quarta-feira, 29 de julho de 2015

A Mulher da Trouxa (Lenda de Iaçu/2)


https://toquepoetico.files.wordpress.com/2014/08/mulher-com-uma-trouxa.png
 ( imagem da Web, apenas ilustrativa)
Esse causo é mais um que virou uma lenda na minha doce Iaçu. Não tenho muito a falar sobre ele, porque  o que já falaram dessa tal Mulher da Trouxa não é nada animador ir atrás para pescar alguma novidade.  Vamos  ao que se propagou…
Há muito tempo, na cidade,  morava uma jovem que tinha uma relação conturbada com a mãe.  E mãe precisa ser tratada com todo respeito, amor e carinho. Mas, o problema dessa jovem  era  descarregar toda a frustração  em quem estava mais próximo.  Até que um dia, ela perde a mãe. E fica sem ter alguém para despejar a  sua lamentação, fúria…xingava e xingava.
E numa noite de tempestade, o vento ao bater a porta, ela se irritou com o barulho e passa a falar os vários impropérios de costume.  Como se desafiasse as forças do mal. Com isso, ao se aproximar para fechar a porta, encontra-se  com uma mulher desfigurada com uma trouxa na cabeça, dizendo que tinha vindo para atendê-la,  já que ela vivia a convidá-la…

Ela gritou desesperada. Ao  ser socorrida pelos vizinhos em total descontrole,  alegou estar sendo perseguida por uma mulher com uma trouxa na cabeça.  Como ninguém  conseguia  perceber a presença da criatura do além, apenas ela, o que a deixava mais nervosa e desequilibrada. Em todos os lugares que ela ia, sentia que a tal criatura a acompanhava a certa distância…  Agora pergunto, e aí?
Até aí  o causo que já vem de outros carnavais, praticamente é o mesmo.  O que diferencia é  justamente a direção tomada a partir dessa suposta aparição. Conforme os blá, blá, blá…  a jovem ficou louca e se jogou da Ponte Severino  Vieira. E desde então, em noites de tempestade ela aparece naquele local, com uma trouxa na cabeça, imitando a responsável pela sua loucura e morte.



ponte severino vieira 1904
Ponte Severino Vieira/ Iaçu - Ba

Outros dizem que após a tal aparição  da original Mulher da Trouxa, a jovem que gostava de falar palavrões se regenerou.  Tornou-se uma pessoa mais consciente e temente a Deus,  como tinha sido a única a ver a assombração, recebeu esse apelido: Mulher da Trouxa.  Ela era bem magrinha, as pessoas faziam brincadeira em relação as canelas finas com uma trouxa desproporcional na cabeça, isso às escondidas quando “ ela” passava para ir à igreja. Essa é a outra versão.
E já houve uma terceira versão… dizem  se tratar de uma lavadeira magra  que lavava roupa no rio Paraguaçu, próximo a Ponte Severino Vieira, e de repente choveu forte,  por um descuido  ela morreu afogada e o corpo nunca foi encontrado. E  vez ou outra “ela” aparece no local, com a sua trouxa…
Quem é/ foi  realmente a MULHER DA TROUXA? Não sei e nem me interessa saber… Não sou   caçador de fantasmas.

Bem, caro leitor,  o ponto comum de um causo como esse é justamente a Ponte Severino Vieira, pois as histórias desencontradas…  lá é o local de encontro, o predileto da MULHER DA TROUXA em dias de temporais.  Lavadeira? Moça desbocada?  Louca? Sei lá… como disse o saudoso Ariano Suassuna, “não sei, só sei que foi assim.”
                      
                               E. Amorim                

sábado, 25 de julho de 2015

Batom Vermelho (soneto)*


Apagaste todas as mensagens
Juraste não a conhecer
Esqueceste das traquinagens
Que negaste reviver.

O tempo passou  len   ta    men   te
E numa das  curvas da estrada
Esbarra-se novamente
Com a doce namorada!

Agora a reconheceu
Lembrou-se de todos os pecados
Que um dia cometeu.

Corpos sintonizados no mesmo tom...
Aquele beijo sem igual
Deixando-lhe a marca do batom. 

                                               Elisabeth Amorim


* Este texto faz parte do Sarau Poético Virtual que  participei a convite, mesmo "arranhando nas poesias". Pela quantidade de mensagens de incentivo dos amigos, valeu!

Minha página é:

http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=161039  



                                                      COMENTÁRIOS


25/07/2015 11:23 - Christiano Nunes
Olá... Muito lindo mas lindo mesmo, nobre poetisa Elisabeth. Gostei do que li. Parabéns. . .. Que Deus nos abençoe. Abs Chris

25/07/2015 01:02 - Sonya Azevedo
Linda poesia! Luz e paz. Bjs

23/07/2015 21:10 - xodózinha
Delícia ler sua poesia brejeira,bjokas

23/07/2015 14:15 - Poeta Carioca
Bravo, poetisa! Inova e cria com estilo!!!

20/07/2015 12:04 - Fernando Alberto Couto
Magnífica criatividade e lindo soneto. Parabéns!

18/07/2015 18:42 - São Beto
Muito bom e expressivo soneto, parabéns. Voltarei

16/07/2015 22:11 - Jeane Diogo
Talento e criatividade... belo soneto, Elisabeth! Aplausos! Beijos no coração. Fica com Deus, sempre! Tenha uma boa noite.

16/07/2015 18:19 - Maria Augusta da Silva Caliari
Linda poetisa, adorei tua composição poética!Parabéns!Para quem diz que não tem muito jeito ficou nota mil!Bjs no coração e uma noite repleta de inspiração.Adorei!

16/07/2015 13:44 - Leir Rodrigues
Lindo poema! Gostei muito!!! Grato pela visita e gentil comentário! Volte sempre!

16/07/2015 09:19 - Espirito Santo
batom vermelho deixa a mulher sensual ! /// lindo poema ! paz e bem poetisa !

15/07/2015 18:32 - Stelo Queiroga
Se sem saber saber faz assim ... Manda um pouquinho pra mim ... Desta verve natural ... Pra eu plantar no quintal ... Regar com todo o carinho ... E acordar bem cedinho ... E esperar bem quietinho ... Pelo broto seminal

15/07/2015 12:07 - Marisa Costa
Magnífica participação, querida Elisabeth, com muito talento e criatividade, meus aplausos! Abraços de paz e luz!

15/07/2015 01:07 - JR OLIVIER
Bravíssimo! Aguça a imaginação. Abraços, talentosa poetisa!

14/07/2015 07:03 - MVA
Muito bonito, com certeza!

13/07/2015 21:30 - Lianatins
Magnífico soneto Elisabeth,parabéns pelo último texto do seu Sarau Poético,cumpriu com muito talento!Um abraço fraterno, Liana.

13/07/2015 17:18 - SAULO VIEIRA
Teu versejar é bem interessante do que costumo ler!..Gostei....sinceramente.

13/07/2015 16:18 - Ana Bailune
Parabéns, excelente participação!

13/07/2015 16:05 - Charles Canela
singelo e gostoso pra ler

13/07/2015 09:41 - Joel de Sá
Tua poesia é mais que uma reflexão bem estilizada e extremamente coerente.

12/07/2015 16:53 - Beatriz Beraldo
Lindo poema, Elisabeth! Adorei! Muito obrigada pela visita, tenha uma tarde iluminada!

12/07/2015 10:13 - geraldinho do engenho
parabéns pela bela composição revelando tua arte poética com requintes de criatividade! Abraços fraternos!

11/07/2015 22:12 - Meire Perola Santos
Belíssimo parabéns abraços

10/07/2015 11:09 - marco xavier
Belo poema. Obrigado pelo carinho da visita. Abraços.

10/07/2015 07:33 - Arnoldo Pimentel Filho
Um poema encantador, lindo. Parabéns poetisa.Beijos.

10/07/2015 01:49 - Israel dos Santos
Belo soneto de amor. Preciso explorar seu talento e o farei, oportuno e apropriadamente. Muito bem! Abars.


quinta-feira, 23 de julho de 2015

A Mulher de Branco ( Lenda de Iaçu/1)


     Era uma noite como outra qualquer,  década de 80, no Colégio Municipal Castro Alves, atualmente  no local funciona a Escola Municipal Teotônio Pereira Coimbra,  localizado à rua Castro Alves,   estudantes todos acomodados em sala , enfileirados,  pois a direção era muito rígida.  E uma das lutas travadas  era combater o tabagismo na escola. Se fumasse nas suas dependências logo seria delatado  e punido com suspensão por um prazo determinado pela direção. E não é que alguns alunos espertinhos usavam o banheiro para alimentar o vício? 
     Devido esse problema bem recorrente no turno noturno,  os professores em horário vago  percorriam os diferentes locais daquela escola. E foi justamente numa dessas “batidas” ao banheiro feminino, localizado  no pavilhão de baixo, que esse fato  aqui narrado se sucedeu.
     Uma professora ao passar fazendo sua ronda próximo ao banheiro  sentiu o cheiro do cigarro.  Sorriu na certeza de que pegaria uma aluna fumante cometendo um ato de delito.  E na pontinha dos pés  fica aguardando a “aluna rebelde” sair.  Como sentiu que estava demorando, resolveu invadir o recinto…
     E o que a professora viu  entrou para a história de nossa Iaçu. Segundo o relato que correu de boca em boca, havia uma mulher de branco no banheiro, uma criatura totalmente desfigurada com algodão na boca e nos ouvidos…
     Em desespero a professora saiu  gritando:

     _ TEM UMA MULHER DE BRANCO NO BANHEIRO!

     Quando um fato como esse se passa dentro de uma escola… o portão do Colégio Municipal Castro Alves foi aberto rapidamente,  pois ficou pequeno para conter todo o alunado noturno em pânico por conta  da tal Mulher de Branco vista pela professora que ficara em estado de choque.
     Como esse causo surgiu de uma pessoa responsável,  não teve como duvidar da veracidade. No dia seguinte a direção da escola  convidou um padre e no turno matutino,  no "Pavilhão de Baixo", como é conhecido, ocorreu uma missa. Talvez, na tentativa de tranquilizar os alunos do noturno  e expulsar de vez a criatura do banheiro.  Ah, o pequeno banheiro  passara a ser frequentado por "caravanas" de estudantes, ninguém tinha coragem de ir lá sozinha, sempre em grupos.   Mas, voltando à missa,  confesso,   fiquei com um olho na celebração e outro no portão da saída...  Achava que a qualquer momento a Mulher de Branco apareceria para interromper  a missa. Ela não apareceu, mas o que foi de histórias depois...
     Porque para tudo procura-se uma explicação e a curiosidade do momento era: Quem era o fantasma de branco que apareceu no banheiro feminino daquela escola?   Teve quem afirmasse que a Mulher de Branco era uma  estudante que estava noiva e que havia falecido de forma inesperada. Caso que nunca foi confirmado por quem ficou “cara a cara” com a tal.  Outros  diziam que a Mulher de Branco era  uma professora que havia ensinado muito tempo no colégio, também não se confirmou.  A única certeza   é que essa criatura já fez outras aparições  e o seu alvo é sempre professora no referido pavilhão.
     A Mulher  de Branco já faz parte da história desse lugar. A única pista deixada é que  ela não aparece para fazer o mal, mas para chamar a atenção para algo. O quê? Ainda é um mistério que está longe de ser desvendado. Porque dizem que "A Mulher de Branco" corre o mundo.  Por que digo isso?
Ora, na última aparição dela, já no final da década de 90, uma  professora ficou apavorada  com uma investida que sofreu no mesmo pavilhão…  ela acredita ter sido A Mulher de Branco quem  a fez derrubar todo o material que carregava ao assoprar com força o seu ouvido.  No entanto ao retornar ao local  da investida  quase no mesmo instante,  dessa vez  acompanhada de  alguns estudantes que não sabiam do ocorrido…  os livros, apagador, caixa de giz, caderno… tudo estava arrumado no mesmo lugar em que ela  havia  sofrido o assédio do além.

- Que fantasma educado!
                                                                     E. Amorim

sábado, 18 de julho de 2015

A cara do lobo (fábula)


*

Lobato era o nome daquele lobo enorme  e marrom.  Lobato morava na Floresta  Cinza. Cada dia que passava  as queimadas  deixavam  o cenário mais  cinza.  Até Lobato resolve pedir ajuda aos amigos da floresta  para modificar o cenário. E o pedido dele era  para cada um tentar apagar um foco de incêndio ou  contribuir para que os incêndios não propagassem, ou seja fazer a sua parte para melhorar aquele ambiente.
E o primeiro amigo  abordado foi um veado que estava perseguindo uma  fêmea numa clássica briga   conjugal.  Quando o veado macho com toda a sua galhada  vê a sua presa desaparecer porque desviou o seu foco para ouvir  o pedido de um lobo, se irrita:
_O quê?  A Floresta Cinza precisa mudar de cor? Por acaso sou pintor? Sinto amigo, não posso fazer nada... Além do mais acho essa cor combinando com a minha pele. E desde quando você se tornou um  lobo bom?
O lobo sorriu.  Queria fazer algo pela sua Floresta Cinza, até o planeta estava mudando de cor... De repente ouviu um barulho... E um elefante estava chegando. E  o lobo aproveitou para pedir ajuda para salvar a floresta, com a tromba gigante muita água poderia ser  alojado e jogada na floresta, com certeza ajudaria  aquele lugar.
E o elefante olhou para a  Floresta Cinza, viu pequenos focos de incêndios. Sabia que teria que fazer algumas viagens até o rio. E o elefante viu que tinha  trabalho pela frente... E disse para o lobo:
_Amigo Lobato,  você tem razão! A Floresta Cinza precisa mudar de cor. Só que eu estou com pressa... E tenho alergia a essa fumaça. E o que você está querendo com essa sua ideia ? Lobato, Lobato você nunca foi um lobo bonzinho...
Nisso, Lobato percebeu que dificilmente  ele encontraria um parceiro.  Cada um que passava não fazia outra coisa, passava.  Alguns animais resolveram  evitar aquele caminho, para não ser convidado a salvar o próprio espaço. Lobato   começa sozinho, como não tinha onde alojar água, vai até o riacho enche a boca e vai apagando. Até que o Leão, rei da Floresta Cinza,  ficou muito tempo observando o trabalho, resolve intervir:
_Lobato,  me falaram que você está querendo ser o rei dos animais...  Não gostei nada de saber dessa novidade. Então você tem até amanhã para sair da Floresta Cinza! Está ouvindo, você é lobo e não me engana.  E foi logo saindo sem querer ouvir o que Lobato tinha a dizer...
Lobato  saiu  e  no caminho encontrou um desumano. Ele pensou em fugir, pois pressentiu o perigo,  o desumano que era  o único responsável pela mudança de cor da floresta...  ao vê-lo,  veio lhe  abraçar efusivamente :
_Amigo, que prazer lhe encontrar! Não fique triste!  Eu posso lhe ajudar a ter uma vida melhor...  já estou  sabendo do ocorrido, você quer devolver as cores da floresta.  Venha comigo que te levarei para um local bem alegre, lá você  conhecerá muitas luzes e cores...

E  ao retribuir o abraço desumano,  Lobato já sentiu uma pequena picada de uma agulha que lentamente  o deixava sonolento, lerdo, desacordado. E o lobo mau  o levou para o circo e lá,  Lobato aprendeu a obedecer e chorar silenciosamente no cantinho da sua jaula.


Moral:  Se não pode vencer o inimigo, mantenha-o a distância.

                                         Elisabeth Amorim

* imagem da web

quinta-feira, 16 de julho de 2015

SERENA (conto)

*

Aquela mulher tinha uma coisa que não combinava.  Seu nome sugeria algo que ela não era.  Ela era uma mulher totalmente estabanada. Trocava nomes dos colegas, modelos de carros, endereços… Até as cores  poderiam  ser substituídas, afinal para Serena não valia a pena guardar na memória coisas sem grandes importâncias.  Onde ficariam as coisas valiosas que  deveriam ser preservadas?
Aos trinta anos de idade  estava de bem com a vida. Solteira, independente financeiramente, férias sempre planejadas… Quando organizava ir para o Rio de Janeiro, às vésperas mudava de ideia e ia para Amazônia . Naquele ano não teria alteração de rota,  iria finalmente conhecer as  Cataratas do Iguaçu. E não é que uma semana antes Serena mudou todo o roteiro?
Dessa vez conheceria o Poço Encantado e uma série de cachoeiras na Chapada Diamantina, na Bahia. Quem tentasse entender Serena, não conseguia. Pois nem ela mesma tinha uma explicação  para os seus atos desastrosos.  No escritório no qual  trabalhava ela conseguia saber onde guardava os documentos, bastava  um pouquinho de paciência…
_ Calma, chefe!  Levo agora para o senhor assinar… Estava aqui agora em cima da mesa, na pasta azul, já estou indo!
E assim que desliga o interfone  corre para as  vinte e cinco pastas azuis a procura do tal documento importante. Isso após se lembrar que “esse”  foi colocado na pasta com etiqueta “urgente”. Boa lembrança!   Iria reduzir a procura pois apenas nove pastas tinham a mesma etiqueta… Essa era a Serena. Falar que aquela mulher vivia pagando mico, era pouco para o desequilíbrio que era a sua vida.  “Gorila” o nome correto para os “fora” dados.
E quando entrou no carro errado e foi  dando bronca no “amigo” por ter chegado mais cedo? Já invadiu o banheiro masculino por displicência e vermelha balbucia um “ desculpa”. Serena  ao flagrar o “namorado” de costas sentando com uma garota no Shopping,  agarra-o por trás e tasca um beijo no pescoço… Diante de uma moça furiosa que berra:
_ Amarildo, o que isso significa?! Quem é essa mulher?!
     _Desculpe-me! Pensei que era o meu…
Serena é um verdadeiro furação em forma de mulher.
Pensava que  jamais se casaria pois nenhum homem teria paciência com aquela “bomba relógio” ambulante. Viver com Serena era ter a certeza de que o tédio não existiria. Pois a jovem nem bem saía de uma encrenca, entrava em outra  pior. Muitos namorados depois de algum tempinho nem  o celular atendiam. E Serena continuava serena.
Na semana de ir para Chapada Diamantina o atual namorado  a dispensou, dizendo que aquele programa não era para ele, pois o combinado era  o passeio nas Cataratas do Iguaçu .  A amizade continuava, mas “bye-bye.”
Aquilo não incomodou Serena, assim teria uma cama gigantesca e um banheiro sem precisar dividi-los com ninguém. Claro, tinha o lado negativo, quem iria fazer um cafuné? Quem  esquentaria as suas noites? Logo nesta viagem que Serena havia resolvido engravidar ou tentar, pois aos trinta anos não queria deixar para depois .
Serena não imaginava que a Chapada Diamantina tem as suas surpresas, além da beleza natural.   Na mesma noite em que se hospeda  num belo hotel, percebe que chama a atenção, afinal era a única mulher desacompanhada naquele local.  Escolhe um cantinho para apreciar o lugar e observar os frequentadores. Um senhor chama-lhe a atenção. Mesmo acompanhado de  uma bela mulher  mais jovem, percebia que ele não estava nada contente com aquela viagem . Passa a imaginar qual a relação daquele casal,  o porquê do descontentamento…  E  ao perceber que era observado, o senhor retribui o olhar  com um sorriso displicente e convidativo,  constrangida ao ser notada, baixa as vistas e vasculha distraidamente a carteira…
Serena se surpreende ao receber do garçom um bilhetinho com um número de telefone do quarto e a pergunta: “Não gosta de dinheiro?”  Aquilo a deixou  mais envergonhada. Estava sendo confundida com uma mulher de programa. Nunca fora tímida, mas aquela dedução do senhor lhe desconcertou.  Provavelmente era aquele seu jeito de mulher de bem com a vida, morena, alta, agradável, uma mulher feliz e  satisfeita com as conquistas. E isso lhe dava um ar de prazer, visto do outro lado como “ disponível”.
Naquele momento resolveu dar uma lição naquele senhor, provavelmente um estrangeiro, pelo  vermelhão da pele branca, devido a exposição solar. Guarda o endereço, sorri e concorda com um gesto. Em seguida vai para o próprio quarto. Ele que ficaria a noite toda a sua espera… Toma banho, sem se preocupar em se vestir deita na penumbra.,.  algumas taças de vinho,  uma sonolência o corpo não resiste, adormece.  Não percebe quando o senhor entrou em seu quarto, uma vez que ela não apareceu, mas concordou que ele a procurasse. O garçom era a testemunha daquele gesto e com uma boa gorjeta,  acesso livre.
Ele tentou lhe falar algo sobre o dinheiro, mas ela não deu nenhuma chance de prossegui-lo, entre os sonhos e realidade namoram a noite toda. Serena não se policia, entrega-se completamente.  O pai do seu filho tinha a cara daquele estrangeiro que ela deixara com cara de bobo à sua espera. Qual o nome daquele homem?  Incrível! O sonho não terminava… Eles  não se falavam, sussurravam palavras desconexas. Incansáveis? Não! Satisfeitos permanecem agarrados…
Serena acorda quase onze horas da manhã, surpresa pois não era de costume dormir tanto. Lençóis pelo chão,  almofadas espalhadas, sua cama numa total desordem. Volta a pensar no sonho que agitou a sua noite, dali em diante  diminuiria o vinho. De repente, algo lhe chama a atenção em cima da cômoda.
Havia junto com o número que recebera do garçom, uma nota de cem reais  com um bilhetinho:
“ _ Gostei da recepção. Ah, esse dinheiro é seu …Replay?!”
Furiosa, Serena desperta de uma vez.  Não quer saber  o conteúdo do bilhete, toma um banho  rápido, pega o dinheiro e o bilhete e corre para o quarto anotado.  Com a certeza de que  ele estava a sua espera, ela  invade o local, sem bater na porta,  aos gritos:
     _ Quem o senhor pensa que é para me tratar desse jeito?
      O casal que estava namorando se assusta com a presença daquela mulher, olha para aquele furação sem nada entender…
_ Oh, Desculpe! Desculpe! __ Mesmo envergonhada, reconhece a jovem que acompanhara o senhor na noite anterior,  e dispara:
_ Enquanto você fica traindo seu marido com esse homem mais novo, ele dormiu comigo essa noite! Comigo, SERENA! Entendeu? E dê para ele esse dinheiro, mande ele comprar outra pois não estou à venda!
E some, jogando em cima da cama uma nota amassada de cem reais, enquanto os jovens trocam olhares e caem na risada.
_Agora entendi qual o furação  atingiu meu pai! É a mesma que te falei do restaurante que deixou cair cem reais da carteira …
_Ainda bem que ele só volta à noite… Essa  não é nada serena!
Enquanto num apartamento bem próximo, encontrava-se uma mulher furiosa, arrumando as malas e saindo às pressas daquele hotel. Ao chegar na recepção …
_ Idiota! Além de estragar o meu passeio,  fez eu perder cem reais! Mas voltar para procurar, eu não volto!  Fecha a conta e  voa para Foz do Iguaçu, enquanto no chão jaz um bilhetinho amassado "…que você deixou cair ontem.”

                                                                                                  Elisabeth Amorim

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Disponível desde 2013  em http://www.protexto.com.br/texto.php?cod_texto=3127
https://toquepoetico.wordpress.com/2014/06/22/serena-conto/
          

*tela de Ilka Peixoto, Nu.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Pai e filha ( mensagem)



PAI,
É no silêncio das horas que nos encontramos
Repouso em Ti
Como um barquinho de papel que as ondas decidem a direção
Para onde irá aquele frágil barquinho?
Sim, somos como esse barquinho
Às vezes somos jogados de uma direção para outra
E enfrentamos  as ondas, tempestades em alto mar
 Como?
Se somos frágeis  como um barquinho...
 Se não dominamos o nosso medo...
Se  achamos que a nossa pequenez  diminui a fé...
Conseguimos  sim, Pai.
Vencemos porque temos um propósito
Acreditamos no poder da fé.
Nada conseguimos  sem a  Tua vontade
E é a Ti  que levamos as nossas petições.
E quando entregamos a Ti a direção
O barquinho não vira,  pode balançar... pender para um lado, mas
 Atravessa ondas e tempestades
Depois volta a navegar por águas calmas.
Pai, tu estás sempre no controle do nosso barquinho.
Até quando?
Sempre. A direção é dada por Ti,
Para o riso ou para a dor. 
A última, primeira, aliás,  a única Palavra que prevalece é Tua.
 Só escolhidos  sabem do que estou falando.
Ser escolhido é ter de certa forma a marca, um sinal da promessa.
 O vendaval invade o espaço, mas não consegue derrubar nada.
Porque quando o Pai está no centro das ações, há sustentação, amparo...
E apenas as pessoas que já alcançaram bênçãos confirmam essa sensação de bem estar.  E são muitas, muitas que recebem bênçãos todos os dias...
A vida é uma bênção quando empregada para as coisas boas, positivas.
Essa mensagem vai além da religião, mas uma mensagem de amor, gratidão e  respeito às ações de  Deus para conosco.
Estamos vivos! Tem presente melhor? Quantas pessoas se pudessem estar no nosso meio  gostariam de ter mais essa chance?
É privilégio  desfrutar o dia, a hora, cada minuto a mais que temos de vida.
Porque o nosso presente é agora, hoje.
Amanhã, um futuro, apenas um futuro.
Pelo  hoje, agradeço, Pai!
E que  amanhã muitas bênçãos serão reservadas para todos nós,
Conforme a Tua vontade de Pai.
          Sua filha.


E. Amorim

sábado, 11 de julho de 2015

Liberdade (poesia)

Elisabeth Amorim

*

Dom divino e precioso
É o poder de ir e vir
Liberdade , Oh, liberdade!
Algo que me faz sorrir.


O respeito a diversidade.
Seja branco ou  preto como carvão
Liberdade é  a chama acesa
Que aquece  o coração.

Liberdade para  ser lida
Sem  o passaporte  de escritora
Espalhar  para o mundo
Rabiscos de uma sonhadora.

Liberdade para voar
Como uma tocha universal
Com apenas um propósito
Divulgar a paz mundial.

Desejos em  versos tortos
Dessa   literatura aprendiz
Que  a LIBERDADE  seja  companheira

De uma trajetória feliz.



* Estátua da Liberdade, Nova York.


publicada também em  http://toquemaisquepoetico.blogspot.com.br/2015/07/liberdade-poesia.html 

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Devolva-me (soneto)

Elisabeth Amorim

*


Quão ingênua fui
Aninhei  em teus braços
Desfiz dos meus laços
Sonhos sonhados sonhei.

Puxaste o tapete
Jogando-me no chão
Negaste a tua mão
Chorei, sorri, levantei.

Agora quero vingança
E os meus abraços?
Desfeita  a  aliança.

Crime e vil castigo.
Cobro com juros agora
Abraços e beijos sem demora.


*imagem da web


Literatura de mainha 6 - Afirmação de identidades

 Mais um vídeo para você prestigiar.  Textos básicos; O sapo - Rubem Alves O sapo que não virou príncipe - Elisabeth Amorim