De repente me via empurrada pela multidão
ensandecida. Querendo o melhor preço
daquela suposta promoção “compre um e leve dois”. Coração palpitava mais alto que o barulho das
lojas. Estava na expectativa, de uma hora para outra você surgiria em minha
frente, fazendo-se carne. Arrepiei-me.
Sabia que o sonho seria até durar o
estoque. Natal?! Passaria tão rapidinho que não daria tempo... Não daria tempo
concretizá-lo. Ainda mais quando se
depende de outro que talvez também dependa de mais e mais outros.
São muitos outros no caminho de um sonho tão pequenino...
Finjo olhar as vitrines, assim o brilho
ostensivo das luzes natalinas serviria de um bom disfarce. Essas lâmpadas
pequeninas tem o dom de camuflar as nossas dores. Por quê? Porque as pessoas deixam tudo para o
Natal. E o resultado é esse, lojas
lotadas, pessoas apressadas, e
incrivelmente invisíveis. Esbarram umas
nas outras e seguem adiante. Comigo não foi diferente, pisaram em meu pé. Para
que se desculpar, se é apenas mais um pé que
estava no caminho de alguém?
Canso de andar de lá para cá, de cá
para lá. Sou notada no meio da multidão sem rosto, sem nome, só com os desejos natalinos aflorados. Já havia perdido as esperanças, mas
naturalmente a marca que tinha comigo ficou visível aos seus olhos.
Não foi preciso dizer nada. Os olhos diziam tudo. Sabíamos que um dia
seria assim, num local qualquer, a minha estrela brilharia em cheio em seus
olhos, e atraído como um imã você chegaria até mim. Coincidência ou não,
aconteceu na véspera de natal.
O tempo parou, não tinha mais nenhuma
multidão, apenas alguns empurrões por estarmos obstruindo a passagem... Eu,
você e os nossos sonhos de dias melhores, sonho de um abraço... E um sonho
compartilhado é bem melhor! Para que adiar? Daqui a pouco o Natal passaria e
perderíamos a única, a nossa única chance... E não resistimos por mais tempo,
nos abraçamos...
_ Feliz Natal!
Após aquele caloroso abraço
seguimos apressados e invisíveis em direção oposta.
Elisabeth Amorim
* imagem da web (apenas ilustrativa)
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