quarta-feira, 5 de julho de 2017

A mulher do presidente (conto)


Não sei o porquê as pessoas gostam de ficar penduradas nos ombros de quem tem poder.  Fico a imaginar se o meu esposo não tivesse  na presidência   será que alguém se lembraria dele?  Brasília foi apenas um detalhe...
Só que não sabem dosar e respeitar o espaço de intimidade. Se estou no jardim com Jus, logo aparece alguém a colar na gente.  É uma foto aqui, outra acolá. Se vamos viajar, mais pessoas a bordo e tiracolo.  Definitivamente, ele ganhou o poder mas perdemos juntos a nossa intimidade.
Tudo que faço vira manchete ou especulação. Não adianta eu falar que não sou candidata a nada. Minhas roupas, meu alimento, meu comportamento, o povo quer saber o que como, o que visto e o que sinto. Gente! Sou mulher, pelo menos tento me comportar como uma mulher de presidente: recatada e do lar.   
Mas não dar para aguentar  tanta gente babando em cima do meu esposo. Vou rodar a baiana qualquer hora. Sério. Vou gritar e expulsar esse povo que vive me cercando, quem quiser me conhecer que vá ao Memorial JK, ali eu dor todas as dicas de  modas.  Disponibilizo até os meus trajes de gala para quem quiser copiá-los.  Estou realmente de saco cheio, até que a gota que restara transbordou quando estávamos num momento de intimidade na porta do memorial e ela aparece:
- O  que você quer encostando em meu marido?!
- Eu? Por acaso está falando comigo?
A mulher se faz de desentendida, como pode? Vou ter que repetir os meus pensamentos:
- Sim! Você mesma! Saia já de perto do meu marido, antes que eu rode a baiana! Não estou gostando nada de você sentar no mesmo banco em que estamos sentados, não dá para escolher outro? Já disse que vou rodar a baiana se você não sair...
- Então rodamos juntas! Porque eu sou baiana! Quem vai me tirar daqui?
Acho que seria melhor  não ter exposto os meus pensamentos, mas só posso garantir,  caro leitor, que depois daquele dia, ficamos íntimas. A baiana atrevida deu uma passadinha no memorial para copiar alguns dos meus modelitos.  Mas, ficou só na observação, o estilo dela é outro.  Para quem disse que ser baiano é outro nível, tem razão, sabia? Depois que a conheci tudo que faço vira literatura!

                                Elisabeth Amorim

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