terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Gooool! ( crônica)

                                                     
          
          Talvez, vivemos numa sociedade tão cheia de etiquetas, marcas e  rótulos que muitos  não conseguem distinguir ou lidar com situações simples, nem com pessoas sem embalagens. A correria do dia-a-dia acaba embrutecendo alguns  e até invisibilizando  outros de tal forma que os que resistem  a não ser uma “coisa” para o outro, tornam-se estranhos.
          Será que é estranho cumprimentar o porteiro ou zelador? Entrar num elevador e  agradecer a pessoa que “segurou” a porta para facilitar a sua entrada? Ceder o local para alguém idoso? São situações comuns que exigem   o mínimo de educação.  Estranho é ignorar o cumprimento, estranho é julgar o outro pelo próprio espelho quebrado, estranho é condicionar a comissão de vendas a um prévio julgamento do cliente.
               Já fui ignorada  diversas vezes  em lojas, mesmo com  dinheiro na carteira.  Fui discriminada ao solicitar ajuda  para pegar uma bolsa num local muito alto e ouvir de vendedor: “Aquela?!  Mas aquela bolsa é muito cara?”  ou  “ Essa saia é muito chique...”  E eu por pirraça a deixei sem a comissão... E saio da loja suavemente, com um sorriso nos lábios e compro na loja vizinha, ou busco um outro vendedor na mesma loja, quando o produto é muito do meu interesse. Como gosto de coletar material para os meus textos a partir das observações cotidianas,  tirei o dia para investigar o preço do novo Gol, carro econômico da Volkswagen*.  Gente! Por que não usei meus saltos? Por que não usei meu modelito  verde?  Por que não me produzir primeiro antes de entrar em algumas concessionárias?
             Quando o  vendedor enxerga o  cliente pelas roupas,  o lucro está condicionado na avaliação equivocada que faz de cada um.  E ali, à primeira vista, o vendedor abraça-o ou rejeita-o precocemente, tirando-lhe toda e qualquer chance de diálogo, para não “perder o tempo”.   Senti  na pele esse drama.   A minha simplicidade espantou  o vendedor, talvez, acostumado a servir madame.  Mas não sou madame  em  horário de folga...  as festinhas de aniversários dos meus animais de estimação já passaram,  nem  meu colunista social particular está de plantão para divulgar minhas saídas de casa...  Final de ano, resta-me  um monte de provas para correção... sem saltos, por favor!
                  O vendedor  insinuou que eu estava na seção errada, mas deveria ir para os seminovos ou usados,  sorri pois veio esse texto na memória. Completo... início, meio e final.  É um filme que já conheço. Ele me provocou, estava apenas querendo conhecer  as mudanças ocorridas no automóvel,  não fui  buscar  essa crônica. O vendedor me deu esse texto,  pena que nunca ganhei nada escrevendo, senão poderia até voltar lá  e dividir com ele se lucro tivesse,  pois a bola  bateu na trave, talvez, por causa  do julgamento precipitado. Mas eu, modéstia parte aprendi  driblar os preconceitos e captar a discriminação nas entrelinhas de qualquer discurso, dito e até o não dito quando salta aos olhos.  
          Habilidosa,  recolho as bolas que batem na trave,  e para contrariar  aquele jogador adversário saio de campo de cabeça erguida, com aquele grito engasgado na garganta, vendedor esnobe é...
          -  Gooool! 
           - Ei, CONTRA! CONTRA! Gol contra... 


                                                 Elisabeth Amorim 


* aceito comissão pela propaganda ( risos)

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