Talvez, vivemos numa sociedade tão cheia de etiquetas, marcas e rótulos que muitos não conseguem distinguir ou lidar com situações
simples, nem com pessoas sem embalagens. A correria do dia-a-dia acaba embrutecendo alguns e até invisibilizando outros de tal forma que os que resistem a não
ser uma “coisa” para o outro, tornam-se estranhos.
Será que é estranho cumprimentar o porteiro ou zelador? Entrar
num elevador e agradecer a pessoa que
“segurou” a porta para facilitar a sua entrada? Ceder o local para alguém
idoso? São situações comuns que exigem
o mínimo de educação. Estranho é
ignorar o cumprimento, estranho é julgar o outro pelo próprio espelho quebrado,
estranho é condicionar a comissão de vendas a um prévio julgamento do cliente.
Já fui ignorada diversas vezes em lojas, mesmo com dinheiro na carteira. Fui discriminada ao solicitar ajuda para pegar uma bolsa num local muito alto e
ouvir de vendedor: “Aquela?! Mas aquela bolsa
é muito cara?” ou “ Essa saia é muito chique...” E eu por pirraça a deixei sem a comissão... E
saio da loja suavemente, com um sorriso nos lábios e compro na loja vizinha, ou busco um outro vendedor na mesma loja, quando o produto é muito do meu interesse. Como
gosto de coletar material para os meus textos a partir das observações
cotidianas, tirei o dia para investigar
o preço do novo Gol, carro econômico da Volkswagen*. Gente! Por que não usei meus saltos? Por que
não usei meu modelito verde? Por que não me produzir primeiro antes de
entrar em algumas concessionárias?
Quando o vendedor enxerga
o cliente pelas roupas, o lucro está condicionado na avaliação
equivocada que faz de cada um. E ali, à
primeira vista, o vendedor abraça-o ou rejeita-o precocemente, tirando-lhe toda
e qualquer chance de diálogo, para não “perder o tempo”. Senti na
pele esse drama. A minha simplicidade
espantou o vendedor, talvez, acostumado
a servir madame. Mas não sou madame em horário de folga... as festinhas de aniversários dos meus animais
de estimação já passaram, nem meu colunista social particular está de plantão para
divulgar minhas saídas de casa... Final de ano, resta-me um monte de provas para correção... sem
saltos, por favor!
O vendedor
insinuou que eu estava na seção errada, mas deveria ir para os seminovos
ou usados, sorri pois veio esse texto na
memória. Completo... início, meio e final. É um filme que já conheço. Ele me provocou,
estava apenas querendo conhecer as mudanças
ocorridas no automóvel, não fui buscar
essa crônica. O vendedor me deu esse texto, pena que nunca ganhei nada escrevendo, senão
poderia até voltar lá e dividir com ele
se lucro tivesse, pois a bola bateu na trave, talvez, por causa do julgamento precipitado. Mas eu, modéstia
parte aprendi driblar os preconceitos e
captar a discriminação nas entrelinhas de qualquer discurso, dito e até o não
dito quando salta aos olhos.
Habilidosa, recolho
as bolas que batem na trave, e para
contrariar aquele jogador adversário saio de
campo de cabeça erguida, com aquele grito engasgado na garganta, vendedor esnobe é...
- Gooool!
- Ei, CONTRA! CONTRA! Gol contra...
Elisabeth Amorim
* aceito comissão pela propaganda ( risos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário