Anyliz era metódica, organizada
e totalmente concentrada, sabia o que estava fazendo ali e o que faria lá ou acolá. Com apenas 20 anos, entra na universidade como
uma das primeiras colocadas. Antes de matricular-se, Anyliz já havia criado um
mundo de sonhos em sua mente: Companheirismo,
responsabilidade, troca de saberes, respeito às diferenças... Em uma jovem tão
certinha aparecia um defeito, apenas um: pavio curto! Bateu, levou!
Entra no
segundo semestre do ano letivo, justamente num período em que estavam
disputando uma eleição para coordenação de colegiado do curso matriculado,
emendada por uma campanha acirrada para a reitoria. Ânimos exaltados e votos
sendo disputados quase a tapa. Chega Anyliz.
E de imediato querem saber em quem a “calourada” de filosofia iria
votar. É um tal de “esse é melhor e
aquele é pior” que atordoava a inexperiente caloura. E o mais confuso era que o mesmo cabo
eleitoral que ontem dizia que X era melhor que Y, no dia seguinte, sem nenhum
constrangimento, queria que os outros engolissem o discurso goela abaixo
totalmente modificado, Y é mil vezes melhor que X. E aquele calouro que
ousasse perguntar :
_ Ontem não
era o contrário?!
A explosão
era bombástica:
_ Calouros
são “bichos”, não entendem a língua dos veteranos! E já gostam de falar o que
não sabem ... “Bichos”! Votem em Z e
pronto!
Como Anyliz
não gostou de ser insultada, ergue a mão e pede a palavra:
_ Tenho três
perguntas: Primeira: Quando vocês veteranos tiveram a consciência
que deixaram a condição de “bichos”? Segunda, o que exatamente nós “bichos” não sabemos que vocês dizem saber? E terceira, a campanha é para quem mesmo, X, Y ou Z?
Irritado com
aquela jovem petulante, desafiá-los a
resolver uma incógnita nada filosófica em um espaço só dos veteranos... Aquele líder
percebeu que teria uma adversária à altura. E como aquele duelo, claramente o
“bicho” venceria, ele se utiliza de uma arma que só entra em cena quando os gêneros opostos
estão em disputa de poder:
_Ah, não vou
falar contigo, pois você é mulher! Conversar com mulher... Sei não, é problema,
também... Aposto que nem... nem experiência com o gênero oposto você tem...
Pela sua cara assustada, é virgem! Não tenho paciência com virgens! Aliás,
acredito que você ainda nunca deu uma voltinha para vê o que acontece do outro
lado do muro...
E Anyliz, vermelha como um pimentão, mas com um raciocínio mais rápido que o vento,
devolve a provocação, utilizando-se das mesmas táticas do adversário...
_ Oh,
desculpe-me, não sabia que a minha dúvida iria lembrá-lo sua opção sexual
que tanto o irrita, sou mulher, assumo meu gênero, enquanto você... Eu não precisei ir lá trás do muro para saber
o que se passa, porque nasci lá, aqui sou visita.
Duelo empate.
Esquecidos da ética na hora da discussão,
perderam a chance de brilhar. Talvez, nem perceberam que no palco da vida as
cortinas permanecem constantemente abertas.
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