quinta-feira, 28 de abril de 2016

Prêmio Literário para Iaçu!


De repente o convite da jornalista carioca e editora-chefe da APED, a senhora Zélia de Oliveira, para participar da seleção de um Concurso Literário com uma carta criativa  e inusitada.  A referida editora estaria recebendo textos de todo o Brasil  e de escritores convidados para produção de uma coletânea de cartas que nunca foram escritas, por isso o título   “coletânea A Carta que não escrevi...”
Desafio e tanto! Escrever carta na época da tecnologia, onde as mensagens curtas ganham mais força e adesão... Quem será o Pierrô apaixonado? Leia, ria, divirta-se, porque a novidade maravilhosa é que a carta de nossa escritora baiana  “E. Amorim” foi uma das  contempladas com  publicação na coletânea,  ISBN 978-85-8255-257-5, sob a organização e Nãna Damino e Zélia de Oliveira.
 Elisabeth Amorim deu um show de criatividade ao destiná-la  “Ao fantasma do carnaval”, fechando com um  “ E, de repente, descobri que não suporto fantasmas!
 Descanse em paz.”
Vale a pena conferir. É a nossa Bahia sendo representada, lida e valorizada fora do nordeste.  E que outros prêmios literários  sejam conquistados para que possamos aqui compartilhar.
                     





domingo, 24 de abril de 2016

Zezé, o amigo da lua

*

Seu nome ninguém sabia ao certo qual era.  Mas por falta de um nome próprio resolveram chamá-lo de Zezé.  Menino magro, pés descalços, olhar faminto e suplicante. Poucos notariam os seus pequeninos desejos, afinal, com a aproximação de Zezé as pessoas tratavam de sair da sua frente. Agarravam as bolsas com força, outras protegiam as carteiras e colocavam-no para correr.  Zezé não era bem-vindo nos espaços públicos transitados.
Zezé vivia das migalhas de alimentos que caíam no chão, das sobras do almoço de  muitos outros e desperdício alheio... Quando o dono do restaurante não estava olhando, aquele garoto que não tinha mais que 11 anos,  muito ágil,  entrava em cena com aquele apelo mudo:
_ Estou com fome... Posso pegar o que está sobrando no seu prato? E esse resto de arroz? E esse macarrão que irá para o lixo?
Amedrontados com aquela aparição pública em forma de gente pequena  e faminta, os clientes diziam com a voz trêmula:
_Pode, pode, sim. Leve, leve rápido. E saia daqui, moleque!
_ Deus te abençoe e te aumente – Era essa resposta dada pelo garoto.
E como um raio, Zezé limpava a mesa com a sua sacolinha plástica. Ninguém ali estava preocupado com a bênção divina anunciada por Zezé, por isso nem respondiam.  Quando o dono e empregados do restaurante percebiam a presença de Zezé, ele já estava dobrando a esquina com o seu almoço e jantar garantidos. Zezé fazia parte daquele local, mesmo negando e sendo renegado, ele era o outro lado da fartura: miséria humana.  Essa que muitos tentam ocultar, mas das sobras e sombras ela se revela.
  Zezé era tão assíduo nas redondezas... mas faltou naquele dia. Ninguém sentiu a sua falta.  Zezé e cão às vezes se confundiam, porém com a sua ausência o almoço ficou mais saboroso, sem a incômoda presença da cara de fome daquele garoto, expulso feito cão sem dono. Essa era a diferença, o cão tinha dono, Zezé, não.
 Uma semana após o sumiço de Zezé, ele reaparece, como fênix ferido.  Parecia mais magro e mais triste, como se isso fosse possível.   Ele não estava mais se preocupando em pedir as sobras do almoço, dessa vez o seu pedido chamou atenção:
_ Moço, posso levar esse pedacinho de carne para a minha amiga? Ela está muito doente...
Aquela palavra “amiga” chamou a atenção dos clientes daquele restaurante. Aquele menino  magrinho, pobre, sujo,  tinha uma amiga...  Quem seria a amiga de um garoto de rua?
_ Qual o nome da sua amiga, Zezé?!
Zezé se assustou. Pois como menino de rua não se lembrava de alguém que parava para observá-lo ou  questionar algo sobre a sua vida pessoal. Era como um ser invisível. E de repente, um cliente se interessa por ele e por sua amiga.  Com um sorriso amarelado pelas cáries, responde:
_ Lua.
_ Lua?! Sua amiga se chama Lua? Lua... de Luísa, Lúcia, Luciana?
Novo sorriso de Zezé,  desfrutando aquela sensação íntima de ser notado... diz:
_ Não, não. Lua.  Apenas isso, Lua de lua, mesmo.  A Lua é minha amiga e guia.
_Ah, entendi... traga a sua amiga para que possamos conhecê-la qualquer dia desses... Certo?!
_Sim... mas o dono daqui poderá não gostar...
E dessa vez os clientes que estavam em volta da mesa, sorriem.  E dizem para ficar tranquilo, pois ele e  Lua seriam seus convidados. E chamam o gerente e avisam sobre o convite feito a Zezé e sua amiga, dando-lhe  todas as sobras do almoço sem nenhum protesto.  
Zezé voltou para o seu cantinho lá no viaduto do outro quarteirão. Olha para Lua imóvel e fala que encontrou novos amigos.  Quem sabe a vida poderia mudar? Feliz com essa perspectiva de mudança, Zezé comemora com a sua  amiga:
_ Lua, eles me notaram! E eles também te notarão, minha amiga. Levante-se, trouxe comida!
No dia seguinte, o restaurante lotado, a conversa é interrompida com entrada daquele menino com a sua melhor roupa, mesmo surrada, com alguns remendos, percebe-se que estava limpa. E acompanhado de perto de uma cadela bem magrinha, amarrada numa velha coleira.  Não deu mais que três passos... aos berros, acompanhado de algumas vassouradas, tiveram que deixar o local.
Enquanto os clientes riam a valer das tentativas de defesa da criança com as mãozinhas magras, segurando a vassoura para que Lua não fosse atingida. Enquanto Lua ameaçava um ataque, mas sem forças nada fazia, a não ser gemer com as pancadas.  Zezé saiu dali ferido, mas com o orgulho de si mesmo por ter defendido sua amiga.  Ainda ouviu um cliente dizer sorrindo:
_ Eu sabia que esse moleque de rua não tinha amiga nenhuma. Ele mereceu as vassouradas, estava zoando com a nossa cara! Quem vai  querer amizade com esse pivete?
Abraçado com Lua na calçada, secava as lágrimas, num lamento se levantou para dar a resposta à distância, para evitar novas agressões a sua fiel companheira:
_ EU SOU AMIGO DA LUA, SIM!  E ela me acompanha onde eu for. E não ia fazer mal algum, ela só está com fome e doente... e eu também.
As gargalhadas aumentaram ao saber que Lua era a cadela de Zezé. E decidiram  mudar o nome de Zezé. Ele seria chamado de “Amigo da lua”, quando voltasse lá no outro dia.  Só que não tiveram chance, porque Zezé saiu e nunca mais voltou. No cantinho do viaduto ele foi encontrado abraçado com Lua.

Eclipse total... a lua cheia de tristeza se recolhia para velar o sono eterno de seus amigos.

                              Elisabeth Amorim/ Salvador, BA, 2016.


*imagem da web.

sábado, 23 de abril de 2016

Talvez, mãe...


*

Talvez,
Nunca fomos íntimas,
Amigas iremos nos tornar.
Sei que velaste o meu sono,
Secaste as minhas lágrimas,
Acalentaste nas horas precisas.
Fazendo-me   prosperar.

Talvez,
Haja tempo para correção,
Abraçarmos fortemente,
Trocarmos  carinhos reprimidos
Naquelas horas de aflição,
E dizer o quão importante tu és,
Por segurar a minha mão.

Talvez,
Você volte a me colocar no colo,
Admirando-me como flor do jardim.
Talvez,
Eu te diga baixinho...
Oh, minha querida mãe,
Obrigada ter cuidado de mim!

( E. Amorim, Talvez, mãe...)


imagem do artista: Vicente Romero Redondo, Maternidade. 

O senhor e as pedras (crônica)

*

Lá vai aquele senhor com um carro-de-mão sendo empurrado, com vestes em trapos,  em uma das mãos um estilingue como espécie de arma para se defender daqueles garotinhos que durante a saída da escola insistiam em irritá-lo com apelidos e acusações infundadas. E a sua forma de revidar, jogava pedras nos agressores. Dia após dias, ano após anos. Era uma espécie de provoca e esconde, provoca e esconde. Para a explosão total.
Aquele momento era um salve-se quem puder, as pedras passavam zunindo aos ouvidos, e aquele  senhor dava uma carreirinha para tentar alcançar os agressores, que sempre escondiam em uma casa comercial,  uma escola, uma esquina qualquer e de lá as provocações ecoavam e em  represália o estilingue entrava em cena.
O tempo passa e o carro-de-mão é substituído por uma enxada,... Não queria se sentir inútil. E as crianças também crescem, tornam-se  jovens, adultos,  mas as provocações continuaram.
Chega a velhice, meio curvado, lento e com reflexos já bem reduzidos, o senhor  perambula pelas ruas da pequenina cidade baiana. Seleciona a casa que irá pedir uma “merendinha”. E uma das coisas que diz quando é atendido marca uma singeleza peculiar de uma pessoa que se tornou um símbolo daquele lugar que ele tanto ama, e tenta através de pedradas, fazer-se respeitado.
_  “A senhora me ‘descurpe’ por incomodar, mas queria uma merendinha... Qualquer coisa serve! Não sou soberbo, qualquer coisa serve para quem tá com fome!”
Como desculpá-lo pelo incômodo se num desses momentos de tamanha humildade, notamos os nossos herdeiros atacando aquele senhor? E com um sorriso sem graça, por controlar a vontade de colocar em movimento o estilingue que guarda de outrora, dá um sorriso triste, acompanhado da frase:
_ “Deus te abençoe, Dona Menina! E vai ‘discurpano’ em chegar em sua  porta! ”
E sai, quase se arrastando, colocando o estilingue em posição de uso para tentar  silenciar os assobios e provocações da nova geração, enquanto as pedras passam velozes e distantes daquelas cabeças sem juízo.
                               
                                                   Amorim/2015

*imagem da web.


                        

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Tiradentes

*

Feriado,  feriado, oba!
Que coisa legal.
Dormir... Dormir... Dormir...
Em berço esplêndido, afinal
Sem sonhos nem fantasias.
Quem foi esse herói  nacional?


Tiradentes? 
Oh, grande cidadão!
Joaquim José da Silva Xavier
Queria um país livre,
Traído por premiada delação.
Foi preso e enforcado.
E para servir de lição,
Em praça pública foi esquartejado.
Caso para uma severa reflexão.


Pedaços espalhados ficaram,
Nas ruas de uma cidade mineira...
Tiradentes,  mártir da Inconfidência.
Não podia mais sonhar
Com a liberdade do Brasil,
O seu projeto foi interrompido
Em 1792, 21 de abril.
Mas a semente havia sido lançada...
E não tardou a brotar.




                                                    E. Amorim




* Pedro Américo, Tiradentes esquartejado/1893

sábado, 16 de abril de 2016

Indiazinha (homenagem)

*

A indiazinha Mairi,
Por muito tempo estudou
Aquela língua estrangeira,
Sem esquecer a  que o seu povo ensinou...
Mantinha viva o tupi.
Quem sabe voltaria a sorrir?


A sua história será lembrada
Indiazinha deixou a bela lição:
Respeite as diferenças
Para a construção de  uma nação
ou comunidade será dizimada
Numa pátria tão amada.

Oh, essa absurda discriminação!
Indiazinha não teve saída
No caminho da escola
A jovem perdeu a vida.
E a arara azul? Prestes a extinção...
A natureza pede proteção!


E. Amorim


* Adriane Campos, tela "A índia e a arara azul"
(apenas divulgação de arte), 


quinta-feira, 14 de abril de 2016

Silêncio

*


Você partiu,
Solidão me acompanhou.
Você fugiu,
Pranto me consolou.


Você negou,
Sorrisos.
Você quebrou,
Acordos.
Você recusou,
Beijos.
Amor.


Arrependimento.
Dúvidas.
Decisão.
Você pediu socorro.


Socorro! Socorro!
Só corro...


Você  mentiu.
Você traiu.
Você fugiu.


Hoje quer uma nova chance
Para quê?
Machucar meu coração.
Amar,
Desprezar,
Abandonar-me  sem razão.

Quer  uma resposta urgente.
Darei a mesma obtida de você.
O amor é paciente.
                       



                                          Abraço baiano,
                                              E. Amorim


Publicação no Recanto das Letras/ 2015

*imagem da web.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Peixinho Fantasma

Para Pedro, com carinho.



     Pedro era um menino muito levado. Aprontava com os animais de estimação que seus pais criavam. E a última novidade era um aquário com dois lindos peixinhos, um de cor alaranjada e o outro bem branquinho.  E os nomes? Pedro escolheu: Laranja e Fantasma.
      E era o dia inteiro, o menino vigiando esse aquário para que nenhum outro animal se aproximasse.  E quando a mãe não estava olhando Pedro jogava alguns petiscos para o peixinho, o seu predileto era Fantasma, alvo feito neve.   E isso despertou a fúria dos outros animais que foram deixados de lado pelo garoto.  O gato Mimoso, a tartaruga Tatá e a  coelha Fofinha e a pata Quá Quá  viviam querendo chamar a atenção de Pedro. Todos enciumados.  Dona Ilban, não gostava de vê-lo tão  próximo ao aquário e logo o advertia:
     _Pedrinho, não jogue alimento para os peixes.  A ração tem hora certa e se alimentá-los demais eles morrerão.
     Tarde demais o aviso.  Pedro já havia aprontado. Realmente, Dona Ilban tinha razão. Não demorou o Peixinho Fantasma morreu. Restando apenas Peixinho Laranja.  Pedro ficou triste, pois sentia-se culpado. E quando todos estavam dormindo,  ele desceu as escadas para fazer companhia a  Laranja. E o que ele viu, o deixou muito assustado.
     Peixinho Fantasma havia se transformando em um fantasma de verdade.  E ele estava fazendo companhia a sua parceira Laranja. Fantasma está enorme, com os olhos arregalados acompanhando todos os passos de Laranja.  Pedro voltou correndo para o quarto. Dessa vez ele não quis saber de dormir sozinho, foi parar no quarto da mamãe, que assustou-se  também quando viu Pedro em estado de choque entrando correndo no quarto:
     _O que foi meu filho? Teve um sonho ruim?
     Pergunta Dona Ilban, preocupada com o estado de Pedrinho.  E insiste para que ele fale sobre o que havia sonhado... E Pedro disse tremendo:
     _ Mamãe, Mamãe... Fantasma virou um fantasma de verdade! Fantasma agora virá me assombrar... Estou com medo!
     Dona Ilban sorriu com a confusão que o garoto estava fazendo. E disse, brincando com os cabelos de Pedro:
    _ Pedrinho, o Peixinho Fantasma  era apenas um peixinho branco. Foi você quem colocou esse nome. E Fantasma não está mais aqui, ele morreu, infelizmente... Peixe não vira fantasma, entendeu?      Você deve ter sonhado... Vá dormir!
     _Mamãe! A senhora não entendeu... Peixinho Fantasma voltou... Ele está lá na sala, eu vi! Ele cresceu e está vigiando  Laranja.  Estou com medo, pois sou culpado pela sua morte, eu dei comida diferente... Acho que Fantasma está me procurando...
     Dona Ilban sorriu novamente. Mas dessa vez quis mostrar o  equívoco que Pedro estava cometendo. Ela desconfiava que tinha algo diferente por trás da morte de Fantasma...  pega na mão da criança e descem bem lentamente a escada, a casa no escuro,  o destaque era para o aquário com Fantasma vigiando...  Aquela cena marcou a história da família, pois Dona Ilban recuou assustada, talvez mais assustada que o seu filho, e voltam para o quarto.  Abraçados e temerosos, encontram o pai de Pedro acordado. E contam que Fantasma estava de volta para se vingar a morte prematura...
Senhor Mário, um homem sério e muito corajoso, sorriu com aquela história.  Levanta-se e acompanhado de perto pela sua esposa e seu filho, todos na pontinha dos pés, para flagrar Fantasma.         Chega à escada. Olha para o aquário!  Não acredita naquilo que estava vendo... Dá uma sonora gargalhada e acende a luz.
    Mimoso corre assustado.


                                     Elisabeth Amorim, Peixinho Fantasma, Bahia, BR,2016.

domingo, 10 de abril de 2016

Cortinas abertas (crônica)



Anyliz era metódica, organizada e totalmente concentrada, sabia o que estava fazendo ali e o que faria lá ou  acolá.  Com apenas 20 anos, entra na universidade como uma das primeiras colocadas. Antes de matricular-se, Anyliz já havia criado um mundo de sonhos em sua mente:  Companheirismo, responsabilidade, troca de saberes, respeito às diferenças... Em uma jovem tão certinha aparecia um defeito, apenas um: pavio curto! Bateu, levou!
Entra no segundo semestre do ano letivo, justamente num período em que estavam disputando uma eleição para coordenação de colegiado do curso matriculado, emendada por uma campanha acirrada para a reitoria. Ânimos exaltados e votos sendo disputados quase a tapa. Chega Anyliz.  E de imediato querem saber em quem a “calourada” de filosofia iria votar.  É um tal de “esse é melhor e aquele é pior” que atordoava a inexperiente caloura.  E o mais confuso era que o mesmo cabo eleitoral que ontem dizia que X era melhor que Y, no dia seguinte, sem nenhum constrangimento, queria que os outros engolissem o discurso  goela abaixo  totalmente modificado, Y é mil vezes melhor que X. E aquele calouro que ousasse perguntar :
_ Ontem não era o contrário?!
A explosão era bombástica:
_ Calouros são “bichos”, não entendem a língua dos veteranos! E já gostam de falar o que não sabem ... “Bichos”! Votem em  Z e pronto!
Como Anyliz não gostou de ser insultada, ergue a mão e pede a palavra:
_ Tenho três perguntas: Primeira: Quando vocês veteranos tiveram a consciência que deixaram a condição de “bichos”? Segunda, o que exatamente  nós “bichos” não sabemos  que vocês dizem saber? E terceira,  a campanha é para quem mesmo, X, Y ou Z?
Irritado com aquela jovem petulante,  desafiá-los a resolver uma incógnita  nada filosófica  em um espaço só dos veteranos... Aquele líder percebeu que teria uma adversária à altura. E como aquele duelo, claramente o “bicho” venceria, ele se utiliza de uma arma que  só entra em cena quando os gêneros opostos estão em disputa de poder:
_Ah, não vou falar contigo, pois você é mulher! Conversar com mulher... Sei não, é problema, também... Aposto que nem... nem experiência com o gênero oposto você tem... Pela sua cara assustada, é virgem! Não tenho paciência com virgens! Aliás, acredito que você ainda nunca deu uma voltinha para vê o que acontece do outro lado do muro...
E Anyliz, vermelha como um pimentão, mas com um raciocínio mais rápido que o vento, devolve a provocação, utilizando-se das mesmas táticas do adversário...
_ Oh, desculpe-me, não sabia que a minha dúvida iria lembrá-lo  sua opção sexual que tanto o irrita, sou mulher, assumo meu gênero, enquanto você...  Eu não precisei ir lá trás do muro para saber o que se passa, porque nasci lá, aqui sou visita.
Duelo empate.  Esquecidos da ética na hora da discussão, perderam a chance de brilhar. Talvez, nem perceberam que no palco da vida as cortinas permanecem constantemente abertas.

                      E. Amorim

sábado, 9 de abril de 2016

Borboletas no vidro


De repente as duas amigas Belmira e  Marita, crianças de 10 anos de idade, resolvem inovar as brincadeiras.  Já haviam brincado de pega-pega, casinha, boca de forno... agora elas  queriam algo diferente. O quê?

Belmira olhava de um lado para outro, talvez em busca de inspiração... até que observa uma linda borboleta numa flor no jardim. E não pensou duas vezes:
_ Meninas! Vamos caçar borboletas?
Aquela proposta era meio esquisita.  Nunca elas foram caçadoras de borboletas, mas se Belmira estava propondo é porque ela sabia... E a resposta não demorou:
_VAMOS! VAMOS!
_Eu vou pegar uma borboleta azul da cor do céu!
_A minha será branca!
_A minha borboleta será toda colorida!
_ Aquela borboleta vermelha será minha!
E assim as crianças corriam livres pelo jardim a procura das borboletas.  Sorrindo tentava capturá-las e zás! As borboletas voavam livres e lindas.  E mais uma vez, Belmira e Marita  tiveram a ideia:
_Vamos colocar um vidro com algumas flores dentro... Assim enganaremos as borboletas e elas entrarão no vidro. Correram para casa, em poucos minutos as garotas estavam com o vidro de flores e foram colocar do lado de outras flores no jardim.
Não demorou muito... O vidro estava cheio de borboletas para alegria das crianças.  Belmira pega cuidadosamente  o vidro, e as crianças a sua volta ficam na expectativa.  Pois não sabiam como ela iria fazer a distribuição, e  a algazarra começa:
_ Belmira, esta vermelha é minha!
_ E aquela azul lá no cantinho é minha!
_ Mira, veja a minha borboleta branca está triste...
_ A minha é aquela toda colorida!
_ Por que elas não voam dentro do vidro?!
E Belmira pede silêncio e fala:
_ Psiu! Venham meninas, venham ver o mais lindo espetáculo da terra!
E as crianças trocam olhares e acompanham Belmira que sobe em um banco na pracinha e abre o vidro, deixando escapar cada borboleta...
_Voem lindas borboletas!  Voem para o céu!
Surpresas, as meninas questionaram Belmira:
_ Por que você libertou as nossas borboletas?!
Belmira sorri e tranquilamente responde:
_As borboletas tem a vida tão curtinha... Se elas ficarem no vidro morrerão mais rápido.  Vocês não perceberam que elas perderam a cor quando estavam no vidro?
E assim as borboletas iam voando inicialmente,  meio desequilibradas, até ganharem confiança, reconquistarem a autoestima e enfeitarem o céu.

( Elisabeth Amorim, Borboletas no vidro - infantil/2016)
Postado na página da autora no G+ em imagens e mensagens.Foto do perfil de Elisabeth Amorim


quarta-feira, 6 de abril de 2016

A bruxinha


Que visita inesperada
Sorrateiramente, invade meu lazer.
Não bate a porta na entrada
Na saída, bagunça tudo com prazer

Na escuridão da noite
Sobrevoa minha cama
Invade meus pensamentos
Esse é o meu drama.

Fora daqui, bruxinha má!
Não quero você aqui
Nem a convidei para entrar.

Chega de tanta insolência
Vá procura a sua vassoura.
Ó,  maluca consciência!


E.Amorim

Literatura de mainha 6 - Afirmação de identidades

 Mais um vídeo para você prestigiar.  Textos básicos; O sapo - Rubem Alves O sapo que não virou príncipe - Elisabeth Amorim