Não queria escrever, mas essa crônica é
rebelde, as palavras pulam em minha frente, desafiando-me. Ela não sabe
como é difícil ganhar um ser de abraço, mas vou jogando as palavras ao
vento, um dia, talvez, elas não sairão do seu pensamento. E quando isso
acontecer… Viva! Cativei um(a) leitor(a)!
Sentada na poltrona 32, logo atrás, ouço
soluços e gemidos. Calma, leitor! Não é nada disso que está pensando,
deixe de assanhamento… Era choro de dor, angústia. E eu fiquei na
dúvida, o que faço? Ofereço água, ombro ou lágrimas? Sou emotiva.
Enquanto respirava fundo para tomar a decisão. Passo a ouvi-la ao
celular, falava nervosamente alto. A jovem passa a lamentar sobre a
grande perda. Percebo que o interlocutor não teve paciência, pois ela
pede desculpas pelo incômodo e desliga.
Dois minutos, nova ligação entre lágrimas e
lamentos, ela procura “Carlos”, e novamente, ao começar falar do seu
sofrimento, nova dispensa. Mesmo ela falando que só estava querendo
desabafar com um amigo, pois tinha muitos créditos no celular…
Mil coisas passavam em minha mente. Os
pais? Namorado? Esposo? Será que foi acidente? Quem aquela jovem perdeu
para se encontrar naquele estado? Claramente vi alguém em busca de um
abraço.
Na quinta tentativa frustrada, ouço
desculpar por interromper o ouvinte no trabalho ( o anterior estava na
faculdade) mas ela precisava dizer aquilo: -” Não tenho sorte no amor,
não quero mais saber de homem! Estou no fundo do poço!”
Sorri, não pela perda, mas pelo
dramalhão. Centenas de amigos virtuais e na hora de um abraço, nenhum
real disponível. Onde os amigos se esconderam? Ninguém queria ouvir os
problemas alheios. Como é difícil cativar…
Não tive mais condições de aproximar da
jovem. Voltei para a introspecção. Quantas vezes pensamos que seremos
abraçados e recebemos indiferença? Desci do ônibus e a cena me
acompanhou, transformando-se em filme.
Quando chegamos ao fundo de um poço, temos
as opções: Chorar, gritar, esperar o socorro, talvez um
“príncipe/princesa” ou sorrir da falta de atenção… e aprender a não
caminhar de “cara para cima.” Cicatrizes e sal não combinam, por isso as
lágrimas secam mais rápido para poupar as feridas. E aquela jovem iria
sorrir… E mais rápido se tivesse com um papel e uma caneta …
A dor poderia ser desmontada em
literatura, se um dia irão abraçá-la não sei, o importante é que o fardo
ficaria mais leve quando jogado num papel… Pensei em brincar: “ Caí no
poço/ Quem tira? /Eu…/ Eu quem?/ Eu quem? Eu quem?/ Eu mesma, graças a
Deus!” A saída do poço depende de cada um, há quem permaneça lá
fundo para ter um motivo para reclamar da vida e invejar dos outros que
saíram.
E se ela me questionasse se valia a pena
acreditar no ser humano, diria sem titubear: No mundo há pessoas de
pedras e outras tantas de abraços. Deixe as pedras para trás… São os
seres de abraços que nos cativam e são para essas pessoas que escrevo.
Para você que é um ser de abraço… outro!
Elisabeth Amorim
*natureza, imagem da Web
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