Aquela
mulher tinha uma coisa que não combinava. Seu nome sugeria algo que
ela não era. Ela era uma mulher totalmente estabanada. Trocava nomes
dos colegas, modelos de carros, endereços… Até as cores poderiam ser
substituídas, afinal para Serena não valia a pena guardar na memória
coisas sem grandes importâncias. Onde ficariam as coisas valiosas que
deveriam ser preservadas?
Aos trinta anos de idade estava de bem com a vida. Solteira, independente financeiramente, férias sempre planejadas… Quando organizava ir para o Rio de Janeiro, às vésperas mudava de ideia e ia para Amazônia . Naquele ano não teria alteração de rota, iria finalmente conhecer as Cataratas do Iguaçu. E não é que uma semana antes Serena mudou todo o roteiro?
Dessa vez conheceria o Poço Encantado e uma série de cachoeiras na Chapada Diamantina, na Bahia. Quem tentasse entender Serena, não conseguia. Pois nem ela mesma tinha uma explicação para os seus atos desastrosos. No escritório no qual trabalhava ela conseguia saber onde guardava os documentos, bastava um pouquinho de paciência…
_ Calma, chefe! Levo agora para o senhor assinar… Estava aqui agora em cima da mesa, na pasta azul, já estou indo!
E assim que desliga o interfone corre para as vinte e cinco pastas azuis a procura do tal documento importante. Isso após se lembrar que “esse” foi colocado na pasta com etiqueta “urgente”. Boa lembrança! Iria reduzir a procura pois apenas nove pastas tinham a mesma etiqueta… Essa era a Serena. Falar que aquela mulher vivia pagando mico, era pouco para o desequilíbrio que era a sua vida. “Gorila” o nome correto para os “fora” dados.
E quando entrou no carro errado e foi dando bronca no “amigo” por ter chegado mais cedo? Já invadiu o banheiro masculino por displicência e vermelha balbucia um “ desculpa”. Serena ao flagrar o “namorado” de costas sentando com uma garota no Shopping, agarra-o por trás e tasca um beijo no pescoço… Diante de uma moça furiosa que berra:
_ Amarildo, o que isso significa?! Quem é essa mulher?!
_Desculpe-me! Pensei que era o meu…
Serena é um verdadeiro furação em forma de mulher.
Pensava que jamais se casaria pois nenhum homem teria paciência com aquela “bomba relógio” ambulante. Viver com Serena era ter a certeza de que o tédio não existiria. Pois a jovem nem bem saía de uma encrenca, entrava em outra pior. Muitos namorados depois de algum tempinho nem o celular atendiam. E Serena continuava serena.
Na semana de ir para Chapada Diamantina o atual namorado a dispensou, dizendo que aquele programa não era para ele, pois o combinado era o passeio nas Cataratas do Iguaçu . A amizade continuava, mas “bye-bye.”
Aquilo não incomodou Serena, assim teria uma cama gigantesca e um banheiro sem precisar dividi-los com ninguém. Claro, tinha o lado negativo, quem iria fazer um cafuné? Quem esquentaria as suas noites? Logo nesta viagem que Serena havia resolvido engravidar ou tentar, pois aos trinta anos não queria deixar para depois .
Serena não imaginava que a Chapada Diamantina tem as suas surpresas, além da beleza natural. Na mesma noite em que se hospeda num belo hotel, percebe que chama a atenção, afinal era a única mulher desacompanhada naquele local. Escolhe um cantinho para apreciar o lugar e observar os frequentadores. Um senhor chama-lhe a atenção. Mesmo acompanhado de uma bela mulher mais jovem, percebia que ele não estava nada contente com aquela viagem . Passa a imaginar qual a relação daquele casal, o porquê do descontentamento… E ao perceber que era observado, o senhor retribui o olhar com um sorriso displicente e convidativo, constrangida ao ser notada, baixa as vistas e vasculha distraidamente a carteira…
Serena se surpreende ao receber do garçom um bilhetinho com um número de telefone do quarto e a pergunta: “Não gosta de dinheiro?” Aquilo a deixou mais envergonhada. Estava sendo confundida com uma mulher de programa. Nunca fora tímida, mas aquela dedução do senhor lhe desconcertou. Provavelmente era aquele seu jeito de mulher de bem com a vida, morena, alta, agradável, uma mulher feliz e satisfeita com as conquistas. E isso lhe dava um ar de prazer, visto do outro lado como “ disponível”.
Naquele momento resolveu dar uma lição naquele senhor, provavelmente um estrangeiro, pelo vermelhão da pele branca, devido a exposição solar. Guarda o endereço, sorri e concorda com um gesto. Em seguida vai para o próprio quarto. Ele que ficaria a noite toda a sua espera… Toma banho, sem se preocupar em se vestir deita na penumbra.,. algumas taças de vinho, uma sonolência o corpo não resiste, adormece. Não percebe quando o senhor entrou em seu quarto, uma vez que ela não apareceu, mas concordou que ele a procurasse. O garçom era a testemunha daquele gesto e com uma boa gorjeta, acesso livre.
Ele tentou lhe falar algo sobre o dinheiro, mas ela não deu nenhuma chance de prossegui-lo, entre os sonhos e realidade namoram a noite toda. Serena não se policia, entrega-se completamente. O pai do seu filho tinha a cara daquele estrangeiro que ela deixara com cara de bobo à sua espera. Qual o nome daquele homem? Incrível! O sonho não terminava… Eles não se falavam, sussurravam palavras desconexas. Incansáveis? Não! Satisfeitos permanecem agarrados…
Serena acorda quase onze horas da manhã, surpresa pois não era de costume dormir tanto. Lençóis pelo chão, almofadas espalhadas, sua cama numa total desordem. Volta a pensar no sonho que agitou a sua noite, dali em diante diminuiria o vinho. De repente, algo lhe chama a atenção em cima da cômoda.
Havia junto com o número que recebera do garçom, uma nota de cem reais com um bilhetinho:
“ _ Gostei da recepção. Ah, esse dinheiro é seu …Replay?!”
Furiosa, Serena desperta de uma vez. Não quer saber o conteúdo do bilhete, toma um banho rápido, pega o dinheiro e o bilhete e corre para o quarto anotado. Com a certeza de que ele estava a sua espera, ela invade o local, sem bater na porta, aos gritos:
_ Quem o senhor pensa que é para me tratar desse jeito?
O casal que estava namorando se assusta com a presença daquela mulher, olha para aquele furação sem nada entender…
_ Oh, Desculpe! Desculpe! __ Mesmo envergonhada, reconhece a jovem que acompanhara o senhor na noite anterior, e dispara:
_ Enquanto você fica traindo seu marido com esse homem mais novo, ele dormiu comigo essa noite! Comigo, SERENA! Entendeu? E dê para ele esse dinheiro, mande ele comprar outra pois não estou à venda!
E some, jogando em cima da cama uma nota amassada de cem reais, enquanto os jovens trocam olhares e caem na risada.
_Agora entendi qual o furação atingiu meu pai! É a mesma que te falei do restaurante que deixou cair cem reais da carteira …
_Ainda bem que ele só volta à noite… Essa não é nada serena!
Enquanto num apartamento bem próximo, encontrava-se uma mulher furiosa, arrumando as malas e saindo às pressas daquele hotel. Ao chegar na recepção …
_ Idiota! Além de estragar o meu passeio, fez eu perder cem reais! Mas voltar para procurar, eu não volto! Fecha a conta e voa para Foz do Iguaçu, enquanto no chão jaz um bilhetinho amassado "…que você deixou cair ontem.”
Aos trinta anos de idade estava de bem com a vida. Solteira, independente financeiramente, férias sempre planejadas… Quando organizava ir para o Rio de Janeiro, às vésperas mudava de ideia e ia para Amazônia . Naquele ano não teria alteração de rota, iria finalmente conhecer as Cataratas do Iguaçu. E não é que uma semana antes Serena mudou todo o roteiro?
Dessa vez conheceria o Poço Encantado e uma série de cachoeiras na Chapada Diamantina, na Bahia. Quem tentasse entender Serena, não conseguia. Pois nem ela mesma tinha uma explicação para os seus atos desastrosos. No escritório no qual trabalhava ela conseguia saber onde guardava os documentos, bastava um pouquinho de paciência…
_ Calma, chefe! Levo agora para o senhor assinar… Estava aqui agora em cima da mesa, na pasta azul, já estou indo!
E assim que desliga o interfone corre para as vinte e cinco pastas azuis a procura do tal documento importante. Isso após se lembrar que “esse” foi colocado na pasta com etiqueta “urgente”. Boa lembrança! Iria reduzir a procura pois apenas nove pastas tinham a mesma etiqueta… Essa era a Serena. Falar que aquela mulher vivia pagando mico, era pouco para o desequilíbrio que era a sua vida. “Gorila” o nome correto para os “fora” dados.
E quando entrou no carro errado e foi dando bronca no “amigo” por ter chegado mais cedo? Já invadiu o banheiro masculino por displicência e vermelha balbucia um “ desculpa”. Serena ao flagrar o “namorado” de costas sentando com uma garota no Shopping, agarra-o por trás e tasca um beijo no pescoço… Diante de uma moça furiosa que berra:
_ Amarildo, o que isso significa?! Quem é essa mulher?!
_Desculpe-me! Pensei que era o meu…
Serena é um verdadeiro furação em forma de mulher.
Pensava que jamais se casaria pois nenhum homem teria paciência com aquela “bomba relógio” ambulante. Viver com Serena era ter a certeza de que o tédio não existiria. Pois a jovem nem bem saía de uma encrenca, entrava em outra pior. Muitos namorados depois de algum tempinho nem o celular atendiam. E Serena continuava serena.
Na semana de ir para Chapada Diamantina o atual namorado a dispensou, dizendo que aquele programa não era para ele, pois o combinado era o passeio nas Cataratas do Iguaçu . A amizade continuava, mas “bye-bye.”
Aquilo não incomodou Serena, assim teria uma cama gigantesca e um banheiro sem precisar dividi-los com ninguém. Claro, tinha o lado negativo, quem iria fazer um cafuné? Quem esquentaria as suas noites? Logo nesta viagem que Serena havia resolvido engravidar ou tentar, pois aos trinta anos não queria deixar para depois .
Serena não imaginava que a Chapada Diamantina tem as suas surpresas, além da beleza natural. Na mesma noite em que se hospeda num belo hotel, percebe que chama a atenção, afinal era a única mulher desacompanhada naquele local. Escolhe um cantinho para apreciar o lugar e observar os frequentadores. Um senhor chama-lhe a atenção. Mesmo acompanhado de uma bela mulher mais jovem, percebia que ele não estava nada contente com aquela viagem . Passa a imaginar qual a relação daquele casal, o porquê do descontentamento… E ao perceber que era observado, o senhor retribui o olhar com um sorriso displicente e convidativo, constrangida ao ser notada, baixa as vistas e vasculha distraidamente a carteira…
Serena se surpreende ao receber do garçom um bilhetinho com um número de telefone do quarto e a pergunta: “Não gosta de dinheiro?” Aquilo a deixou mais envergonhada. Estava sendo confundida com uma mulher de programa. Nunca fora tímida, mas aquela dedução do senhor lhe desconcertou. Provavelmente era aquele seu jeito de mulher de bem com a vida, morena, alta, agradável, uma mulher feliz e satisfeita com as conquistas. E isso lhe dava um ar de prazer, visto do outro lado como “ disponível”.
Naquele momento resolveu dar uma lição naquele senhor, provavelmente um estrangeiro, pelo vermelhão da pele branca, devido a exposição solar. Guarda o endereço, sorri e concorda com um gesto. Em seguida vai para o próprio quarto. Ele que ficaria a noite toda a sua espera… Toma banho, sem se preocupar em se vestir deita na penumbra.,. algumas taças de vinho, uma sonolência o corpo não resiste, adormece. Não percebe quando o senhor entrou em seu quarto, uma vez que ela não apareceu, mas concordou que ele a procurasse. O garçom era a testemunha daquele gesto e com uma boa gorjeta, acesso livre.
Ele tentou lhe falar algo sobre o dinheiro, mas ela não deu nenhuma chance de prossegui-lo, entre os sonhos e realidade namoram a noite toda. Serena não se policia, entrega-se completamente. O pai do seu filho tinha a cara daquele estrangeiro que ela deixara com cara de bobo à sua espera. Qual o nome daquele homem? Incrível! O sonho não terminava… Eles não se falavam, sussurravam palavras desconexas. Incansáveis? Não! Satisfeitos permanecem agarrados…
Serena acorda quase onze horas da manhã, surpresa pois não era de costume dormir tanto. Lençóis pelo chão, almofadas espalhadas, sua cama numa total desordem. Volta a pensar no sonho que agitou a sua noite, dali em diante diminuiria o vinho. De repente, algo lhe chama a atenção em cima da cômoda.
Havia junto com o número que recebera do garçom, uma nota de cem reais com um bilhetinho:
“ _ Gostei da recepção. Ah, esse dinheiro é seu …Replay?!”
Furiosa, Serena desperta de uma vez. Não quer saber o conteúdo do bilhete, toma um banho rápido, pega o dinheiro e o bilhete e corre para o quarto anotado. Com a certeza de que ele estava a sua espera, ela invade o local, sem bater na porta, aos gritos:
_ Quem o senhor pensa que é para me tratar desse jeito?
O casal que estava namorando se assusta com a presença daquela mulher, olha para aquele furação sem nada entender…
_ Oh, Desculpe! Desculpe! __ Mesmo envergonhada, reconhece a jovem que acompanhara o senhor na noite anterior, e dispara:
_ Enquanto você fica traindo seu marido com esse homem mais novo, ele dormiu comigo essa noite! Comigo, SERENA! Entendeu? E dê para ele esse dinheiro, mande ele comprar outra pois não estou à venda!
E some, jogando em cima da cama uma nota amassada de cem reais, enquanto os jovens trocam olhares e caem na risada.
_Agora entendi qual o furação atingiu meu pai! É a mesma que te falei do restaurante que deixou cair cem reais da carteira …
_Ainda bem que ele só volta à noite… Essa não é nada serena!
Enquanto num apartamento bem próximo, encontrava-se uma mulher furiosa, arrumando as malas e saindo às pressas daquele hotel. Ao chegar na recepção …
_ Idiota! Além de estragar o meu passeio, fez eu perder cem reais! Mas voltar para procurar, eu não volto! Fecha a conta e voa para Foz do Iguaçu, enquanto no chão jaz um bilhetinho amassado "…que você deixou cair ontem.”
Elisabeth Amorim
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Disponível desde 2013 em http://www.protexto.com.br/texto.php?cod_texto=3127
https://toquepoetico.wordpress.com/2014/06/22/serena-conto/
*tela de Ilka Peixoto, Nu.
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