domingo, 11 de janeiro de 2015

Um dedinho de prosa com Drummond ( conto)



*

Ao sair de casa sorrateiramente pensando em driblar a esposa para não ir comprar o pão, Sr. Birita nem bem chegara ao portão ouviu o grito:
_ BIRITINHA! VÁ RÁPIDO PEGAR O PÃO!
_ Mas... Mulher está muito cedo!  Que tal deixar o pão para mais tarde?
_Não! Se você não aparecer agora com o pão... Não terá almoço!
Sai senhor Birita (Britinha só para os íntimos)  rumo a padaria. A sua vontade era dobrar a esquerda, ir para o Bar Eldorado e lá permanecer no paraíso. Mas sabia que não podia fazer isso, pois Dona Francisca ficaria bem irritada. Comprou o pão. E ao olhar para o relógio, viu que dava tempo correr rapidinho até o bar...
Sr. Birita bebeu uma, duas, três, quatro doses... Lembrou-se do que veio fazer, pega a sacola de pão e volta cambaleante para casa.  Trôpego, teve que dar aquela paradinha num banco da praça. Olha meio desconfiado, percebera que já havia alguém no banco.  O intruso que deveria sair e não ele... Ao sentar-se:
_ Olhe aqui meu senhor, se tem alguma pedra em seu caminho isso não é problema meu... mas esse banco tem dono! Já que você sentou no meu banco, vou bater um dedinho de prosa contigo...
_...
_ Não adianta ficar me olhando assim... Eu só tomei um gole! Só passei aqui para descansar... e para minha mulher não perceber que bebi logo cedo. Eu não quero problema com Francisca... Ela com raiva...nem pensar!
_...
_ Você parece com aquele cara das “sete faces”... Posso te chamar de “José”?
_...
_Já estou ficando irritado contigo, cara.  Fica só me olhando quietinho... Até parece que é mineiro! Se tiver de olho no meu pão eu não dou!
_...
_Como é seu nome? Responda, como é o seu nome?
_...
_ Se tem uma coisa que eu não suporto, companheiro, é conversar com estátua! Sabe por quê? Estátua é pedra e quem gosta de pedra no caminho é o tal do Carlos Drummond.  Se um dia eu  me encontrasse com ele eu ia dizer umas verdades para ele... Está duvidando?Está duvidando?
Olha firmemente para a estátua a sua frente... Levanta-se rápido com os olhos arregalados, pega o saco de pão e desaparece... 
                                        
                                                                   ***
- Mulher, eu juro, a culpa do atraso foi de Drummond,  ele estava me esperando lá no banco da praça. Eu até conversei um pouquinho com ele... Eu, bêbado?! Eu só tomei uma dose...  Foi ele quem sentou primeiro... Ele estava lá, eu vi.

                                                                    E. Amorim



*imagem do site www.ipiau.com.br   ( apenas ilustrativa)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Literatura de mainha 6 - Afirmação de identidades

 Mais um vídeo para você prestigiar.  Textos básicos; O sapo - Rubem Alves O sapo que não virou príncipe - Elisabeth Amorim