sábado, 25 de novembro de 2017

A Floresta Encantada ( conto de natal)

Entrada do Shopping Bela Vista/ Salvador - BA

          De repente acordo do meu sono de Bela Adormecida, não havia príncipe algum ao meu lado. Apenas um papelão que servia de cama debaixo do meu castelo, não sei porque as pessoas insistem em chamá-lo de viaduto. A voz do povo nem sempre é voz de Deus, era o que pensava Malina.
Sim, escureceu rápido na grande Salvador.  Muitas nuvens carregadas sobre as nossas cabeças, olhando bem... vejo também muitas luzes piscando...   Vou segui-las. Não que eu acredite que lá encontrarei Papai Noel, isso é coisa de criança criada em shopping, menino de rua não tem nada disso na cabeça. Mas o sonho uma vez no ano faz tão bem... Os adultos não acreditam na Black Friday e correm alucinados para comprar um produto sem olhar o preço?
          Sinto-me perdida nessa Floresta de Luzes, parece encantada. Eu gosto de quebrar os encantos, desencantar-me.  Sigo em direção as luzes que brilham. De repente, percebo que estava completamente enfeitiçada.  Não tinha jeito, comecei a gostar do sonho, era algo tão raro em minha vida,  talvez sem me dar conta já estava na porta de um shopping.
          Realmente, a Floresta Encantada exibe uma bela vista. Toda floresta tem lobo mau? E se um lobo me atacasse naquele momento?  Nas mãos apenas um pequeno spray de pimenta, não iria intimidá-lo por muito tempo. Eu, magrinha, facilmente, o frasco iria para o lixo.  Ouço as vozes vinda lá de dentro do shopping, vez ou outra escapa algum cheirinho da comida, talvez, para me lembrar que não fiz nenhuma refeição naquele dia.  Mas, começo a fazer jus ao meu nome, vou malinar à vontade... Entro saltitante naquele castelo de sonhos infantis: árvore de natal, bolinhas coloridas, muitas luzes, trenós e animais exóticos... Papai Noel!?  Ele existe de verdade!


          Não precisei andar muito. Logo a frente um coral com Papai Noel, muita gente  a filmar aquelas crianças a sua volta. Tentava me aproximar, mas era invisível e impossível. Ninguém me filmava, nem notaram a minha presença.  Era tanto brilho, tantas cores, que  a minha cor fosca não serviu para nada.  Ofuscaram-me, com certeza.
          No entanto, algo me chamou a atenção... Estavam cantando “ Noite Feliz”, finalmente eu iria entender o sentido do Natal.  Claro, não iria dizer aos meus colegas de infortúnio  a minha aventura. Mesmo porque eles não  acreditariam.  Muitos afirmam que Papai Noel não existe.
          Mas eu juro. Eu vi Papai Noel. Ele passou pertinho de mim... Ele também não me viu. Não adiantava eu me sentar ao lado dele se eu não tinha um celular para registar o momento. E se eu tivesse um celular teria que criar uma conta no facebook para mostrar aos meus amigos virtuais e cobrá-los as curtidas e comentários nas minhas postagens.  E se comentassem sobre as minhas roupas velhas? E se falassem do meu cabelo sujo?  E se me criticassem... E se me ignorassem... E se me perguntassem...


        
  - Malina, o que fazes no shopping?
          Gente, as relações pessoais são complicadas!  Eu teria que dar satisfação da minha vida para o mundo só por causa de um abraço de Papai Noel... Acho melhor  voltar para  o meu castelo, lá tudo é real.
                            
                                   Elisabeth Amorim/ Salvador, Ba, nov. 2017

                   




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