Não sei o porquê as pessoas gostam de
ficar penduradas nos ombros de quem tem poder.
Fico a imaginar se o meu esposo não tivesse na presidência será
que alguém se lembraria dele? Brasília
foi apenas um detalhe...
Só que não sabem dosar e respeitar o
espaço de intimidade. Se estou no jardim com Jus, logo aparece alguém a colar
na gente. É uma foto aqui, outra acolá.
Se vamos viajar, mais pessoas a bordo e tiracolo. Definitivamente, ele ganhou o poder mas
perdemos juntos a nossa intimidade.
Tudo que faço vira manchete ou
especulação. Não adianta eu falar que não sou candidata a nada. Minhas roupas,
meu alimento, meu comportamento, o povo quer saber o que como, o que visto e o
que sinto. Gente! Sou mulher, pelo menos tento me comportar como uma mulher de
presidente: recatada e do lar.
Mas não dar para aguentar tanta gente babando em cima do meu esposo.
Vou rodar a baiana qualquer hora. Sério. Vou gritar e expulsar esse povo que
vive me cercando, quem quiser me conhecer que vá ao Memorial JK, ali eu dor
todas as dicas de modas. Disponibilizo até os meus trajes de gala para
quem quiser copiá-los. Estou realmente
de saco cheio, até que a gota que restara transbordou quando estávamos num
momento de intimidade na porta do memorial e ela aparece:
- O que você quer encostando em meu marido?!
- Eu? Por acaso está falando comigo?
A mulher se faz de desentendida, como
pode? Vou ter que repetir os meus pensamentos:
- Sim! Você mesma! Saia já de perto
do meu marido, antes que eu rode a baiana! Não estou gostando nada de você
sentar no mesmo banco em que estamos sentados, não dá para escolher outro? Já
disse que vou rodar a baiana se você não sair...
- Então rodamos juntas! Porque eu sou
baiana! Quem vai me tirar daqui?
Acho que seria melhor não ter exposto os meus pensamentos, mas só
posso garantir, caro leitor, que depois
daquele dia, ficamos íntimas. A baiana atrevida deu uma passadinha no memorial
para copiar alguns dos meus modelitos. Mas,
ficou só na observação, o estilo dela é outro. Para quem disse que ser baiano é outro nível,
tem razão, sabia? Depois que a conheci tudo que faço vira literatura!
Elisabeth Amorim
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