segunda-feira, 27 de março de 2017

Fui parar na Indonésia!


É segunda-feira de novo!
O que fazer com os meus planos frustrados?
O final de semana  se foi
Cidadezinha qualquer
Onde nada acontece por acaso.
Olho para os rabiscos e penso:
Onde irei me esconder da mesmice?
Como fugir dessa rotina
Quero aflorar minha meninice...
Preciso de ânimo  para um renovo
Só assim acordar o adormecido.
Escuto a voz do coração
Veio trazida pelo vento das ilhas asiáticas
Que recolhem versos traçados
Jogados ao ar,
Órfãos e vazios.
Arrepio-me de emoção
Quando vejo  um sinal
Do outro lado.
Da outra margem,
Acenando-me a mão.
                  

Olho para aquelas ilhas,
Que estrutura fascinante!
Imagens colossais, intrigantes,
 Estilosas
Como um grande carrossel.
Sou viajante,
Subo-desço, desço-subo a todo instante.
Passeio pelas ilhas, mas vejo-me ilhada.
Cercada de palavras em versos e prosas
Quero rompê-las para que voem comigo
E saiam das empoeiradas estantes.
Palavras soltas e livres
 Assustadas usam véu...
Fazem reverências respeitosas diante das moradias.
Quero entender o porquê do sinal.
Ou seria uma ousadia?
Respondem sorrindo as doces palavras:
_ É admiração, afinal aqui tudo é irreverente...
Até os chalés usam chapéu.

Sorri bastante  daquela fantasia,
Mesmo no calor de verão
Fui parar na Indonésia.
E a alegria brotou em meu coração.

                               E.Amorim

 Ps: imagens lindas da Indonésia, onde estão os mais novos leitores do nossa literatura.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Reformas, emendas e remendos (crônica)

*

          Incrível, como num país como o Brasil, onde se paga tantos impostos, estamos vivemos  uma crise jamais vista. A velha novidade, velha sim, porque sabemos de que lado a corda se arrebenta, é que mais uma vez o povo trabalhador, sofrido,  terá que arcar com as despesas de um país  que faz carnaval de uma semana e desemprega o ano inteiro.
        Fico triste quando passo por alguns comércios locais e vejo as tabuletas de “Aluga-se” ou “Vende-se!” E isso não está acontecendo apenas no interior, mas na própria capital baiana.  Há poucos dias, comecei a contar quantas casas comerciais foram fechadas, apenas na Avenida Bonocô, na grande Salvador.  Desisti, porque as lágrimas não deixaram continuar. É triste, mas é a nossa realidade, um país onde impera o desemprego. Caminhamos em que direção?
            Quando falta emprego, falta dignidade. Como construir um país melhor  sem o básico?  Nunca se viu falar tanto em corrupção, propinas, prisões e desvios de dinheiro público quanto hoje. Por outro lado, a quantidade jovens e adultos desempregados e sem perspectivas de emprego a curto prazo. Recentemente,  encontrei com dois ex-alunos( já com os estudos secundários concluídos) varrendo rua, nada contra a profissão de gari, mas senti que um deles se envergonhou e tentou se esconder atrás da vassoura e fugir para o outro lado da rua. Talvez, preocupado com aparências, ele nem percebeu a crise que estamos vivendo. Aquela vassoura em suas mãos foi devido a atuação do administrador municipal que adotou o sistema de rodízio de prestadores de serviços em alguns setores públicos.  É uma medida paliativa, mas a procura é imensamente maior que a oferta, com isso, não dá para escolher a profissão dos sonhos, quando nem os sonhos restaram.
          Os nossos representantes agora querem acabar com as aposentadorias especiais.  De quem? Mais uma vez, nós, pobres trabalhadores, como os professores, por exemplo, pagarão as contas de um país mergulhado nas falcatruas. Enquanto isso, eles continuam com os mesmos privilégios de sempre, as reformas não os atingem.  E em benefícios próprios as emendas e remendos são feitos. E mais uma vez o povo trabalhador é violentando, “rebanhado” e invisível fora das urnas.  Após correr atrás do trio elétrico no ritmo do axé, é aguardar a PEC que entrará na avenida. Frevo? Axé? Samba? Não sabemos ainda o ritmo, mas até então estamos na esperança de que não seja   “quebradeira”, “metralhadora” e nem “sofrência”,  porque esses ritmos baianos já conhecemos.


                                                           Amorim
* Di Cavalcante, Carnaval.

domingo, 12 de março de 2017

Gesto de carinho(conto)

*


Eram duas meninas, negras, magras e lindas. Brincavam com suas bonecas improvisadas, corriam rua acima e rua abaixo para se aquecerem naquele inverno rigoroso.  Sorriam do balançar das árvores, encantadas com aquela pequenina felicidade. As irmãs aprontavam e encantavam.
De repente, a mais velha percebe uma tristeza no rosto da mãe, não entendia o porquê. Mas sentia que a mãe estava triste e murmurando.  Os murmúrios incomodavam-nas,  pois eram repetitivos e  enrolados, mas elas sabiam que eles representavam o aborrecimento.  E elas precisavam fazer algo para vê-la sorrir.
Conversam entre si, até que descobre uma forma de agradá-la, com certeza ela gostaria de receber aquele carinho das filhas.  Pensativas e já deleitando o sorriso que brilharia do rosto da mãe com aquele gesto de carinho, confabulam  qual delas seria a primeira  a expressar o sentimento tão bem guardado...
-É você!
- Eu, não! É você que é mais velha!
- Mãe vai gostar de ouvi primeiro de você que é mais nova!
- Que nada, mãe vai amar quando você for lá primeiro.
E nesse “vai você primeiro” travado pelas duas crianças, uma com sete anos e a outra com cinco, sem chegarem a nenhuma conclusão. A menor aceitou, e foi fazer a primeira investida carinhosa na tentativa de vê-la sorrir. Lentamente entra na cozinha, vê a mãe  fazendo algo junto ao fogão a lenha, tendo a sua irmã mais velha ao seu lado para testemunhar aquela cena tão bem ensaiada entre elas... que logo seria repetida, e a faria comum naquele casebre.
Aproxima-se da mãe, nervosa, pois nunca tivera aquela atitude, com a voz trêmula de emoção diz baixinho:
-Mamãe, a senhora está fazendo a nossa comida, mamãezinha!
A mãe sem olhar para a criança, dá um empurrão de leve e disse:
-Saia daqui, sua idiota, você quer se queimar?
-As duas crianças saem cabisbaixas, e abraçadas deixam as lágrimas caírem. E ali naquele quartinho pobre a  declaração de amor ficou trancada para sempre.

                                          E. Amorim

*imagem livre da web ( nenhuma relação com o texto)

quarta-feira, 8 de março de 2017

VITÓRIA ( crônica)




       Quem defende que a mulher é sexo frágil  desconhece  a história de Maria. Maria poderia passar despercebida em qualquer lugar, mas isso não acontecia. A sua determinação e a vontade de ser feliz não aceitava o conformismo:  mulher nasceu para sofrer e ter uma vida maria.
               Maria tinha tudo para aumentar as estatísticas de depressiva, revoltada,  mas seguiu o caminho inverso. Mesmo sendo vítima de vários tipos de violências, cresce e decide oferecer ao mundo o melhor de si. Estuda, trabalha e nas horas vagas atua como voluntária em uma creche, como  artista já havia feito várias telas das crianças e com a venda revertia o dinheiro para própria instituição.
              No entanto a vida de Maria estava marcada pelas provações, num desses caminhos ela conhece Tormento, uma pessoa  simpática, comunicativa e logo conquista o coração de Maria. Ela  não  entendia como alguém tão simpático, carregava um apelido tão depreciativo.
             Mesmo com namoro recente, Maria começa sentir na pele os primeiros sinais de como Tormento tinha um temperamento explosivo ao consumir bebida alcoólica. Sem  motivo  o jovem quebra um copo, jogando-o contra a parede do restaurante porque achou que alguém havia tocado. Maria se assusta e envergonhada com a exposição pede para ir para casa e ouve novos gritos e palavrões.
          No dia seguinte a borracha havia sido passada, pois Tormento não se lembrava dos vexames  em público. Até a próxima dose... Maria é surpreendida em casa, dessa vez ela ficou com o braço marcado, Tormento queria arrastá-la a força até a lanchonete para afirmar algo perante aos amigos.  Dias depois, um tapa no rosto. Motivo? Nenhum. Apenas Tormento estava de folga enquanto Maria trabalhava, quando ela volta do trabalho é recebida dessa forma, por achar que ela estava se divertindo.
            Tormento sabia que havia passado dos limites, sempre repetiu “ não fui eu, foi a bebida!” Agredir a namorada para provar uma masculinidade, para quem? Ao curar da ressaca ficou quase duas semanas sem aparecer na casa da jovem. Precisava da “amnésia” para encará-la de novo. Sábado,  olhe o Tormento apertando a campainha da casa de  Maria. Insiste.  Até que...
         _ Pois não, senhor?
         _ Quem é você? Onde está Maria?
         _ Maria? Não conheço nenhuma Maria. Sou a nova moradora... Ah, você deve ser o Tormento... Vitória deixou um bilhete para lhe entregar.
       _ Vitória? Não conheço nenhuma Vitória...
       _ Não conhece? Achei que a conhecia...Você tem amnésia, não? Tudo bem, você não deve conhecê-la mesmo não... Tome, isto lhe pertence.
       Ao abrir o bilhete, Tormento muda de cor:
“ Quando estamos precisando testar nossas forças físicas recorremos a uma academia, buscamos um saco de pancada  ou  levantamento de peso... Gente nasceu para ser feliz, vou em busca da minha felicidade.
                                                                    Adeus”
                           
                                                          Maria VITÓRIA


P s: Até hoje  Tormento vive atormentando a  vida de outras  “marias” já que  vitória não é para quem quer, mas para quem conquista.


                               Elisabeth Amorim/ 2014


       Para todas as MARIAS, feliz Dia Internacional da Mulher ! A VITÓRIA é nossa!


sábado, 4 de março de 2017

Mesmo se a porta se fechar...(poesia)




Quero insistir em caminhar para frente,
Fazer o bem, perdoar os que me ofendem
E me julgam  sem cessar,
Quero acreditar que esse país mudará
Mesmo se a porta de fechar...

Que toda intriga, inveja e dor
Não encontre pouso em meu coração
Pois os sonhos são maiores que os problemas
E a  esperança volte a reinar
Mesmo se a porta se fechar...

Vou continuar insistindo, persistindo, sonhando
Com um mundo mais solidário e menos capitalista
Numa distribuição de renda mais justa
Onde não teremos tantos impostos a pagar
Mesmo se a porta se fechar...

E se chover amanhã
Não vou precisar me esconder
Um  banho de chuva irei tomar
O Sol sempre nascerá
Mesmo se a porta se fechar...


Viva o seu dia intensamente,
Ame, namore, cante, dance
Pule, grite, chore e surpreenda
Até quem tentou  te derrubar.
Mesmo se a sua porta se fechar...

Liga não, corra até  janela e não deixe a felicidade escapar.



                                                                            E.  Amorim

quarta-feira, 1 de março de 2017

E o carnaval baiano... todos juntos, mas não misturados (crônica)

                                      


             Parece mentira, mas o nosso país é um país forte,  apesar dos  problemas enfrentados como a operação  lava-jato que levou muitos ricaços para a cadeia, a corrupção, lavagem de dinheiro, impeachment de presidente entre outras coisinhas que arrasam com a economia, vivemos cinco dias de folia dançando, pulando e cantando atrás do trio elétrico.
            É preciso sonhar! É preciso acreditar! É preciso viver cada ritmo, sentir  o calor que emana da multidão que vai às ruas, avenidas, e de certa forma, esquecer os problemas e desfrutar o momento.   Estamos em crise! Mas nem parece, conseguimos manter status muito bem. Fizemos um belo carnaval.
           Esse ano a propaganda do carnaval baiano girou em torno da folia sem corda,  numa tentativa de aproximar os artistas dos foliões.  Carnaval é uma festa mágica! Consegue fazer uma lavagem cerebral em multidão, que depois do carnaval sem cordas, muitos se tornaram íntimos dos famosos, todos juntos pulando na pipoca. Em cima do trio os artistas milionários e correndo atrás do trio vai o povão. Mas tudo bem, carnaval é assim mesmo, todos juntos, nunca misturados.
           O carnaval acabou, mas ficamos nós com a nossa estrela  Ivete Sangalo que muitos insistem em vê-la como “furação baiano”.  Talvez, até seja mesmo, já que ninguém consegue ficar sem se movimentar diante da presença dessa cantora.  Realmente, o carnaval sem cordas deve ter sido bárbaro, estupendo, lucrativo... para quem? Para uma foliã carioca que disse em rede nacional que o carnaval bom é o da Bahia, e imediatamente, moveram céu e terra para localizá-la e trazê-la para cá, com todas as despesas pagas, claro.  E é bom mesmo, a festa acaba, mas a estrela da festa continua sendo nossa.
          E aqui fiquemos nós, com uma quarta-feira morta,  completamente coberta de cinzas.


Literatura de mainha 6 - Afirmação de identidades

 Mais um vídeo para você prestigiar.  Textos básicos; O sapo - Rubem Alves O sapo que não virou príncipe - Elisabeth Amorim