Eram duas meninas, negras, magras e lindas. Brincavam com
suas bonecas improvisadas, corriam rua acima e rua abaixo para se aquecerem
naquele inverno rigoroso. Sorriam do
balançar das árvores, encantadas com aquela pequenina felicidade. As irmãs
aprontavam e encantavam.
De repente, a mais velha percebe uma tristeza no rosto da
mãe, não entendia o porquê. Mas sentia que a mãe estava triste e
murmurando. Os murmúrios incomodavam-nas, pois eram repetitivos e enrolados, mas elas sabiam que eles
representavam o aborrecimento. E elas
precisavam fazer algo para vê-la sorrir.
Conversam entre si, até que descobre uma forma de agradá-la,
com certeza ela gostaria de receber aquele carinho das filhas. Pensativas e já deleitando o sorriso que
brilharia do rosto da mãe com aquele gesto de carinho, confabulam qual delas seria a primeira a expressar o sentimento tão bem guardado...
-É você!
- Eu, não! É você que é mais velha!
- Mãe vai gostar de ouvi primeiro de você que é mais nova!
- Que nada, mãe vai amar quando você for lá primeiro.
E nesse “vai você primeiro” travado pelas duas crianças, uma
com sete anos e a outra com cinco, sem chegarem a nenhuma conclusão. A menor
aceitou, e foi fazer a primeira investida carinhosa na tentativa de vê-la
sorrir. Lentamente entra na cozinha, vê a mãe
fazendo algo junto ao fogão a lenha, tendo a sua irmã mais velha ao seu
lado para testemunhar aquela cena tão bem ensaiada entre elas... que logo seria
repetida, e a faria comum naquele casebre.
Aproxima-se da mãe, nervosa, pois nunca tivera aquela
atitude, com a voz trêmula de emoção diz baixinho:
-Mamãe, a senhora está fazendo a nossa comida, mamãezinha!
A mãe sem olhar para a criança, dá um empurrão de leve e
disse:
-Saia daqui, sua idiota, você quer se queimar?
-As duas crianças saem cabisbaixas, e abraçadas deixam as
lágrimas caírem. E ali naquele quartinho pobre a declaração de amor ficou trancada para sempre.
E. Amorim
*imagem livre da web ( nenhuma relação com o texto)
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