sábado, 30 de janeiro de 2016

O Lamento de um Pássaro (infantil)


Tranquilamente,  eu e minha companheira  sobrevoávamos a  mata.  Eu estava triste e preocupado,  pois as árvores que fazíamos o nosso ninho não estavam mais lá. Minha companheira não tinha o mesmo olhar, aliás todos olham para o mesmo objeto de forma diferente: bichos e  homens não são iguais.  E ela tinha uma vontade de ser  gente,  via o desmatamento como  algo necessário para o crescimento das cidades e aumento de condomínios luxuosos. Eu,  um pássaro  sem ninho, era só preocupação.
Meu nome é Tico e o dela, Doca. Formávamos uma família feliz. Até o dia que Doca me pediu para tirarmos umas férias.  Eu não sabia muito bem o que era isso,   pois desde o amanhecer   até o anoitecer recolhia palhas e alimentos  para melhorar o nosso ninho e a nossa vidinha de pássaro. Mas Doca é uma ave bem moderna, vez ou outra ela me aparecia com um laço vermelho na cabeça.  - Ave linda com ou sem laço! Dizia isso para ela, que  respondia  fazendo um biquinho delicado, jogando um beijinho para mim.
Em comum acordo decidimos não aumentar a família, pelo menos não queríamos filhotes ainda.  Precisávamos de mais segurança, um ninho mais alto e mais bonito. Se viessem filhotes os nossos  planos seriam adiados.   Continuamos voando baixinho em busca de abrigo... Eis que surge uma criança com algo na mão. Pressenti o perigo, dei o sinal para fugirmos de imediato.  Doca não obedeceu, ela queria cada vez mais se aproximar das pessoas e viu naquela criança a sua chance. O meu desespero aumentou  com a ingenuidade de Doca,  gritei:
_ NÃO, DOCA! NÃO POUSE  NO CHÃO!  ELE TEM UMA ARMA, DOCA! NÃO!
Doca não me ouviu... além de pousar tentou se aproximar do menino. Porém,  recebe uma pedrada certeira no peito, saída  daquele  estilingue que ele carregava na mão. Fiquei em desespero, vendo minha companheira no chão, agonizando e eu sem condições de fazer nada.  Vi tudo, a destruição da minha família.  O menino se aproximou de Doca, vira de um lado  para outro e diz:
_ Oh, esse  passarinho ninguém come... bala perdida!
Quando o menino desaparece, volto para  junto da minha Doca. Tantos sonhos que adiamos e não tivemos tempo de realizá-los.  Sonhei com a nossa mata verdinha  e os nossos filhotes comemorando a vida. Queria que ela abrisse os olhos, logo percebi que o seu pequenino coração não batia mais.   A bala perdida  arrancou  não apenas  as asas de Doca, impedindo-a de voar comigo, mas o meu dolorido lamento.
                                              Elisabeth Amorim/ 2016



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