dias ela faz a diferença, respeitando os meus limites e me amando do jeito que sou! E você? Poderá também fazer a diferença!
 
 
 

Representação de Zik e Moka, Escola Rômulo Galvão de Carvalho, Iaçu/BA

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          Esta história infantil  faz parte do livro em destaque, Editora Protexto. Curitiba/ PR. 

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Sem pudor ( poesia)



De repente invado a tua vida
Pelos fios conectados
Sussurros palavras em teu ouvido
Ah, deixo escapar um... gemido
Contido,
Atrevido,
Escapole como um zumbido,
Gesto controlado.



Sinto tu em chamas.
Pois sou o teu sol!
 Rompes o silêncio,
 O drama.  A cama.



Para que  aconteça a magia
Apela, implora. Conta até três.
 Aos teus pés mais uma vez.
 Torno-me  tua.
Todos os versos roubados,
Todos os beijos trocados,
Numa ´poesia nua.



 Levou-me  a inspiração
O que restou?
Um poeta sem poesia.
Cada verso que chora.
Lágrimas  de quem amou
Machucado coração.
Usa-me e vai embora.



Sinto-me tão  vazia
Enquanto preencho teu ser.
Queria a mais linda canção
Para compô-la para você!



Volto à terra! Nada mudou.
Escrevo. Escrevo. Escrevo.
Com as estrelas que roubei do céu
Para  presentear-te com fervor
Enquanto as mãos passeiam
Numa tela de um computador...



Escrevo. Escrevedor.
Fico a sonhar contigo
Um anjo amigo ou meu feitor?
Que sorrir dos meus rabiscos
Traços de sonhador. Pura teimosia.
Faço a dor virar poesia
Talvez, faço-a sorrir de dor.
Não desisto. Insisto.

  

Escrevo-te  versos de amor.
Beba-os sem pudor.


                                                                                                      E. Amorim

quarta-feira, 20 de maio de 2015

A chuva e o relógio (poesia)

*

Plic, plic, plic...
Lá fora os pingos no telhado
Plic, plic, plic...
Misturam-se  ao som do relógio
Plic, tic, plic, tac...
Plic, tic, plic, tac...

Da janela vejo as nuvens carregadas
Muita água a cair
Lavando  ruas, carros, calçadas.


O tempo não para!


Que chuva sapeca!
Lavou o meu rosto
e carregou você na enxurrada...


Plic, tic, plic, tac...
Plic, tic, plic, tac...
Plic, plic, plic, plic...
tic, tac, tic, tac...




                                                         E. Amorim

domingo, 17 de maio de 2015

Encontro (soneto)


Como pode esquecer?
O nosso encontro, nosso lazer.
Último desencontro.
Negou-me esse prazer.

Sentei-me no mesmo banco
Fiquei contando as horas
Você displicente
Não veio para mim, e agora?

Preciso mais uma vez te ver.
Solidão aperta o peito
Preciso parar de sofrer.


Fico a olhar o nosso banco
Como se fosse a primeira vez
O tempo não pára, resta-me o pranto.

                                                              Elisabeth Amorim



quarta-feira, 13 de maio de 2015

A menina que tinha medo de palhaço ( infantil)

*

Era uma vez uma criança muito sorridente e inteligente. Na verdade ela tinha um QI acima da média das outras crianças de sua idade.  O nome dela era Maria, tinha 9 anos e gostava de dançar e cantarolar.  Onde  Maria chegava não havia mais tristeza, sempre brincalhona e  esperta.  Até que um dia a garotada de rua resolveu fazer um pequeno circo no quintal de uma das casas vizinhas e Maria  além de organizadora,  era a  principal  dançarina.
Era uma animação só, numa cidadezinha onde nada de novo acontecia. Finalmente a estreia estava marcada. Isso após as crianças pegarem às escondidas  muitos cobertores, lençóis  para servirem de  lona e as maquiagens das mães.
Nessa brincadeira sempre aparece um ou outro adulto para ajudar, com uma extensão para uma lâmpada debaixo do pé de tamarindo. Isso depois de mudar o horário da brincadeira infantil para o anoitecer, palpitar aqui e acolá, emprestar alguns bancos para os mais velhos, esteiras e essas coisas que as crianças sozinhas  não conseguiriam resolver, mesmo porque elas só queriam se divertir.  
Estreia, casa cheia. As crianças da rua de cima e da outra rua lá de trás  desembolsaram algumas moedinhas da merenda para assistirem ao espetáculo.  E Maria feliz com o sucesso anunciado,  maquiada  numa despensa que servia de camarim, vestida de bailarina, prontinha para entrar em cena. Até que  sua amiguinha, também bailarina, é chamada por algum adulto para realizar uma atividade qualquer, e de repente...
Escuridão total.
_Quem apagou a luz do camarim?!

Eis que entra sorrateiramente um palhaço, fecha a porta e vai se aproximando de Maria.  Ela de olhos arregalados percebe que aquele palhaço era muito alto,  forte, adulto e não se parecia com nenhum dos seus amiguinhos. Só poderia estar sonhando,  não era sonho, mas um pesadelo.
Maria consegue gritar desesperada  tenta arrancar-lhe a máscara.  Muitas crianças correm apavoradas com medo dos seus gritos histéricos. Confusão, correria, pavor e  a energia volta.
Mesmo assim, Maria continua gritando que nem percebe a entrada de seu colega de classe.
_Maria, sou eu! Calma, calma. Sou  eu, seu amigo Pedro. Isso aqui é uma máscara. Já tirei.
Maria olha Pedro, aquele garotinho franzino para os seus 10 anos, em prantos ela pergunta:
_ Tem quantos... quantos  palhaços tem aqui hoje?
E Pedro sorri  inocente e diz:
_ Só tem eu... e seu irmão, mas ele não chegou ainda.
E ela grita desesperada :
_ Tem outro! Tem outro!
 E foge despertando espanto e riso das crianças e adultos.

 Como a bailarina tinha medo de palhaço o circo foi desmontado.

                               
                                                E.Amorim


* imagem da web ( apenas ilustrativa)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Muralha da China (poesia)

                                          Para meus leitores chineses com carinho,


Ergueste um muro
Não quiseste mais meu carinho
Em outros braços encontraste
Tudo que negaste
Ao me deixar sozinho.


A ponte que construir
Sem nenhuma razão
Deixou de existir
Brincaste com meu coração
Que deixou de sorrir.


Para que esse muro?
Um dia irei escalar
Com certeza te encontrarei
Ansiosa para voltar.
Para os meus braços, meu amor.


Que faço com a solidão?
Jogo no poço ou me afogo nas lágrimas...
Quero alguém que me estenda a mão.
Darei um basta nesta indiferença
Xangai, por que não?



Não te esperarei na esquina
Arrumei a minha bagagem
E estou de partida para China
E nessa  linda viagem
Deletarei,  menina!


Encontrarei uma chinesa
Para meu coração transformar
Cansei de  sentir tristeza
Quero de novo comemorar
Essas lágrimas? São gotas de orvalhos... vão secar.


Feriste meu coração
Corri, cansei, Agora queres uma nova chance?
Se derrubares a Muralha da China
Verás que passei o cadeado
Sem adeus nem perdão.



 Elisabeth Amorim

sábado, 9 de maio de 2015

O convite ( infantil)

*

Esperança estava contente no seu mundo habitado por pessoas boas e simples como ela.  Porque no mundo dela só participa quem ela quer. Criança pobre,  11 anos,  negra, moradora de uma viela qualquer, com sonhos pequeninos, mas valiosos.  Boa aluna,  excelente filha e amiga mesmo que o mundo não tenha sido tão bonzinho com ela, porém Esperança  tinha algo que não perdia, pois nascera junto com o seu nome. E sempre que alguém tentava diminuí-la, ela bloqueava, não a pessoa, mas a ação.
Até que um dia ela recebeu um  convite  para comparecer à  festa de  aniversário de uma menina que conhecera há pouco tempo.  Não eram amigas,  pois a condição social erguia um muro,  no entanto do outro lado do muro há sempre alguém que espicha o pescoço e vê  uma Esperança atravessando a rua, às vezes ela fica na pista ou apenas no olhar de cada um. 
Sonha, comemora aos quatro ventos  o convite que havia ganhando. Na sua inocência não percebia que a sua reação poderia causar um mal estar no outro que não havia sido convidado. Nem se incomodou que o convite havia chegado tão em cima da hora., simplesmente deu a ele o seu toque poético. Arruma-se contente, mesmo com aquela roupa surrada domingueira, sentia-se bonita. Minto, Esperança é linda.  Não ouviu nenhuma das  advertências das pessoas que realmente gostavam dela. Enquanto ajeitava a roupa de chita ouvia as inquietações dos verdadeiros amigos:
- Esperança, não vá! Será que você será bem recebida naquele casarão? E a família  da sua amiga sabe dessa amizade? A intenção dela pode ser boa, mas como os outros vão reagir?
Esperança sorria, pois não via  o  porquê da preocupação. Ela fora lembrada e iria aproveitar para desfrutar daquele convite.
Chega ao local com o convite em punho,  apresenta-o  para um espantado porteiro e entra  sorridente como se fosse visível. Lá,  o mundo é feio, falso, estupidamente preconceituoso  e egoísta.  Sente-se incomodada.  Parecia que só percebiam os seus cabelos de pixaim e a sua pele escura, destoando totalmente do ambiente, como um fantasma que arranca a nossa máscara, encarando-nos olhos nos olhos,   estava Esperança.
_Por que me olham com desprezo? Eu fui convidada? 
 E de imediato, interrompendo seus pensamentos chega até ela  um pedido de desculpas do anfitrião, dizendo que o convite tinha sido um engano da aniversariante,  sua filha pegara um convite que havia rasurado e mandado de lembrança para  ela.  Para  o pai da sua nova amiga  foi apenas  um lamentável engano aquela menina diferente na sua casa,  mas para  Esperança  foi uma bela lição de vida, olha para o cenário à moda Branca de Neve, balança os ombros e ...diz:
_Convite do lixo!?   Aprendi com minha mãe a me amar como sou e as violências sofridas por conta da minha condição social e racial  nunca irão  diminuir  a minha esperança  em um mundo melhor.  Com licença.
Esperança caminha  lentamente  até a lixeira  dourada e deposita suavemente o convite, após picá-lo em mil pedaços.  Ajeita o indomável cabelo crespo e  através do Espelho Mágico percebe os olhares da centena de anões acompanhando a sua saída.
_ Minha mãe tem razão.  A minha história é  mais bonita do que a de Branca de Neve.

                                                                 Elisabeth Amorim

* CÂNDIDO PORTINARI, Mulher chorando. ( disponível na web)


Literatura de mainha 6 - Afirmação de identidades

 Mais um vídeo para você prestigiar.  Textos básicos; O sapo - Rubem Alves O sapo que não virou príncipe - Elisabeth Amorim