A MENINA QUE ENGOLIA SONHOS
Cada qual em sem canto sabe bem desfrutar os encantos. Ibotira
era uma garota de 14 anos, filha adotiva de Sr. Honório e Dona
Marta. Ela não conhecera seus pais
biológicos, mas o casal não a deixava sentir falta de carinho, Ibotira era muito
amada.
Ibotira estudava o 9º.
Ano do Ensino Fundamental com a sua
melhor amiga, Íris. Íris não era
popular quanto Ibotira, isso a deixava insegura e irritada. Nos momentos mais inesperados, Íris atribuía a
Ibotira características falsas e inusitadas. E uma das coisas que ela propagava
em torno da amiga era o vício de “engolir sonhos”, na linguagem adolescente era
“viver no mundo da lua”.
Ibotira percebia que as indiretas eram para esconder
características próprias. Pois ela era extremamente ordeira, atenciosa e com
personalidade forte, apesar da pouca idade, Ibotira sabia o que queria. Chega o
momento das paqueras e a irritação de Íris aumenta. Cansada das agressões,
Ibotira reclama:
-Íris, você sabe o quanto gosto de ti, mas tudo que faço você
critica. Tem momentos que você age como
uma inimiga feroz, você é ou não minha amiga?
Íris alfineta:
_ Você é muito estranha, Ibotira. Conheço um montão de garotas que falam mal de
você e qual a sua reação? Balança os
ombros... Essas roupas não combinam contigo, acho você... Quem são os seus
pais? Por que você não ficou com eles na mata?
Ibotira olha com tristeza para a amiga. Ela sabia através
das discriminações sofridas que muitas pessoas tem visão seletiva. E Irís não
era diferente, só a enxergava nua no meio da mata, nunca na mesma escola que
ela frequentava, tirando notas, às vezes mais altas em língua portuguesa, estudando
e muito para ser aceita... Resolvera ali, dá uma lição sobre as diferentes
culturas quem sabe assim a sua amiga perderia toda a carga ideológica sobre a
cultura indígena.
_ Meus pais, meus avós não estão comigo, porque... Ah, deixe
para lá, amiga, fala emocionada. Poucos entenderam a minha cultura. Acho que você tem razão... E como estranha,
fico na minha “tribo”. Quando quiser juntar-se a nós...
A separação foi traumática para Íris, logo ela percebera que
era Ibotira que nutria o círculo de amizade.
Íris ia ficando cada dia mais solitária e intolerante.
No próximo sábado era
especial para as duas adolescentes, Ibotira
aproxima-se de Íris, na véspera e a convida para a sorveteria a noite do dia seguinte. Íris aceitou de
imediato, mas ao chegar em casa mudou de
ideia. No dia e horário combinados, vários adolescentes
na sorveteria, algazarra geral, Ibotira
se preocupa com a ausência de Íris,
telefona várias vezes, passa
mensagem, sem resposta. Desiste e vai curtir com as amigas.
Na segunda-feira, no colégio, Íris evita olhar para Ibotira.
Inteligente, Ibotira respeitou o seu
silêncio. Quando Íris percebeu que Ibotira não iria questionar a sua ausência
proposital, disse:
_Sinto muito se a deixei esperar no sábado. Mas tive um
compromisso importante, esquecei completamente. Não abrir a agenda. Quando você precisar sair
comigo terá que me avisar com antecedência...
Ibotira , depois de 4 anos de amizade, responde tranquilamente:
_Íris, pena que não olhou a agenda... E você vivia espalhando que eu engolia
sonhos... Parabéns, 15 anos. Estamos de parabéns! Mas nem se preocupe, nos
divertimos por você também.
_Nós?
_Sim, a nossa turma foi para sorveteria, eram três
aniversariantes na mesma data, não poderia passar em branco...Como você faltou,
resolvi comprar esse presente para você! Retira da bolsa um belo pacote e passa
para a amiga, abraça-a desejando-lhe “felicidades” e sai silenciosamente.
Constrangida, abre-o e encontra uma
linda agenda, na capa uma índia completamente nua...Vermelha de vergonha, Íris lê a mensagem:
“Com carinho.
A menina que engolia
sonhos”
Amorim
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